“Hoje tenho noção de identidade e de quem sou”
Moradora de Iguape, Vitória Cristina do Espírito Santo, de 20 anos, defende que o protagonismo da juventude é peça-chave para mudar a sociedade
Desde pequena, Vitória Cristina do Espírito Santo demonstra interesse em saber mais sobre o lugar que ocupa na sociedade. Ainda com 6 anos, ela já se envolvia em projetos sociais realizados em Iguape, cidade onde ainda mora com os pais, dois irmãos e um sobrinho, e, com o passar do tempo, foi acumulando ferramentas para aprender mais sobre si mesma.
Ao longo de sua trajetória, para vencer os preconceitos, Vitória tem se inspirado no exemplo dos pais, sendo que a figura da mãe tem sido essencial no processo de reconhecimento da sua identidade como negra. Com apoio e informação, Vitória transformou a percepção que tinha de si e do mundo, e entendeu que se reconhecer é a principal forma de lidar com o racismo.
“Sou uma pessoa de realidade simples, até mesmo de alguma vulnerabilidade social. Além disso, sofri bullying e isso mexeu comigo e afetou meu desenvolvimento por um tempo, mas hoje tenho noção de identidade, de quem eu sou, de meus ancestrais, da importância do meu cabelo e do poder da minha cor. Tenho um cabelo grandão, cacheado, lindo, maravilhoso. Assim eu me tornei quem eu sou”, explica.
Quando fala de Iguape, a voz de Vitória vem carregada de orgulho e alegria. Simpática e comunicativa, a jovem, hoje com 20 anos, dá uma aula ao descrever a cidade onde mora. A apresentação começa com a importância histórica do município tombado como patrimônio nacional e segue por uma análise da conjuntura socioeconômica da região do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo. A compreensão dos desafios e das potencialidades de seu território ganhou novo significado a partir do engajamento dela na iniciativa Crescer com Proteção.
Lançada em 2020, a iniciativa é realizada pelo UNICEF, em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Agenda Pública e o Instituto Camará Calunga, em oito municípios da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo: Cananéia, Iguape, Ilha Comprida, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e São Vicente. O projeto segue até o final de 2021 e tem por objetivo fortalecer a prevenção e o enfrentamento das diversas formas de violência contra crianças e adolescentes por meio do incentivo à educação, à inclusão de meninas e meninos no mundo do trabalho e à participação dos jovens na construção de políticas públicas.
Vitória ingressou no Crescer com Proteção a partir da criação do Núcleo de Cidadania de Adolescentes e Jovens (Nuca) de Iguape, denominado Nuca Juventude em Movimento, que tem sido um espaço de troca e aprendizado, reunindo meninas e meninos em torno de debates sobre identidade, direitos e participação cidadã no controle social e na construção de políticas públicas. Nos encontros, por ora online, o grupo discute sobre a realidade das juventudes no município, bem como sobre racismo, feminismo, e diferentes formas de violência contra crianças e adolescentes.
Para a jovem, o Crescer com Proteção promoveu uma maior compreensão de seus direitos e indicou de que forma é possível atuar para a garantir a efetivação de políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes no município.
“É de extrema importância trabalhar a participação de jovens e adolescentes. Se em todas as esferas da sociedade nos forem apresentadas oportunidades, se recebermos encorajamento, podemos nos tornar protagonistas de nossas histórias.”
Confiante e disposta a promover mudanças, Vitória desenha planos para o futuro. Com diploma de curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas, a jovem pretende prestar o Enem para Psicologia ou Serviço Social. A ideia é ajudar as pessoas e seguir construindo uma sociedade melhor. “Um dos meus maiores sonhos é ser uma agente de transformação na minha comunidade”, diz.
E a vontade de transformar o mundo é tanta que, além de no Crescer com Proteção, ela atua como voluntária em outros dois projetos do UNICEF – Tamo Junto, UNICEF (#tmjUNICEF) e Um Milhão de Oportunidades (1Mio) –, em que recebeu mentoria e participou de minicursos que tratavam sobre direitos humanos e a realidade de comunidades periféricas.
“Participar do Crescer com Proteção tem me preparado para a vida e me ajudado a ter noção dos meus direitos como cidadã, como jovem, como mulher. Agora eu tenho propriedade e vou correr atrás dos nossos direitos”, conclui.