"Todo artista tem que ir aonde o povo está"
Ao nascer, Ângelo não recebeu as primeiras vacinas, e foi para casa desprotegido. Graças à Busca Ativa Vacinal, o bebê recebeu as quatro vacinas de que precisava

Era um dia muito quente quando Gilmara Gomes de Souza, agente comunitária de saúde, foi até a casa de Ângelo Matheus Dias, 2 meses, em Baturité, no estado do Ceará. Na visita, a agente detectou que a carteirinha de vacinação do bebê precisava ser atualizada com quatro vacinas. Quando nasceu, o menino não recebeu as primeiras vacinas, pois não estavam disponíveis no hospital. Ao voltar para casa, a mãe estava sobrecarregada, e não conseguiu ir ao posto de saúde.
Ângelo vive com o irmão, Antony Miguel, 2 anos, a mãe, Taviana de Lima Dias, o pai e a avó no bairro Beira Rio. Durante a pandemia, a família passou por momentos difíceis. O avô, principal provedor financeiro, faleceu de covid-19. O medo de doenças e inseguranças sobre o futuro fizeram com que a família descuidasse da saúde.
“A Taviana e sua família sempre moraram na minha área de atuação, então acompanho eles há muito tempo. Durante a pandemia, criamos um elo de amizade muito forte. Nas visitas, pedia para eles fazerem exames e irem ao médico, mas eles não iam. Com o tempo e conversas constantes, eles entenderam a importância da prevenção e imunização por meio das vacinas”, conta Gilmara.
O receio da vacina sondava os pensamentos de Taviana. “Acabei atrasando a vacina de Ângelo, eu fico com dó dele levar picadas, mas entendi que é muito importante, pois as crianças ficam muito expostas a doenças”, diz Taviana.

A visita de Gilmara à casa de Ângelo é parte de um grande esforço: a Busca Ativa Vacinal, iniciativa do UNICEF para apoiar os municípios na garantia da imunização infantil. Em Baturité, o município colocou em prática o esforço integral e intersetorial, fazendo com que a imunização das crianças ultrapassasse os muros dos postos de saúde e alcançasse diferentes locais e serviços. Em articulação com a Secretaria de Educação, o município passou a vacinar também em creches.
“Por meio da Gilmara, agente comunitária de saúde, detectamos que o Ângelo estava com a vacina atrasada. Encaminhamos para o lugar mais próximo da residência dele para vacinação: a creche. Vacina atrasada é vulnerabilidade para doenças. E vacina boa é vacina que vai para o braço. Buscamos as crianças onde quer que elas estejam, afinal, todo artista tem que ir aonde o povo está”, fala Liwana Yakima, enfermeira e coordenadora da Busca Ativa Vacinal em Baturité.
Em março de 2023, Ângelo tomou as quatro vacinas que estavam atrasadas no Centro de Educação Infantil (CEI) Rocilda Germano Arruda: VIP [vacina contra poliomielite], VORH [vacina oral contra o rotavírus humano], pentavalente e pneumo. Taviana ficou mais tranquila depois que o filho recebeu as doses de vacinas que estavam pendentes. “A rotina com duas crianças é muito complicada. É muito bom saber que ele está sendo assistido e bem cuidado”, diz.
“Nós sabemos que, dentro da saúde, não fazemos nada sozinho. Se não houver essa rede de apoio, muita coisa se perde pelo caminho. Por isso, a intersetorialidade é fundamental para o cuidado com a saúde. Acolhimento, acessibilidade e empatia também são fundamentais para que as famílias se sintam seguras em confiar em nós”, explica Liwana.
A parceria entre saúde e educação foi fundamental para Ângelo estar imunizado. “Nossa escola apoia a saúde na identificação das crianças que estão sem vacina. Além disso, apoiamos as famílias, fornecendo o espaço para maior comodidade daqueles que vivem aqui perto, pois muitos pais trabalham e não têm tempo de ir ao posto vacinar, então a saúde vem até a escola”, relata Claudiele da Costa Nascimento, coordenadora pedagógica do CEI Rocilda Germano Arruda.

Busca Ativa Vacinal – O município de Baturité faz parte do Selo UNICEF, uma das principais iniciativas do UNICEF no Brasil para garantir os direitos de meninas e meninos. Baturité é um dos quatro municípios onde foi realizado o projeto-piloto da iniciativa Busca Ativa Vacinal (BAV).
A BAV é uma iniciativa do UNICEF para apoiar os municípios na garantia da imunização infantil. Usa uma metodologia social e uma ferramenta tecnológica – que será disponibilizada gratuitamente para municípios – e contribui para identificar crianças menores de 5 anos com atraso vacinal ou não vacinadas; estabelecer estratégias para encaminhamento delas aos serviços de saúde e atualizações de vacinação; monitorar as coberturas vacinais; acompanhar a situação vacinal da população-alvo; e identificar e responder a vulnerabilidades que levam à não vacinação. A estratégia incentiva a participação de diferentes áreas na BAV – como Educação, Saúde, Assistência Social, entre outras –, fortalecendo a rede de garantia de direitos. Para a iniciativa, o UNICEF conta com parceria estratégica da Pfizer e apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.