Para mãe e filho, acesso à água é razão para sorrisos – e a melhor forma de combater o coronavírus

Com novas estruturas para lavar as mãos, José, 8 anos, já não precisa da ajuda de um adulto para combater a Covid-19 na ocupação onde vive com a mãe. Instalações vão beneficiar 2,5 mil migrantes e refugiados da Venezuela em Roraima

UNICEF Brasil
mulher e criança sorriem para foto
UNICEF/BRZ/Daniel Tancredi
29 maio 2020

Jenny Márquez, 38 anos, está contente porque a ocupação informal onde vive em Boa Vista, Roraima, ganhou novas estruturas para a lavagem de mãos. Mas a migrante venezuelana, que vive há cerca de um ano no Brasil, reconhece que é o filho José Gregório, de 8 anos, quem mais está tirando proveito das novas estruturas. “As crianças daqui ficaram todas felizes porque agora existe um local da altura delas em que elas conseguem usar a água diretamente da torneira, sem precisar da ajuda dos pais. Mas é nosso trabalho ensiná-las sobre como utilizar de forma adequada”, afirma.

Jenny se refere aos novos cuidados que precisam ser tomados por causa da Covid-19 na ocupação espontânea Embratel, terreno onde cerca de 70 famílias improvisaram moradias para viver. Com casas pequenas e próximas umas às outras, o distanciamento social é um desafio. E sem infraestrutura, o acesso à água era um dos maiores gargalos para a prevenção da transmissão do vírus.

Antes das estruturas de lavagem de mãos instaladas pelo UNICEF e seu parceiro Adra, havia apenas três torneiras disponíveis no terreno, compartilhadas pelas famílias para encher baldes e levar água para casa. O acesso restrito à água gerava grandes filas.

um menino lava aos mãos e observado por outro menino
UNICEF/BRZ/Yareidy Perdomo
Crianças lavam as mãos na nova estrutura instalada na ocupação Embratel, em Boa Vista. Meninos e meninas já não precisam pedir ajuda a adultos para ter acesso à água e combater a Covid-19.

Daí que as novas estruturas instaladas na ocupação – com torneiras e sabão dispostos em alturas que atendem tanto meninos e meninas quanto adultos – vão contribuir para aumentar a regularidade da lavagem das mãos, uma das melhores formas de prevenir a Covid-19. Mas os cuidados extras permanecem com pais e mães.

“Como responsáveis, precisamos estar muito atentos com os filhos. Eu estou sempre cuidando para que o José possa usar uma máscara quando necessário, que ele mantenha as mãos e os espaços limpos, e tentando que não façam grupos muito grandes de crianças, porque aqui temos muitas”, explica Jenny.  

Além do local onde vivem Jenny e José, outras seis ocupações espontâneas de Boa Vista já receberam os equipamentos. Outras oito estão em processo de instalação. No total, mais de 2,5 mil migrantes e refugiados venezuelanos serão beneficiados diretamente. Além da estrutura de lavagem de mãos, caixas de armazenamento de 5 mil e 10 mil litros acompanham os equipamentos em localidades mais populosas. Uma parceria recentemente fechada com a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer) vai garantir o abastecimento regular das estruturas com água de qualidade.

três crianças pequenas estão paradas em frente a uma caixa d'água imensa.
UNICEF/BRZ/Yareidy Perdomo
Caixas de armazenamento garantem fornecimento de água para ocupações mais populosas.

“A água é um elemento essencial não só para o combate ao coronavírus, mas para a saúde das pessoas. A gente precisa garantir que essas áreas tenham capacidade de armazenamento de água para que essas pessoas possam se higienizar de forma adequada, o que beneficia eles e toda a comunidade”, explica o oficial de Água, Saneamento e Higiene do UNICEF Delmo Vilela.

População migrante e a Covid-19
O surto da Covid-19 representa uma ameaça adicional à proteção, ao bem-estar e ao futuro das crianças e adolescentes migrantes e refugiadas. Diante da crise econômica e social da Venezuela, mais de 5 milhões de pessoas já deixaram o país desde 2015 – Jenny e José são duas delas. 

Só o Brasil registrou mais de 253 mil solicitações de refúgio e de residência temporária de cidadãos venezuelanos entre 2015 e novembro de 2019. Mais de um terço são crianças e adolescentes. 

Muitos migrantes, incluindo povos e comunidades indígenas, vivem em condições precárias em ocupações informais ou nas ruas de cidades como Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Belém (PA). Com acesso limitado a serviços essenciais como água potável, saúde, saneamento e higiene, eles são particularmente vulneráveis aos impactos imediatos e secundários de doenças como a Covid-19.

No setor de água e saneamento, o UNICEF foca as suas intervenções humanitárias nessas ocupações, em parceria com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra). Por exemplo, um programa de transferências monetárias para a compra de itens de higiene está sendo estendido a essas populações, por meio da distribuição de um cartão magnético.

Mais de 27 mil sabonetes foram distribuídos para nove mil pessoas entre março e abril, incluindo também a população migrante e refugiada nos abrigos da Operação Acolhida, a resposta humanitária liderada pelo Governo Brasileiro. Nos 13 abrigos oficiais, o UNICEF é responsável pelo fornecimento e gestão do sistema de água, resíduos e esgoto – o que beneficia os 5,4 mil migrantes e refugiados que lá vivem.


Como o UNICEF trabalha pelo direito à água nas ocupações em Roraima
UNICEF Brasil