"Aprendi a ler com 11 anos, hoje quero ser escritor"
Jadson Sena, 15 anos, participa do Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca) do Selo UNICEF e sonha em publicar um livro

Jadson Sena, 15 anos, mora no Povoado Olhos D'água, no município de Santa Rita, localizado no Maranhão, no Nordeste do Brasil. Ele nasceu na região central de Santa Rita, mas se mudou para o povoado, que um dia já foi território quilombola. "O local não é reconhecido como quilombo atualmente. Na internet, por exemplo, não se encontram informações sobre isso", explica.
Jadson cresceu ali, no lugar onde uma parte pertence à Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense – unidade de conservação cujas características marcantes são campos e lagos, além de abrigar fauna e flora diversificadas.
Jadson aprendeu a ler aos 11 anos e hoje, quatro anos depois, já sonha em fazer faculdade de Pedagogia e ser escritor. Quer, um dia, publicar um livro sobre relatos e causos de sua região, além de contar as histórias de como é a infância das crianças no interior do estado. "A criança do interior não passa o dia na frente da TV. A criança do interior gosta de correr e brincar", declama uma parte de seus escritos.
Para ele, a literatura representa a transformação de realidades. "Foi a leitura que me ajudou até no modo de falar e agir", afirma. Sua escola fica a cerca de 5 km de distância do povoado onde vive. Hoje, ele vai de moto, mas nem sempre foi dessa forma. "A escola é perto da minha casa, mas ainda assim eu tinha dificuldades de ir. Antes eu ia a pé mesmo, mas tinha muita lama no período de chuva... Era quase 1 hora caminhando".
Ele é o mais novo de seis irmãos e hoje mora somente com a mãe e o padrasto. Jadson conta que antes não tinha muito interesse pela literatura, mas, depois que começou a desenvolver o entusiasmo pelos livros, sua vida mudou. "Foi na escola que me desenvolvi e hoje tenho vontade de criar um grupo no qual as pessoas possam ajudar umas às outras a publicar suas obras literárias", explica.
Durante a pandemia, o adolescente conta que as aulas remotas foram um desafio pela dificuldade de acesso à internet, o que prejudicou o aprendizado. Agora que as aulas presenciais voltaram, ele está contente em ter retornado para a sala de aula. "Nesse período tirei como lição que devemos aproveitar o hoje, porque um dia estávamos na escola e no outro não podíamos ir para lá… Não podíamos abraçar, dar a mão. Tudo isso mudou", reflete.
Antes Jadson escrevia suas histórias e deixava dentro do guarda-roupa. Até que um dia resolveu pegar seus escritos e sair lendo na escola onde estuda. Foi aí que sua professora de português, Adriana Frazão, o incentivou a continuar escrevendo e criar o projeto Levantando Escritores, que está na fase inicial, mas conta com o apoio da Prefeitura de sua cidade.
Essas ações chamaram a atenção de Janaína Fonsêca, gestora de educação do município, que o convidou para participar das atividades do Selo UNICEF e conhecer o Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca). A metodologia é uma iniciativa do Selo UNICEF para ampliar a participação de jovens na gestão pública municipal, além de ser um espaço para adolescentes se organizarem e discutirem questões importantes para seu desenvolvimento.
Jadson enxergou o Nuca como uma oportunidade para estar mais próximo de outros adolescentes. "Quero incentivar jovens que abandonaram seus estudos a retornar para a escola", declara. Seu objetivo é lutar por mais condições de estudo para a região. "É preciso que existam mais cursos e formações para que os jovens não precisem ir embora para estudar ou trabalhar", conclui.
Nucas no Maranhão
O estado do Maranhão aderiu 100% à edição do Selo UNICEF 2021-2024, que tem como objetivo promover os direitos de crianças e adolescentes. A região faz parte do território da Amazônia Legal e uma das estratégias é o incentivo para a criação de espaços nos quais adolescentes possam participar de forma ativa nas decisões municipais.
Em junho de 2022, os 216 municípios maranhenses contavam, ao todo, com 3.678 adolescentes participando do Nuca. O estado também possuía 324 mobilizadores de adolescentes, que é o profissional, vinculado à gestão municipal, que garante a formação e participação desses jovens nas atividades de capacitação do Selo UNICEF.
Janaína Fonsêca é coordenadora de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria Municipal de Educação de Santa Rita e foi quem convidou Jadson para o Nuca. "Ele nos procurou solicitando apoio para publicar um livro sobre a região". Janaína vê a metodologia dos Nucas como uma oportunidade para alcançar os adolescentes. "Estamos criando um movimento para agregar os alunos do ensino médio e dar orientação e apoio para essa fase da vida. Acredito que a criação do Nuca no município é muito proveitosa. Como o Jadson é da zona rural e tem um bom relacionamento com os adolescentes, com certeza vai fazer a ponte e aumentar ainda mais nossa proximidade com os jovens", finaliza.
Para participar do Nuca, basta ter entre 12 e 17 anos, com ou sem experiência em grêmios estudantis ou outros grupos coletivos. Nesta edição do Selo, que se encerra em 2024, o jovem que quiser conhecer as atividades do Nuca pode enviar uma mensagem via WhatsApp para o Iure, robô virtual da plataforma U-Report Brasil, pelo número (61) 99687 1768. O objetivo é reunir grupos com adolescentes que tenham boas ideias, vontade de transformar a realidade e interesse em conhecer seus direitos e lutar por eles.