“Quero participar de mais projetos como este”

Durante o Chama na Solução 2022, Gabriel da Silva, de 15 anos, propôs ações de enfrentamento da pobreza menstrual para garantir a permanência de meninas na escola

UNICEF Brasil
Foto mostra um adolescente sentado no degrau de uma escadaria. Ele está olhando para a câmera, sorrindo.
UNICEF/BRZ/Escola de Notícias/Pedro Medeiros
29 junho 2022

Gabriel Feitosa da Silva, 15 anos, nasceu em Manaus, mas mora em São Paulo há dois anos com a mãe, Débora, e com o irmão, Igor, de 29 anos, que ele chama de pai. “Meu pai [biológico] faleceu quando eu tinha 4 anos. Desde então sempre chamei meu irmão de pai”, conta. Seu dia normalmente começa cedo. Acorda por volta das 5h da manhã, toma café e vai para a escola ainda ao amanhecer, retornando para casa pouco antes das 14h. Nas horas restantes, Gabriel sempre encontra alguma outra atividade para inserir na sua rotina. Gosta de se ocupar com atividades diversas, sejam elas formativas ou recreativas.

Gabriel tem a mãe e o irmão mais velho como grandes incentivadores. A mãe, que tinha um restaurante em Manaus, hoje trabalha em uma confeitaria. O irmão é músico e foi quem convenceu a família a mudar para São Paulo. “Ele faz rima no vagão, mas também faz jingle e letras de rap, de sertanejo, entre outros estilos. Também vai para batalha de rap. Ele é inquieto como eu”, conta o adolescente.

Foi por influência de Igor que Gabriel aprendeu a gostar de ler, a procurar oportunidades de desenvolvimento e que o adolescente ficou sabendo do Chama na Solução.

O Chama na Solução São Paulo 2022 tem como proposta principal capacitar adolescentes e jovens para o desenvolvimento de iniciativas de intervenção em seus territórios. Para isso, propõe debates sobre diversas temáticas ligadas à prevenção e ao enfrentamento das diversas formas de violências contra adolescentes e jovens. “Antes de criarmos um projeto, tivemos formações online para aprender sobre machismo, racismo, xenofobia. Aprendi muita coisa que não sabia, como leis e meus direitos. Quero continuar participando de projetos como este, que me ensinou muita coisa boa”, afirma.

Gabriel reforça que, infelizmente, a maioria das pessoas não conhece seus direitos. “As pessoas não tiveram oportunidade de aprender e ninguém que pudesse ensinar. Na escola mesmo a gente não aprende isso. Muita gente não vai atrás dos seus direitos. Meu pai faleceu, eu tinha direito à pensão e eu não peguei porque não sabia que tinha direito”, conta.

Como o tema central da iniciativa é a prevenção e o enfrentamento de violências cotidianas, Gabriel e os outros 49 adolescentes e jovens participantes do Chama na Solução São Paulo 2022 desenvolveram soluções com foco nos territórios onde vivem. “O projeto do meu grupo é o “E.e.dem” e é contra a evasão escolar de meninas. Entre as ações, nós fizemos a distribuição de absorventes e organizamos algumas palestras. Nós pensamos em várias propostas e vimos que ninguém estava discutindo esse tema. Existe muita menina que deixa de ir para a escola por atividades domésticas ou porque não tem absorventes durante o período menstrual”, explica Gabriel

“Isso acontece em muitas escolas públicas. Acontecia em Manaus e acontece aqui. É uma situação de calamidade”, destaca Gabriel, reforçando a necessidade de políticas públicas que atendam à demanda de meninas e mulheres de todo o País e a importância da permanência na escola para a prevenção das múltiplas formas de violências contra adolescentes e jovens.

O grupo de Gabriel é composto majoritariamente por meninas. Para ele, as trocas em grupo permitiram diversas aprendizagens. “Eu achei legal porque elas me ouviram e eu as ouvi”.

Sobre o futuro, ele vê diversas possibilidades, a maioria com enfoque no bem-estar da sua comunidade, promovendo iniciativas educacionais ou de lazer, como escolinha de futebol, biblioteca ou promoção de batalhas de rap. “Muitos adolescentes jovens acabam fazendo algumas escolhas porque não têm oportunidades”, afirma.

Além disso, compreender melhor os seus direitos e os direitos coletivos trouxe a Gabriel uma vontade futura de ser um agente de segurança pública. “Existem muitas abordagens injustas que tratam as pessoas de maneira errada. O que nos define não é o nosso estilo ou a nossa cor. É a nossa personalidade e o que a gente quer ser”, conclui Gabriel.