Morar no Ibura é resistir

Evely e Shayara carregam o estigma do local onde moram. E resistem. As adolescentes de 16 e 17 anos, respectivamente, moram no Ibura, um dos bairros mais populosos do Recife e que apresenta um dos mais altos índices de homicídios da capital pernambucana. Elas vivenciam desafios semelhantes relacionados a crescer em um local com esse histórico. No último ano, as duas participaram do projeto Ibura Empoderado, que fez parte da iniciativa #AgendaCidadeUNICEF – Recife para cada criança e adolescente, e afirmam que a experiência foi fundamental para o bem-estar e a saúde mental.

“Quando eu digo que sou do Ibura as pessoas já fazem: – Ixi, aí mata muita gente? – Quando falam isso do lugar que você mora, você fica meio triste”, conta Evely Vitória dos Santos. O desconforto em relação à fama do bairro também aparece rapidamente na conversa com Shayara Diniz de Oliveira. “O Ibura é arte, é poesia. Para mim, é um bairro super perfeito. Morar aqui é símbolo de resistência. Mas sempre perguntam se só tem ladrão aqui”, diz, acrescentando que também enfrenta preconceito no próprio bairro. “Cresci numa sociedade que me fez pensar que ser LGBT seria um problema. Eu não queria ser um desgosto. Mas o projeto fez acontecer, me fortaleceu”, destaca.

Para as adolescentes, as rodas de conversa foram transformadoras. “Foi um projeto muito importante, um momento de autoconhecimento. Consegui deixar a procrastinação de lado e ter mais produtividade”, resume Evely. Shayara ressalta que o projeto possibilitou que muitos adolescentes percebessem seu direito à voz. “O resultado e o impacto que as rodas tiveram foi uma coisa que ninguém esperava. A gente precisa saber que é do Ibura e que tem voz na socidade sim”, afirma.

O apoio à saúde mental de adolescentes tem sido uma prioridade para o UNICEF e vem sendo ofertado no Recife como parte da #AgendaCidadeUNICEF. Além de as rodas de conversa, o Ibura Empoderado realizou oficinas educativas com temáticas sobre identidade, cidadania e direitos humanos, entre outras. Os encontros ocorreram em escolas do Ibura, durante seis meses, com o acompanhamento de psicólogos e facilitadores da ONG Etapas, organização parceira do UNICEF e implementadora dessa atividade.

A oficial de Desenvolvimento e Participação Cidadã de Adolescentes do UNICEF Luiza Leitão destaca que as rodas terapêuticas também atenderam a uma demanda expressada pelo grupo de adolescentes participantes. “O UNICEF vem acompanhando a demanda crescente por apoio à saúde mental de adolescentes e tem atuado com algumas contribuições, a exemplo do Pode Falar e do Topity, iniciativas que foram apresentadas aos adolescentes. Mas as rodas tiveram uma atuação mais próxima e resultaram no encaminhamento de casos mais críticos aos serviços de referência”, disse Luiza.

#AgendaCidadeUNICEF
#AgendaCidadeUNICEF é uma parceria do UNICEF com prefeituras para a promoção de direitos e oportunidades de crianças e adolescentes mais vulneráveis nos centros urbanos, contribuindo para a inclusão, não discriminação e não violência. No Recife, o Ibura foi escolhido como território prioritário. Além de a capital pernambucana, estão se somando à iniciativa as cidades de Belém, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo.