No Recife, adolescentes criam campanha contra o preconceito

Desenvolvido em um bairro com alto índice de homicídios, projeto busca reduzir o impacto da violência armada na vida de meninos e meninas

UNICEF Brasil
Foto mostra adolescente usando máscara e uma camiseta do projeto Ibura, Meu Amor. Ele está sentando ao ar livre, em frente a umas palmeiras.
UNICEF/BRZ/Júlia Ferreira Kacowicz
22 outubro 2021

Não ser discriminado simplesmente pelo local onde mora é um dos maiores desejos de Clebson Moura, de 15 anos. Ele é morador do Ibura, na Zona Sul do Recife, bairro que registra um dos maiores índices de homicídios de adolescentes e jovens da cidade. Sempre que diz onde vive, o adolescente sente o peso desse indicador. Ao ingressar no projeto Proteger as Crianças e Adolescentes Impactados pela Violência Armada no Ibura/Recife, realizado pelo UNICEF em parceria com a ONG Etapas, Clebson percebeu que também podia agir para enfrentar esse preconceito e buscar a garantia de seus direitos.

Ele é um dos adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, diretamente beneficiados com formações de empoderamento e exercício de direitos do projeto, com o objetivo de fortalecer a capacidade de identificação e rejeição a crenças e práticas violentas e discriminatórias. “O projeto foi muito importante para que eu pudesse conhecer meus direitos. Existe coisa que acontece e a gente nem percebe”, destaca. A partir das oficinas, o grupo de adolescentes foi estimulado a criar uma campanha para dar visibilidade a outras potencialidades do bairro e de seus moradores. Eles mesmos escolheram o nome: Ibura, Meu Amor.

“O nome tem muito a ver com tirar o preconceito. Queríamos mostrar que não somos violentos, que somos pessoas boas e tudo de bom que também existe aqui”, ressalta Clebson, reforçando que percebe a mudança no rosto das pessoas quando fala onde mora. “É só falar que é do Ibura e já é discriminado. Só queríamos as mesmas oportunidades que os outros. Nós queremos dizer que não somos isso, que aqui não tem só mata-mata”, explica, citando a aposta na informação, nas redes sociais e em ações no dia a dia para transformar a percepção em relação ao bairro.

O projeto, desenvolvido com o apoio local da Federação de Entidades Comunitárias do Ibura e do Jordão, realizou também oficinas de enfrentamento do racismo, de violência baseada em gênero e de comunicação. Além disso, desenvolveu práticas de mediação de conflitos nas escolas, alcançando mais de 300 meninos e meninas. A gestora da Escola Florestan Fernandes, Karla Pereira, que sediou oficinas, destaca a contribuição da iniciativa. “É muito importante que o adolescente se aproprie do bairro e faça dele o que quiser. Se é meu, eu cuido. Ou, do contrário, jogo lixo, picho a escola”, pontua.

Rede – Além de as formações e a atuação direta com adolescentes, o projeto envolve lideranças comunitárias, jovens ativistas, profissionais da gestão municipal e do poder judiciário, entre outros profissionais, como forma de fortalecer a rede de cidadania e participação. O projeto também busca contribuir com o apoio à gestão pública na melhoria da integração dos serviços públicos ofertados aos adolescentes.