“A Sofia vai para o CMEI e eu vou para minha escola”
Com a ajuda da Busca Ativa Escolar, Letícia conseguiu uma vaga para sua bebê na creche, e assim pôde voltar para a escola

Estar na escola, aprendendo, é direito de cada criança e cada adolescente. Mas nem sempre esse direito é protegido e assegurado. Quando a pequena Sofia nasceu, Letícia Araújo da Cunha estava com 15 anos. A adolescente vive com a avó e uma irmã mais nova em Aparecida do Rio Negro, no Tocantins, e queria muito se manter na escola.
As aulas se iniciaram, Letícia se matriculou em uma escola estadual, mas os desafios começaram a aparecer. “Foi feita a matrícula dela, mas disseram que não aceitavam ela com a menina”, conta a avó Terezinha Almeida Cunha, que tem problemas de saúde e não conseguiria cuidar da bisneta sozinha. Sem opção, Letícia começou a levar a filha consigo para a aula. “Eu levava a Sofia para a escola de vez em quando, mas teve uns dias em que eu estava levando direto. Aí, fui chamada para conversar. Perguntaram porque eu estava levando a Sofia todos os dias. Expliquei que não tinha ninguém que olhasse ela. Aí, eu resolvi sair da escola”, diz a adolescente.
Alguns meses se passaram até que a história de Letícia e Sofia chegasse aos ouvidos da equipe de Busca Ativa Escolar do município. Começava aí todo um trabalho em rede para que as duas meninas tivessem seus direitos garantidos. “Primeiramente, recorremos ao Conselho Tutelar, que procurou a Letícia, juntamente com a sua filhinha. Corremos atrás também da Secretaria Municipal de Assistência Social, e ela nos deu total apoio. Foi aí que começou nosso processo até acolher a Letícia e sua filhinha”, conta Valquires Maria Maciel Parente, secretária municipal de Educação de Aparecida do Rio Negro.
Na mesma semana, a conselheira tutelar Maisa Batista de Oliveira foi bater à porta da casa para conversar com Letícia e sua avó. “A gente foi até lá, falamos sobre os direitos dela. Dissemos que ela tinha o direito de estudar, de voltar para a escola, que isso está no Estatuto da Criança e do Adolescente. Falamos, também, que o município poderia auxiliar ela e a bebê”, conta ela. Na mesma hora, Letícia abriu um grande sorriso e disse que aceitava a ajuda.
Havia dois desafios principais. O primeiro era uma questão logística: para que Letícia conseguisse voltar à escola, era preciso encontrar uma vaga para Sofia em uma creche no mesmo horário, e pensar em como a adolescente faria para levá-la e buscá-la.
“A solução que encontramos foi colocar as duas no período da tarde. Perto da casa da Letícia, está o CMEI Aquarela. O município oferta transporte escolar urbano para todos os estudantes, e o ônibus passa na rua do CMEI. Então, organizamos assim: a Letícia leva a Sofia no colo até o CMEI. De lá, ela entra no ônibus e vem até a escola”, explica Leonice Brasil Coelho, coordenadora de Projetos Educacionais e Coordenadora Operacional da Busca Ativa Escolar no município.
Surgiu aí o segundo desafio: a idade da bebê. Naquele momento, Sofia tinha pouco mais de 1 ano, e o município contava apenas com centros de educação infantil para crianças a partir de 2 anos. Foi então que entrou em ação a assistência social, em um trabalho conjunto com a educação. “Nós sabemos que, legalmente, ela ainda não tem a idade, mas conversamos com o prefeito e ele autorizou. Conversamos, então, com a diretora e a coordenadora do CMEI Aquarela, explicamos a situação e elas prontamente se colocaram à disposição para ajudar”, conta Luísa Pereira de Carvalho, secretária municipal de Assistência Social.
Todos sabiam que seria necessário um esforço um maior do CMEI para a adaptação de uma bebê um pouco mais nova, mas estavam dispostos a ajudar. “A Sofia veio para o CMEI e acolhemos ela aqui de imediato”, explica Maria Goreth Barbosa, orientadora educacional do CMEI Aquarela. “Hoje, a Sofia está plenamente adaptada ao CMEI, e estamos felizes de ter feito parte desse processo de busca ativa dela e da Letícia também” comemora Célia Barbosa de Araújo, diretora do CMEI.

“No mesmo dia em que eu fiz a matrícula na rede municipal, eu fui para a escola. E, no mesmo dia, eles arrumaram para a Sofia ficar no CMEI. Aí foi bom!”, comemora a adolescente, que está animada em voltar.
O empenho de Letícia é visível para os professores. “A Letícia gostou de mim de primeira e já começou a prestar atenção nas minhas aulas. Ela tem interesse, ela busca, vai atrás”, comenta a professora de Matemática Alvina Alves dos Anjos. Tranquila, sabendo que a filha está segura e bem cuidada na creche, Letícia agora foca em recuperar o tempo perdido e aprender. “Eu quero ser policial, mas, daqui a uns anos, vai que eu mudo de pensamento. Pretendo fazer faculdade, fazer cursos. Deu tudo certo, agora, a Sofia vai para o CMEI e eu vou para minha escola”, diz ela, animada.
Sobre a Busca Ativa Escolar
A Busca Ativa Escolar é uma iniciativa do UNICEF e da Undime, com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Para a Busca Ativa Escolar, o UNICEF conta com os parceiros estratégicos B3 Social, BRK Ambiental, EDP, Grupo Profarma, Itaú Social, NEOOH, com o parceiro Bracell e o apoio de Oriba.
Selo UNICEF
O município de Aparecida do Rio Negro está participando da edição 2021-2024 do Selo UNICEF. Ao se inscrever no Selo, os municípios se comprometem a implementar políticas públicas para redução das desigualdades e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. Entre elas, está a implementação da Busca Ativa Escolar, indo atrás de cada criança, cada adolescente que está fora da escola, ou em risco de evasão, tomando todas as medidas para garantir a matrícula e a permanência na escola, aprendendo.