“Na escola, a criança aprende mais”

Maria da Penha Ezequiel não hesitou em levar seu neto Isaac para a escola assim que ela reabriu em março deste ano, na Maré, no Rio de Janeiro

UNICEF Brasil
Foto mostra um menino parado em frente a um muro pintado com umas árvores e a frase 'retorno presencial 2021'. O menino está de uniforme escolar, usando máscara.
UNICEF/BRZ/Fabio Teixeira
14 outubro 2021

“Ano passado todo, ficamos com as atividades online. Foi bem complicado. Meu celular quebrou, não consegui trocar. Então tinha que esperar para ir à casa de minha filha que tem WiFi. Depois, a escola começou a distribuir as apostilas, o que ajudou. Mas eu não conseguia explicar tudo para meu neto”, conta a paraibana Maria da Penha Ezequiel, avó-mãe de Isaac.

“Tenho 11 anos, e quero ficar nos 11. Quero poder brincar sempre”, se apresenta Isaac Gabriel da Silva Costa, que gosta de brincar nas ruas, mas também se diverte com sua cachorrinha, o videogame e a conversa de zap com os amigos, quando a avó tem crédito no celular.

Isaac é um dos três netos de Penha, e mora com ela desde pequenino na comunidade da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro. O pai de Isaac também mora com ela, mas perdeu o emprego durante a pandemia. “Ficou difícil, ficamos dependendo só da minha pensão. Tudo aumentou. Tivemos ajuda de doações. Mas agora tá melhorando”, diz Penha.

E o ano de 2021 começou com a boa notícia da reabertura da escola de Isaac. Aluno da quinta série, ele estuda na Escola Municipal IV Centenário, em Bonsucesso – a primeira escola da Maré a retomar as aulas presenciais, em março deste ano.

“Quando me falaram que a gente voltaria pra escola, senti felicidade. Estava com saudades dos meus amigos e professoras”, conta Isaac. Não foi perfeito, pois o menino queria poder abraçar e tocar os amigos. “Usar máscara o tempo todo incomoda, não podemos fechar as janelas da sala, temos que manter distância do outro”, diz o menino. Mas, assim como a avó, Isaac não tem dúvidas de que vai melhorar.

Foto mostra dois meninos conversando no pátio da escola. Eles estão afastados um do outro e usando máscara.
UNICEF/BRZ/Fabio Teixeira

“A vontade era voltar para a escola”, diz Penha. “Na escola, a criança aprende mais”, explica com sabedoria. “Quando chegou a notícia, não tive dúvida: sabia que a diretora, as professoras iam cuidar”. Por outro lado, Penha decidiu fazer a sua parte: colocou álcool em gel na mochila e orientou Isaac a usar sempre a máscara e não pegar nada emprestado. Na ocasião, Penha ainda não tinha conseguido se vacinar, mas, quando chegou sua vez, logo foi para o posto de saúde tomar a primeira dose e já tomou inclusive a segunda.

O retorno foi gradual, começando com algumas horas na sala de aula. Agora, já retomaram o período integral, das 7h às 15h, com café, almoço e lanche na escola. Tudo graças a muita preparação e dedicação da equipe.

“Primeiro, tive medo”, conta Elma Avelino, professora de Isaac, que há 10 anos leciona na escola. “Mas confiei. Avaliamos que as crianças não podiam esperar. Os adultos estavam retomando o trabalho, suas atividades, e as crianças precisavam da escola. Meu medo ficou, então, em segundo plano”.

A reabertura segura das escolas tem recebido atenção prioritária da Prefeitura do Rio de Janeiro desde o início deste ano, e o UNICEF tem participado ativamente das recomendações como membro convidado do Comitê Especial de Enfrentamento da Covid-19 da Cidade do Rio.

Os primeiros meses já se passaram, mas cada dia continua sendo um desafio. “Aparecem situações novas, temos que seguir monitorando os casos nas famílias, além de ver que, fora da escola, muitos moradores não seguem a prevenção, não usam máscaras. O desafio é grande, mas temos que persistir”.

O compromisso de familiares como Penha anima a equipe. Funcionários, professoras, coordenadoras e diretora acreditam muito no potencial de cada criança.

Foto mostra um menino lendo um livro. Ele está de máscara, em uma sala com outros livros.
UNICEF/BRZ/Fabio Teixeira

“Gostaria muito de que Isaac tivesse uma história diferente da nossa”, deseja Penha. Nem ela, nem os três filhos tiveram oportunidade de seguir com os estudos. “Pra mim, escola é tudo. E sonho muito em ver meu neto formado no que ele escolher”.

E Isaac não economiza entusiasmo: “Vou estudar até morrer”. Ele quer servir a Aeronáutica, pois acha bom “voar e ajudar o meu País”.