Nutrição
O UNICEF trabalha para contribuir com o Brasil na construção de políticas específicas para reverter a desnutrição indígena e incentivar a alimentação e os hábitos saudáveis

O Brasil está diante de um quadro preocupante de má nutrição, que se agravou com a pandemia da covid-19. Esse quadro inclui tanto a insegurança alimentar, quanto o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gordura, sal e açúcar, com baixos teores de nutrientes.
Os reflexos da crise global, provocada pela pandemia, agravaram o cenário de pobreza já estabelecido desde 2014 com a crise financeira que repercutiu no acesso à renda e à alimentação adequada, especialmente das famílias mais vulneráveis. Muitas pessoas perderam o apoio de espaços institucionais, como escolas que ofereciam merendas, e tiveram que centralizar a alimentação nos domicílios. Essa mudança ampliou a incidência de famílias em situação de insegurança alimentar.
Desde o início da pandemia, até maio de 2021, 17% dos brasileiros deixaram de comer em algum momento porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Isso equivale a 27 milhões de brasileiros. O impacto foi mais grave entre as famílias de classe DE, com 33%. Além disso, metade das famílias com crianças e adolescentes (48%) afirma não ter tido acesso à merenda escolar enquanto as escolas estiveram fechadas. Os dados são de estudo realizado pelo UNICEF com o Ipec.
No mesmo período, aumentou o consumo de alimentos pouco saudáveis, em especial entre as populações mais vulneráveis. É o que revela um estudo do UNICEF, lançado em dezembro de 2021, com 1.343 cuidadores de 1.647 crianças menores de 6 anos apoiadas pelo então Bolsa Família em 21 estados. Segundo o estudo, 80% das crianças consumiram ultraprocessados no dia anterior à pesquisa.
O trabalho do UNICEF no Brasil
A nutrição adequada, em especial na primeira infância, é essencial para o crescimento e o desenvolvimento de meninas e meninos. Ela é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento infantil, dentro de uma perspectiva de Cuidado Integral (Nurturing Care), composta por cinco componentes inter-relacionados e indivisíveis: boa saúde; boa nutrição; proteção e segurança; cuidados responsivos; oportunidades de aprendizagem precoce. É a partir desse olhar que o UNICEF trabalha em todo o mundo.
No Brasil, o UNICEF foca seu trabalho em diferentes frentes, incluindo: advocacy pela melhoria das políticas públicas e da legislação voltada ao tema da nutrição; apoio técnico a estados e municípios – por meio de Selo UNICEF e #AgendaCidadeUNICEF e por meio de um projeto-piloto com cartões alimentação para fortalecer programas de proteção social em 13 municípios –, com foco na capacitação de professores, profissionais da saúde e outras áreas; comunicação, com foco na promoção da alimentação saudável de crianças e adolescentes, incluindo incentivo à amamentação exclusiva até os 6 meses, à alimentação saudável de crianças e adolescentes e à boa qualidade da alimentação escolar; apoio direto à população migrante venezuelana, no contexto da crise migratória no norte do País; ações intersetoriais de educação, que impactam, indiretamente, a nutrição.

Em as principais ações, destacam-se:
- Advocacy: Contribuir com o País para o fortalecimento dos sistemas de assistência social, educação e saúde no nível local e a construção de políticas de longo prazo, voltadas ao enfrentamento da insegurança alimentar e ao incentivo ao aleitamento materno e à alimentação e a hábitos saudáveis. O UNICEF também faz advocacy para mudanças na regulamentação do setor de alimentos, bebidas e publicidade dirigida às crianças, promovendo a introdução de rotulagem frontal com informação clara sobre componentes não saudáveis, como açúcar e gordura. Além disso, o UNICEF incentiva a criação de ambientes mais saudáveis nas escolas.
- Apoio técnico – Atuação nos territórios: Por meio de duas estratégias principais, o Selo UNICEF, com foco em aproximadamente 2 mil municípios da Amazônia e do Semiárido, e a #AgendaCidadeUNICEF, focada em oito capitais brasileiras, o UNICEF atua com os municípios no desenvolvimento de iniciativas voltadas à nutrição, centradas especialmente no aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e alimentação saudável de crianças e adolescentes. As ações têm como objetivo enfrentar a má nutrição e atender às necessidades nutricionais de crianças, adolescentes, mulheres grávidas e lactantes. Ações voltadas à capacitação de profissionais de saúde, assistência e educação, com atenção no desenvolvimento infantil e na promoção da alimentação saudável.
- No Selo UNICEF, algumas atividades incluem as Semanas do Bebê e a capacitação e a mobilização de gestores, profissionais e adolescentes para a criação de legislações e ações que promovam as escolas como ambientes saudáveis e de segurança alimentar, por meio da merenda escolar de qualidade, educação nutricional e regulamentação da entrada de alimentos ultraprocessados nas cantinas escolares.
- Nas capitais, as Unidades Amigas da Primeira Infância (Uapis) promovem a capacitação de profissionais de saúde da atenção primária e de educação infantil, incentivando a identificação e o monitoramento adequado do estado nutricional, a promoção do aleitamento materno desde o pré-natal e a promoção da alimentação saudável na primeira infância.
- Além disso, de novembro de 2021 a março de 2022, o UNICEF realizou um projeto-piloto de entrega de cartões alimentação para 4 mil famílias vulneráveis de 13 municípios do Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro. Cada família recebeu um cartão de R$ 200 e materiais com informação qualificada sobre alimentação saudável. Das 4 mil famílias, 1.400 receberam uma segunda transferência de R$ 200 em seus cartões entre abril e maio de 2022. Além do apoio emergencial às famílias naqueles dois momentos, o UNICEF está trabalhando com esses 13 municípios para fortalecer os serviços de assistência social voltados a populações vulneráveis, de modo que as respostas de proteção social sejam mais estruturadas e eficientes para momentos de emergências.
- Comunicação: O UNICEF investe na conscientização da população sobre a importância do desenvolvimento infantil, do aleitamento materno e da alimentação saudável de crianças e adolescentes, trabalhando com a produção e a disseminação de estudos e evidências, e o desenvolvimento de campanhas de comunicação em parceria com adolescentes, sociedade civil, governos e iniciativa privada. Além disso, o Ministério da Saúde conta com uma estratégia de fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó – NutriSUS. O UNICEF apoia o Ministério nas estratégias de comunicação do programa, com materiais informativos sobre o tema, materiais de disseminação entre profissionais e famílias, e um adequação desses materiais pra população indígena.
- Crise migratória: O UNICEF apoia crianças e adolescentes migrantes venezuelanos, em situação de vulnerabilidade. No contexto migratório, o UNICEF apoia ações de avaliação nutricional e identificação precoce de casos de desnutrição infantil seguidos de contínuo monitoramento e encaminhamento para serviços especializados da rede local, monitoramento ativo da suplementação de micronutrientes em gestantes e lactantes; atividades de promoção do aleitamento materno e introdução alimentar, entre outros.
- Educação: Dentro de um olhar intersetorial, o UNICEF trabalha, ainda, com estados e municípios para que realizem a Busca Ativa Escolar, com foco na inclusão escolar – sabendo que a merenda escolar é um dos pontos importantes para a nutrição de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.