Sobrevivência e desenvolvimento infantis
Dar às crianças uma oportunidade de sobreviver e prosperar

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Situação e desafios

Embora a mortalidade infantil tenha diminuído de 89 óbitos por 1000 nados-vivos em 2014 para 51 por 1000 nados-vivos em 2019, esse declínio pode ter sido invertido em 2022. O foco na resposta à covid-19, as greves de profissionais da saúde, as ruturas frequentes de vacinas e medicamentos essenciais, as limitações da governação e os investimentos inadequados, sobretudo à escala comunitária, significaram que muitas mulheres grávidas, mães recentes, lactentes e crianças de tenra idade tiveram acesso limitado a serviços essenciais de saúde materno-infantil nos últimos anos.
Os dados mais recentes mostram que as mortes no primeiro mês de vida representam 43% das mortes de menores de 5 anos, significativamente acima da média da África Ocidental e da África Subsariana.1 Além disso, a Guiné-Bissau tem uma das taxas de mortalidade materna (TMM) mais elevadas do mundo, estimada em 667 por 100 000 nados-vivos.2 Mais de um terço (36%) dos nascimentos são de mães com menos de 20 anos e três quartos dos nascimentos são de mães que deram à luz menos de 2 anos antes.3
Muitas mulheres e crianças carecem de acesso aos serviços de saúde e, quando conseguem chegar a um serviço de saúde, muitas vezes não há qualidade no atendimento.
Cerca de 66% da população tem de caminhar mais de uma hora para chegar ao centro de saúde mais próximo, sobretudo em regiões escassamente povoadas como Bafatá e Gabú,4 ae em 2022, apenas 61% dos partos foram assistidos por profissionais de saúde qualificados, embora essa percentagem tenha aumentando de 42% em 2021. As condições das estradas, geralmente más, degradaram-se ainda mais com as chuvas intensas de 2022, dificultando o acesso a aldeias remotas durante cerca de 4 meses do ano.
Doenças evitáveis, como o paludismo, a diarreia e a pneumonia, continuam a ser importantes causas de mortalidade infantil, sendo responsáveis por 27% das mortes de crianças com menos de 5 anos. As crianças estão particularmente em risco nas áreas urbanas, onde vivem 65% das crianças não vacinadas. O baixo nível de vacinação deve-se sobretudo à inadequação do planeamento e do financiamento dos serviços de extensão para o Programa Alargado de Vacinação (PAV), a greves dos profissionais de saúde e a ruturas de existências de vacinas.
Em 2022, um surto de sarampo com 214 casos confirmados e 12 óbitos agravou um surto de poliomielite que já tinha ocorrido em outubro de 2021, com quatro casos confirmados na capital, Bissau, e na região de Biombo. De forma encorajadora, foi invertido um declínio na cobertura da difteria, do tétano e da coqueluche/tosse convulsa (DPT3); a cobertura caiu de 74% para 71% entre 2020 e 2021, mas em 2022 subiu para 78%.
Tamara trabalha numa das zonas mais problemáticas, o arquipélago dos Bijagós, um conjunto de ilhas e ilhéus espalhados por 2500 quilómetros quadrados do Atlântico ao largo da costa da GuinéBissau. Estava numa das 26 equipas de vacinação, caminhando longas distâncias para assegurar que todas as crianças fossem vacinadas. Houve relatos de equipas de vacinação que viajavam de barco durante horas para vacinar uma única criança numa ilha remota.
“Enquanto enfermeira, tinha de contribuir para evitar a propagação da poliomielite, doença que há muito não ocorria no país”, afirmou Tamara.
Duas campanhas de vacinação contra a covid-19 planeadas para 2022 não chegaram a ocorrer devido a greves de profissionais de saúde; porém, foram feitos planos durante o ano para realizar as campanhas em 2023 a fim de aumentar a cobertura de pessoas totalmente vacinadas dos atuais 25% de toda a população para 50% e a cobertura da “dose única” para 38%.
A desnutrição, um grande desafio de saúde pública na Guiné-Bissau, está associada a níveis elevados de mortalidade materna e infantil. A emaciação entre as crianças com menos de 5 anos é de 5%, e 28% das crianças da mesma faixa etária sofrem de atraso de crescimento. Esses níveis elevados de desnutrição devem-se sobretudo a limitações de conhecimento de práticas adequadas de alimentação das crianças de tenra idade, ao acesso precário a alimentos nutritivos para crianças pequenas, à inadequação da prevenção e do tratamento de doenças com ocorrência frequente na infância, como a diarreia, a pneumonia e o paludismo, bem como à triagem e aos cuidados nutricionais inadequados nas comunidades e unidades de saúde.
A Guiné-Bissau tem a maior taxa de prevalência de VIH na África Ocidental (3% das pessoas dos 15 aos 49 anos vivem com o VIH), ao passo que a cobertura de terapia antirretroviral do país é uma das mais baixas. As mulheres são afetadas de forma desproporcional.
As adolescentes são particularmente vulneráveis, mas a cobertura do tratamento antirretroviral entre as grávidas que vivem com o VIH diminuiu de 66% em 2016 para 57% em 2020
Resultados Principais


Melhorar o acesso a água, saneamento e higiene
Embora a prevalência da defecação a céu aberto tenha diminuído significativamente de 36% em 2000 para 10,3% em 2020,1 é perturbador assinalar que, na realidade, o acesso a água caiu de 75% em 2014 para 67% em 2019.2 Atualmente, 55% dos pontos de água e 82% das fontes de água doméstica estão contaminados com bactérias fecais. Além disso, o acesso a água segura pode piorar em algumas áreas devido às alterações climáticas, conforme os padrões pluviais mudem, resultando no aumento das inundações, das secas e da salinização. Os dados mais recentes (2019) mostraram que, à escala nacional, apenas 16% of households have access to a place that has soap and water for handwashing.
No geral, o acesso precário a água, saneamento e higiene (WASH) constitui um enorme desafio que conduz a problemas de saúde graves, como a cólera e as doenças diarreicas. As doenças diarreicas continuam a ser a segunda principal causa de morbidade e mortalidade entre crianças com menos de 5 anos no país. Além disso, há elementos comprovativos que demonstram que a precariedade dos meios de WASH pode dificultar a recuperação das crianças da desnutrição em consequência da enteropatia ambiental3 (UNICEF, Organização Mundial da Saúde, 2015). Tal pode ser especialmente grave para as crianças de tenra idade e resultar num atraso de crescimento físico e cognitivo ou na morte. A água potável insegura também é particularmente grave para as pessoas que vivem com o VIH devido ao aumento do risco de infeções oportunistas.4
Além disso, o acesso deficiente a ASH está altamente associado ao paludismo, à poliomielite e a algumas das doenças tropicais negligenciadas (DTN) referenciadas pela Organização Mundial da Saúde, como o verme-da-guiné, a esquistossomose (bilharzíase), os helmintos transmitidos pelo solo (nematodes, tricurídeos e ancilóstomos) e o tracoma (um parasita que pode causar cegueira). Estas DTN têm um impacto debilitante nas crianças e nas suas famílias e podem prejudicar o desenvolvimento físico e mental da criança.