Informação e acolhimento para quem menstrua

As gêmeas Dienny e Dielly, e Rafael, homem trans, da periferia de Belém, dialogam sobre o tabu em torno da menstruação

UNICEF Brasil
Foto um homem mais velho cercado de duas jovens. Todos estão sorrindo.
UNICEF/BRZ/Nay Jinknss
26 maio 2022

Falar sobre menstruação na Ilha de Cotijuba, comunidade vulnerável próximo a Belém (PA), nunca foi fácil. As gêmeas Dienny e Dielly, de 20 anos, cresceram por lá sem diálogo e sem acesso a informações de qualidade sobre o tema. “Menstruar aqui é complicado. As mulheres mais velhas, que deveriam se sentir à vontade com o assunto, não se sentem. Nunca foi fácil se comunicar com elas. Não se podia usar a palavra menstruação. Sempre era 'tá de chico', 'tá de bode'”, diz Dielly. O acesso a absorventes também é outra dificuldade de quem mora na Ilha. “Aqui é mais caro que em outros locais, não é todo mundo que pode comprar. Ninguém tem absorvente em casa à disposição”, relatou a irmã Dienny.

O despertar para esse diálogo se deu em fevereiro deste ano, quando as irmãs participaram de uma nova experiência: pela primeira vez falaram abertamente sobre menstruação em uma roda de conversa com outras meninas da Ilha, sem medo ou vergonha. Ali, também puderam aprender mais sobre o tema, ter orientações sobre os direitos relacionados à dignidade menstrual, e receber itens de higiene, como absorventes.

“Participar da oficina foi algo muito novo. Nunca havíamos participado de algo do tipo antes. Achei interessante e curioso alguém nos tranquilizar e falar que vai ficar tudo bem, que esse assunto é natural, que não precisamos ter vergonha. A principal lição foi aprender a usar a palavra menstruação e não esses outros termos pejorativos e antigos. Hoje nos libertamos do passado”, avalia Dielly. “Foi chocante ver que muitas mulheres, em pleno século XXI, ainda usam miolo de pão e sabugo de milho por não ter acesso a itens básicos, como absorventes”, complementou Dienny.

Durante a oficina, cada adolescente falou sobre o tabu em torno da menstruação, contando como o tema impacta sua vida. “Ter dignidade menstrual diz respeito a vários fatores: o direito a ter acesso a itens importantes, durante o período de menstruação; a uma higiene adequada, com água e sabão; a um local seguro para que essa higiene seja realizada; e a informações para que a gestão menstrual aconteça de uma forma segura, importante e acolhedora para quem menstrua”, explica Thaissa Scerne, consultora para Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do UNICEF, que mediou o diálogo com o grupo.

Thaissa explica que as rodas de conversa ocorreram em comunidades vulneráveis de Belém. Além de nas escolas, foram organizados diálogos específicos com pessoas trans.

Foto mostra um homem meio de perfil sorrindo
UNICEF/BRZ/Nay Jinknss

Rafael Carmo, de 28 anos, foi um deles. Ele revelou que eventos como esse são muito importantes para que o público trans comece a falar sobre o assunto, sem medo. “Esse é um momento inicial para despertar neles a vontade de pesquisar mais sobre si mesmos nesse processo, sobre o próprio corpo, o autoconhecimento. Esse tema precisa ser tratado como natural e que deixe de ser tabu. Queremos que a partir daqui possamos ser propagadores e multiplicadores dessa mensagem”, sonha.

“São poucos os espaços que meninas e o público trans têm para dialogar sobre o assunto. Foi importante dizer para essas pessoas que elas não estão sozinhas. Que o absorvente, antes de ser um direito, é uma necessidade para que consigam ir à escola, trabalhar e se socializar”, defende Thaissa.

Sobre a iniciativa

A ação fez parte da parceria entre UNICEF e a marca Needs, do grupo RaiaDrogasil, que, juntos, por meio do movimento intitulado #PraQuemMenstrua, estão levando informação sobre dignidade menstrual a adolescentes e jovens; promovendo a capacitação de profissionais de educação e a escuta de pessoas que menstruam; e instalando estações de lavagens de mãos em escolas.

Em Belém, UNICEF e Needs distribuíram 16 estações de lavagem de mãos e 30 mil pacotes de absorventes. Além disso, 150 adolescentes receberam formação em saúde menstrual, entre mulheres e homens trans, de comunidades vulneráveis (tradicionais e ribeirinhas), além de agentes comunitários, professores e lideranças locais.

Foto mostra um banner do projeto #PraQuemMenstrua, com o logo da Needs e do UNICEF, e uma pilha de absorventes que serão doados.
UNICEF/BRZ/Nay Jinknss