Protegendo as crianças mais vulneráveis do impacto do coronavírus: uma agenda de ação
É urgentemente necessária uma coordenação global para impedir que esta crise de saúde se transforme em uma crise dos direitos da criança
A pandemia da doença do coronavírus (covid-19) é de uma escala que a maioria das pessoas vivas hoje nunca viu. Em todo o mundo, o surto está reivindicando vidas e meios de subsistência, à medida que os sistemas de saúde ficam sobrecarregados, as fronteiras são fechadas e as famílias lutam para permanecer à tona.
>> Ações do UNICEF no Brasil em resposta à covid-19
Comunidades em todo o mundo estão enfrentando o desafio – de profissionais de saúde arriscando a vida para combater o vírus a jovens implementando maneiras inovadoras de compartilhar mensagens de saúde pública.
No entanto, mesmo que a propagação do vírus diminua em alguns países, seu preço social virá rapidamente e será caro. E em muitos lugares, isso acontecerá às custas das crianças mais vulneráveis.
Sem uma ação urgente, esta crise de saúde corre o risco de se tornar uma crise de direitos da criança.
As perturbações da sociedade têm um forte impacto sobre as crianças: na sua segurança, no seu bem-estar e no seu futuro. Somente trabalhando juntos podemos manter milhões de crianças e adolescentes – incluindo aqueles que foram desenraizados por conflitos, crianças vivendo com deficiência e meninas em risco de violência – saudáveis, seguros e aprendendo.
O UNICEF pede uma ação global rápida para:
1. Manter as crianças saudáveis
Os esforços internacionais para fortalecer os sistemas de saúde – garantindo que os suprimentos e equipamentos de proteção cheguem às comunidades afetadas e capacitando os profissionais de saúde para prevenir, diagnosticar e tratar a doença por coronavírus – serão um longo caminho para combater o vírus. Mas os sistemas de saúde sobrecarregados ameaçam mais do que aqueles que adoecem com a covid-19.
Nas partes mais pobres do mundo, as crianças que precisam de serviços básicos, porém essenciais – incluindo aqueles para proteção contra doenças como pneumonia, malária e diarreia –, correm o risco de não recebê-los. À medida que os sistemas de saúde se retesam, bebês e crianças perdem a vida por causas evitáveis.
O UNICEF pede aos governos e parceiros que mantenham serviços vitais de saúde materna, neonatal e infantil. Isso significa continuar atendendo às necessidades urgentes da covid-19, enquanto realizam intervenções críticas de saúde, como financiamento para vacinas, que garantem que as crianças sobrevivam e prosperem. Nossa resposta à covid-19 deve ser uma que fortaleça os sistemas de saúde a longo prazo.
2. Alcançar crianças vulneráveis com água, saneamento e higiene
Proteger nós mesmos e os outros por meio de práticas adequadas de lavagem das mãos e higiene nunca foi tão importante. Mas, para muitas crianças, as instalações básicas de água e higiene permanecem fora de alcance.
Algumas crianças não têm acesso a água potável porque vivem em áreas remotas ou em locais onde a água não é tratada ou é poluída. Outras crianças não têm acesso a instalações porque estão sem casa, morando em uma favela ou na rua.
O UNICEF apela aos governos para que priorizem essas crianças. E pede urgentemente financiamento e apoio para que possa alcançar mais meninas e meninos com instalações básicas de água, saneamento e higiene.
3. Manter as crianças aprendendo
À medida que as escolas ao redor do mundo são fechadas para impedir a disseminação do coronavírus, mães, pais, cuidadores e educadores têm se adaptado, encontrando novas maneiras de manter as crianças aprendendo. Mas nem todos os meninos e meninas têm acesso a internet, livros ou material escolar.
Devemos fazer mais para garantir que todas as crianças tenham igual acesso à aprendizagem. O UNICEF pede aos governos que ampliem as opções de aprendizado em casa, incluindo soluções sem tecnologia e de baixa tecnologia, e priorizem a conectividade com a internet em áreas remotas e rurais. Com mais de 800 milhões de crianças fora da escola, agora não é hora de desviar o financiamento nacional destinado à educação. O UNICEF e seus parceiros continuarão a trabalhar juntos para manter as crianças aprendendo, não importa onde estejam.
4. Apoiar as famílias para cobrir suas necessidades e cuidar de suas crianças
O impacto socioeconômico da covid-19 será sentido pelas crianças mais vulneráveis do mundo. Muitas já vivem na pobreza, e as consequências das medidas de resposta à covid-19 correm o risco de mergulhá-las ainda mais em dificuldades.
À medida que milhões de pais e mães lutam para manter seus meios de subsistência e renda, os governos devem ampliar as medidas de proteção social – programas e políticas que conectam as famílias aos cuidados vitais de saúde, nutrição e educação.
A proteção social inclui transferências de renda e apoio a alimentação e nutrição. Inclui governos ajudando a proteger empregos e trabalhando com empregadores para apoiar adequadamente pais e mães que trabalham.
Sem uma ação urgente para mitigar os impactos sociais e econômicos do surto do coronavírus e resposta à covid-19, dezenas de milhões de crianças que já vivem à beira das dificuldades cairão na pobreza.
5. Proteger as crianças contra a violência, a exploração e o abuso
À medida que o ritmo das comunidades é alterado, as crianças que já correm risco de violência, exploração e abuso se tornam ainda mais vulneráveis.
A turbulência social e econômica aumentará o risco entre as meninas de casamento precoce, gravidez e violência. Com o isolamento, as crianças e os adolescentes que enfrentam violência em casa ou online estarão mais afastados da ajuda. E o estresse e o estigma da doença e da tensão financeira exacerbarão situações familiares e comunitárias voláteis.
Devemos impedir que essa pandemia se transforme em uma crise de proteção infantil. Os governos precisam levar em conta os riscos exclusivos de meninas e de crianças e adolescentes vulneráveis, incluindo aqueles que enfrentam discriminação e estigma, ao planejar o distanciamento social e outras medidas de resposta à covid-19. Devemos apoiar meninas e meninos que podem ser temporariamente separados de seus pais devido a doenças e trabalhar juntos para nos preparar para uma onda daqueles que procuram soluções remotas de proteção e saúde mental.
6. Proteger as crianças refugiadas e migrantes e as afetadas por conflitos
Todos os dias, crianças refugiadas, crianças migrantes e crianças afetadas por conflitos enfrentam ameaças indizíveis a sua segurança e seu bem-estar – e isso na ausência de uma pandemia. Para muitos desses meninos e meninas, o acesso a cuidados e instalações básicas de saúde é extremamente limitado, enquanto as condições de vida restritas tornam inviável o distanciamento social.
As necessidades humanitárias não devem ser esquecidas durante a resposta à covid-19. O secretário-geral das Nações Unidas pediu um cessar-fogo global para concentrar nossa luta em um inimigo comum, que não conhece fronteiras. Os sistemas de saúde nos países devastados pela guerra já estão à beira do colapso. Cabe à comunidade global se unir em apoio às crianças mais vulneráveis – aquelas que são arrancadas de suas famílias e casas – para defender seus direitos e protegê-las da propagação do vírus.
O que o UNICEF está fazendo?
Nossa resposta à doença do coronavírus deve construir um futuro melhor para todas as crianças. Em todo o mundo, o UNICEF está trabalhando com comunidades, governos e parceiros para diminuir a propagação do coronavírus e minimizar os impactos sociais e econômicos nas crianças e suas famílias.
Nós nos comprometemos a:
- Trabalhar com governos, autoridades e parceiros globais de saúde para garantir que suprimentos vitais e equipamentos de proteção cheguem às comunidades mais vulneráveis.
- Priorizar a entrega de medicamentos, nutrição e vacinas vitais, e trabalhar em estreita colaboração com governos e redes de logística para mitigar o impacto das restrições de viagem na entrega desses suprimentos.
- Trabalhar com parceiros para distribuir urgentemente instalações de água, saneamento e higiene para as comunidades mais vulneráveis.
- Distribuir mensagens e recomendações vitais de saúde pública para retardar a transmissão do vírus e diminuir a mortalidade.
- Apoiar os governos para manter as escolas seguras e garantir que as crianças continuem aprendendo.
- Fornecer aconselhamento e apoio a mães, pais, responsáveis e educadores para apoiar o aprendizado em casa e a distância, e trabalhar com parceiros para projetar soluções educacionais inovadoras.
- Orientar os empregadores sobre a melhor forma de apoiar pais e mães que trabalham e projetar novas soluções de proteção social que garantam que as famílias mais pobres possam acessar financiamento crítico.
- Proporcionar aprendizado e compartilhamento de informações entre pares para apoiar a saúde mental das pessoas jovens e combater o estigma, a xenofobia e a discriminação.
- Intensificar nosso trabalho com crianças refugiadas e migrantes e com aquelas afetadas por conflitos para garantir que estejam protegidas da covid-19.
Ações do UNICEF no Brasil
Desde março de 2020, o UNICEF vem trabalhando intensamente para mitigar os impactos da pandemia de covid-19 na vida de crianças e adolescentes no Brasil. Eles são as vítimas ocultas da pandemia, sofrendo gravemente as consequências dela.
A resposta do UNICEF à covid-19 foi desenhada para contribuir com a prevenção, a detecção precoce e o controle do novo coronavírus no País; e reduzir os impactos da epidemia na vida de meninas e meninos, no curto, médio e longo prazos.
Ao longo desses seis primeiros meses, o UNICEF analisou dados socioeconômicos e epidemiológicos para definir áreas prioritárias de atuação, chamadas de hotspots. São territórios especialmente vulneráveis aos efeitos duradouros da pandemia, como evasão escolar e aumento da pobreza e da violência contra crianças e adolescentes.