Na escola, desenvolvimento na primeira infância
Lorenzo Roque, de 4 anos, e Lorena da Silva, de 6, já retornaram para o ensino presencial em São Paulo
Vozes e movimentos de bebês e crianças para todos os lados. Em um prédio de dois andares, no bairro de São Miguel Paulista, Zona Leste da cidade de São Paulo, o Centro de Educação Infantil (CEI) Jardim Lapenna I atende mais de 600 crianças de 2 meses a 6 anos de idade. Atualmente, 70% dos alunos já retornaram para a escola.
Um deles é Lorenzo Guimarães Roque de 4 anos. Quando a pandemia começou, ele e sua irmã mais velha passaram a ficar em casa com a mãe e com a irmã recém-nascida. Lorenzo teve o apoio da família para acessar as aulas online, mas o isolamento social trouxe desafios para o desenvolvimento do menino.
“Era um celular para ele e para a irmã mais velha participarem das atividades online. Ele não teve contato com outras crianças e nem com os familiares e, por conta disso, teve atraso na fala, mas, nesses três meses que ele passou a frequentar a escola presencialmente, já evoluiu em 80% na fala e na coordenação motora. Hoje, ele também está fazendo acompanhamento com fonoaudiólogo”, relata a mãe do menino, Maria Edilene Guimarães Roque.
Para acolher as crianças e se preparar para o retorno presencial, educadores e profissionais do CEI Jardim Lapenna I receberam treinamentos que os ajudaram a desenvolver as habilidades de escuta e acolhimento. A contação de histórias tem sido implementada todos os dias para ajudar as crianças a se comunicarem. “Estou feliz aqui. Gosto de brincar de carrinho e de comer macarrão”, conta Lorenzo.
Na mesma escola, a colega Lorena Vitória Batista da Silva, de 6 anos, também retornou para o ensino presencial. “Fiquei feliz de voltar. Estava com saudade de brincar e dos meus amigos. A gente aprende várias atividades aqui e, quando eu crescer, vou ser médica de grávida. Em casa, gosto muito de brincar de boneca”, afirma a menina.
Além dos desafios de conectividade e aprendizagem, o fechamento das escolas no auge da pandemia e a crise econômica no período agravaram outro desafio histórico. Grande parte dos alunos da rede pública no Brasil fazem sua única refeição diária no ambiente escolar. Crianças de até 5 anos formam o principal grupo de risco da fome. Isso porque a desnutrição compromete os desenvolvimentos intelectual, motor e visual, além de prejudicar o crescimento da criança.
“Eu trabalhava na região central e abri mão do meu emprego para poder ficar em casa quando as escolas fecharam. Meu marido passou ganhar a metade para não ficar sem emprego. Dormíamos pensando se teríamos comida na semana seguinte. Com as crianças retornando para a escola, sabemos que lá terão acesso à alimentação correta”, relata Maria Edilene, mãe de Lorenzo.
“Estamos em um bairro totalmente vulnerável. Por meio da Busca Ativa Escolar, constatamos ainda mais a necessidade das crianças de retornar para o presencial. Aqui elas têm alimentação, brincadeiras, atendimento e ensino com amor e qualidade”, explica Gislaine Leme Gonçalves Braga, uma das coordenadoras pedagógicas da CEI Jardim Lapenna I.
A cidade de São Paulo aderiu, no segundo semestre de 2021, à Busca Ativa Escolar – metodologia e plataforma desenvolvida pelo UNICEF, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). A ferramenta é uma importante aliada no enfrentamento da evasão escolar.