Os indicadores da pobreza multidimensional
Renda, alimentação, educação, saneamento, água, moradia, informação e trabalho infantil: confira um resumo dos indicadores

A pobreza multidimensional na infância e na adolescência atingia, em 2019, 63,1% da população brasileira de até 17 anos, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Esse percentual corresponde a 32 milhões de crianças e adolescentes, do total de 50,8 milhões – um contingente maior do que a população de muitos países latino-americanos e que a soma do total de habitantes das sete cidades mais populosas do Brasil.
Esse cenário se tornou ainda mais desafiador por conta da pandemia, porque, apesar dos avanços em determinadas áreas até 2019, entre 2020 e 2022 houve piora em alguns indicadores que compõem a pobreza multidimensional, de acordo com os dados disponíveis analisados pelo UNICEF.

Confira a situação do Brasil nas dimensões que compõem a pobreza multidimensional
Renda
Até 2019, a privação de renda se mantinha relativamente estável no Brasil, com mais de 20 milhões de meninas e meninos vivendo abaixo de um nível mínimo de renda para satisfazer suas necessidades.
Em 2020, com o Auxílio Emergencial, houve uma melhora no percentual de crianças e adolescentes vivendo na extrema pobreza (renda familiar inferior a 1,9 dólar por dia). Esse cenário, no entanto, não se manteve em 2021. O percentual de crianças e adolescentes vivendo na extrema pobreza e na pobreza (renda familiar de menos de 5 dólares por dia) alcançou o maior nível em relação aos anos anteriores: 16,1% e 26,2%, respectivamente.
Alimentação
Na última década, o número de crianças e adolescentes que viviam em domicílios cuja renda familiar era insuficiente para alimentação vinha sendo reduzido. A pandemia, no entanto, reverteu essa tendência de melhora, alterando bastante o cenário.
Entre 2018 e 2021, o percentual de crianças e adolescentes privados de renda familiar necessária para uma alimentação adequada passou de 19,1% para 25,8%. Os percentuais de privação subiram tanto para negros e indígenas quanto para brancos e amarelos. O aumento, no entanto, foi maior para o primeiro grupo (31,2%% ante 17,8%), aprofundando a desigualdade.
Educação
Em 2019, mais de 4 milhões de crianças e adolescentes apresentavam alguma privação no direito à educação no Brasil – frequentavam a escola com atraso escolar ou sem estar alfabetizados, ou estavam fora da escola.
Se, antes da pandemia, o País vinha apresentando pequenas melhorias no acesso a esse direito, com a pandemia, o cenário se inverteu. Houve piora em diferentes indicadores, em especial a alfabetização. Em 2022, estimativas feitas pelo UNICEF a partir da Pnad Contínua Trimestral indicam que dobrou o percentual de crianças e adolescentes privados(as) do direito à alfabetização em relação a 2020, passando de 1,9% para 3,8%. A privação de alfabetização impacta diretamente a aprendizagem e a trajetória escolar dos(as) estudantes, afetando principalmente crianças e adolescentes negros e indígenas, das regiões Norte e Nordeste e meninos.
Saneamento
A falta de acesso ao saneamento – banheiro e rede de esgoto – é uma das privações que mais impactam crianças e adolescentes no Brasil. Segundo os dados da Pnad Contínua 2020 (últimos disponíveis para esse tema), quatro em cada dez meninas e meninos estavam privados desse direito.
Há quase o dobro de crianças e adolescentes negros e indígenas privados do direito ao saneamento no Brasil, em comparação com brancos e amarelos – 47% e 29,7%, respectivamente. O problema é mais grave nas regiões Norte e Nordeste, em que há estados com mais de 80% das crianças e dos(as) adolescentes privados(as) de saneamento.
Água
De modo geral, os percentuais de meninos e meninas privados do acesso a água segura se mantiveram estáveis nos últimos anos. Houve, apenas, uma melhora em 2020 em relação ao cenário mais extremo dessa privação de direito. Com isso, o percentual de crianças e adolescentes que habitavam um domicílio que não recebia água canalizada caiu de 4,6%, em 2017, para 3,5%, em 2020. Já os percentuais de quem recebia água, mas de fonte insegura, ou tinha água apenas na parte externa da casa, se manteve estável.
Moradia
Aproximadamente um(a) em cada dez crianças e adolescentes vive em moradia inadequada no Brasil – viver em uma casa com quatro ou mais pessoas por dormitório, ou cujas paredes e/ou teto são de material inadequado, como madeira aproveitada. Os dados mais recentes disponíveis são de 2020. O problema se concentra no Norte do País, com três estados apresentando indicadores de moradia inadequada superiores a 20% – Amazonas, Amapá e Roraima. E está presente de forma mais acentuada, também, em grandes conglomerados urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, que, apesar dos altos níveis de desenvolvimento socioeconômico, têm mais de 10% das crianças e dos(as) adolescentes vivendo em moradias inadequadas.
Informação
O acesso à internet e à televisão, especialmente o primeiro, apresentou uma melhora estatisticamente significativa nos últimos anos. De 2017 a 2020, o percentual de crianças e adolescentes que acessou a internet em casa no ano anterior à realização da pesquisa (Pnad Contínua) passou de 67,9% para 86,6%.
Os resultados mostram, no entanto, que o acesso a essas tecnologias é ainda muito desigual no País. O percentual de negros e indígenas privados desse direito é quase o dobro em comparação com brancos(as) e amarelos(as), em todos os anos. A disparidade regional também é grande, com percentuais de privação, em geral, abaixo de 5% no Sul e Sudeste, e ultrapassando 20% em alguns estados do Norte e Nordeste.
Trabalho infantil
Os últimos dados disponíveis sobre trabalho infantil na Pnad Contínua são de 2019. Naquele ano, mais de 2 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil no Brasil – excluindo-se aqui meninas e meninos exercendo função de aprendiz, prevista em lei. Entre 2017 e 2019, não houve melhorias significativas nessa área.
Gráficos interativos
Nessa ferramenta interativa, você encontra dados sobre diferentes indicadores: Educação, Saúde, Proteção, Participação eleitoral, Água, saneamento e higiene e Política social. Também pode verificar a situação em cada unidade da Federação.
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