Conversando com seus filhos e filhas sobre racismo

Dicas para iniciar e manter essa conversa importante

UNICEF
um pai olha nos olhos de sua filha. os dois estão sorrindo.
UNICEF/BRZ/João Ripper
17 novembro 2020

Pode ser difícil conversar com seus filhos e filhas sobre racismo. Alguns pais e mães se preocupam em expor suas crianças a questões como racismo e discriminação em tenra idade. Outros evitam falar sobre algo que eles próprios podem não entender completamente ou não se sentem à vontade para discutir.

No entanto, as questões que organizam os valores sociais e hierarquizam determinados grupos em detrimento de outros já estão presentes desde cedo na experiência de todas as crianças. É preciso lidar com essa realidade e encontrar caminhos adequados de diálogo.

Conversas sobre racismo e discriminação serão diferentes para cada família. Embora não exista uma abordagem única, a ciência não deixa dúvidas: quanto mais cedo pais e mães começarem a conversa com suas crianças, melhor.

Os bebês percebem diferenças físicas, incluindo a cor da pele, a partir dos 6 meses. Estudos demonstraram que, aos 5 anos de idade, as crianças podem mostrar sinais de viés racial, como tratar pessoas de um grupo racial de maneira mais favorável que de outro. Os meios de comunicação, as instituições de ensino, e toda a experiência social nas quais as crianças estão inseridas encontram-se imersas em um racismo estrutural e, por isso, elas vão receber informações sobre os lugares sociais a que supostamente estão “destinadas” as pessoas a partir da cor da pele. Ignorar ou evitar o assunto não protege crianças, ao contrário deixa-as expostas a preconceitos que existem onde quer que vivamos.

Ficar em silêncio não pode ser uma opção

Como falar com seus filhos e filhas sobre racismo

A maneira como as crianças entendem o mundo evolui à medida que crescem, mas nunca é tarde para conversar com elas sobre igualdade, justiça e racismo. Aqui estão algumas maneiras de iniciar essa conversa de acordo com a idade da criança ou do adolescente:

Crianças menores de 5 anos

Nessa idade, as crianças podem começar a perceber e apontar diferenças nas pessoas que veem ao seu redor. Como mãe, pai ou responsável, você tem a oportunidade de estabelecer delicadamente o fundamento de sua visão de mundo. Use uma linguagem apropriada para a idade, de fácil compreensão.

  1. Reconheça e comemore as diferenças – Se sua criança perguntar sobre a cor da pele de alguém, você pode usar essa oportunidade para reconhecer que as pessoas realmente são diferentes, mas também para apontar coisas que temos em comum. Você pode dizer, por exemplo: "As diferenças são uma parte essencial da experiência humana. Cada pessoa é única, e não existe ninguém igual no mundo, não é maravilhoso?"
  2. Esteja aberto(a) – Deixe explícito para a sua criança que você está sempre disponível para responder as perguntas dela e encoraje-a a sempre perguntar tudo o que quiser. Se ela apontar pessoas diferentes – como as crianças pequenas costumam fazer por curiosidade –, evite calá-la ou ela vai acreditar que esse assunto é um tabu. Explore o que ela pensa sobre a diferença e vá "corrigindo" até que ela entenda que não é correto julgar ou comparar diferenças. E, se ao contrário, ela tiver sofrido uma situação de discriminação, encoraje-a a conversar e acolha seus sentimentos direcionando-os para um campo de valorização e positivação do tópico que tenha sido motivo de depreciação (cabelo, cor da pele, outro característica fenotípica, etc.)
  3. Fale sobre justiça – As crianças, especialmente por volta dos 5 anos de idade, tendem a entender muito bem o conceito de justiça. Fale que o racismo é injusto e que devemos combatê-lo. Use exemplos de atitudes certas ou erradas, sobre acesso a direitos e deveres de cada um ou uma, incluindo ela mesma. Fale sobre empatia.

Tudo bem se você não tiver todas as respostas

Crianças de 6 a 11 anos

As crianças dessa idade já conseguem falar melhor sobre seus sentimentos e estão ansiosas por respostas. Elas também estão ficando mais expostas a informações que podem achar difíceis de processar. Comece entendendo o que elas já sabem.

  1. Seja curioso(a) – Ouvir e fazer perguntas é o primeiro passo. Por exemplo, você pode perguntar o que elas estão ouvindo/vendo na escola, na televisão e nas redes sociais. Perguntar sobre como foi o seu dia na escola ou sobre como foram as brincadeiras com os amiguinhos(as) ou que ela fale sobre os(as) amigos(as) com quem brinca.
  2. Converse sobre as mídias – As redes sociais e a internet podem ser algumas das principais fontes de informação de seus filhos e filhas. Mostre interesse no que eles estão lendo e nas conversas que estão tendo online. Encontre oportunidades para explorar exemplos de estereótipos e preconceitos raciais na mídia, como, por exemplo, "Por que certas pessoas são retratadas como vilões enquanto outras não?". Procure ajudar a criança a desenvolver um senso crítico contra o racismo e também a reconhecer e valorizar as referências culturais negras, indígenas e não brancas.
  3. Fale abertamente – Ter discussões honestas e abertas sobre racismo, diversidade e inclusão gera confiança em seus filhos e filhas, incentiva-os a chegar até você com perguntas e preocupações. Se virem você como uma fonte confiável de aconselhamento, é provável que se envolvam mais com você nesse tópico.


Adolescentes (acima de 12 anos)

Adolescentes são capazes de entender conceitos abstratos mais claramente e expressar seus pontos de vista. Podem saber mais do que você pensa e têm fortes emoções sobre o assunto. Tente entender como se sentem e o que sabem e mantenha a conversa em andamento.

  1. Saiba o que seus filhos e filhas sabem – Descubra o que sabem sobre racismo e discriminação. O que ouviram no noticiário, nas redes que navegam, na escola, nas disciplinam que estudam ou de amigos? Quais experiências viveram em relação a sua raça, sua etnia, sua religião ou suas tradições culturais? Como se identificam e o que sentem sobre isso?
  2. Faça perguntas – Encontre oportunidades, como notícias nos telejornais, para conversar com seus filhos e filhas sobre racismo. Pergunte o que pensam e apresente-lhes diferentes perspectivas para ajudar a expandir sua compreensão.
  3. Encoraje a ação – Ser ativo nas redes sociais é importante para muitos adolescentes. Alguns podem ter começado a pensar em participar do ativismo online. Incentive-os a fazê-lo como uma maneira ativa de responder as questões raciais e se envolver com elas.


Valorize a diversidade

Tente encontrar maneiras de apresentar para seus filhos e filhas diversas culturas e pessoas de diferentes raças e etnias. Tais interações positivas com outros grupos raciais e sociais logo no início ajudam a diminuir o preconceito e incentivam mais amizades entre grupos.

Você também pode trazer o mundo exterior para sua casa. Explore alimentos de outras culturas, leia suas histórias e assista a seus filmes. Amplie a bagagem literária de seus filhos e filhas, introduzindo autores, escritores africanos da literatura infanto-juvenil, histórias, romances não ficcionais, entre outros.

Esteja consciente do viés racial em livros e filmes e procure aqueles que retratam pessoas de diferentes grupos raciais e étnicos sob uma perspectiva dos direitos humanos e democrática.

Estimule seus filhos e filhas para que pensem sob a perspectiva da diversidade,

Explore o passado juntos para entender melhor o presente. Eventos históricos como as lutas quilombolas, a Revolta dos Malês, o fim do apartheid na África do Sul e o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos podem mostrar como as pessoas se uniram com sucesso pela igualdade e pela justiça. Essas experiências compartilhadas podem ajudar ainda mais seus filhos e filhas a criar confiança e abertura a diferentes perspectivas. Procure também os exemplos mais próximos da história do seu território, de sua região e da sua própria família. Conheça a história dos seus antepassados.

Evite o conceito de “os outros”

Você é o exemplo que seus filhos e filhas seguem

Pais e mães são a porta de entrada das crianças no mundo. O que elas veem você fazer é tão importante quanto o que elas ouvem você dizer.

Como a linguagem, o preconceito é aprendido no processo de aculturação da criança. Para ajudar seus filhos e filhas a reconhecer e enfrentar o racismo e a discriminação, você deve primeiro refletir sobre os seus próprios preconceitos.

Aproveite todas as oportunidades para desafiar o racismo, demonstrar gentileza, empatia e defender o direito de cada pessoa a ser tratada com dignidade e respeito.