Adolescente cria rede de mobilização para reabertura de escolas
Ao perceber que fora da escola fica mais vulnerável, Ana Clara, de 12 anos, passou a atuar como agente de mudança e disseminar o conhecimento adquirido pela ação do UNICEF, em parceria com a AVSI Brasil, em Pernambuco

Distante das salas de aula há 17 meses por conta da pandemia de covid-19, Ana Clara da Silva Melo, de 12 anos, sente falta do contato com colegas e do apoio de professores na aprendizagem. Moradora de Serra Talhada, em Pernambuco, a adolescente também se solidariza com as dificuldades de quem tem menos recursos para acompanhar as aulas remotas e se preocupa com o risco de exclusão escolar. Determinada, ela transformou as preocupações em ação. Resolveu desempenhar um papel mais atuante na busca por um retorno seguro às escolas e decidiu: seria uma agente de mudança.
O despertar da adolescente surgiu após uma capacitação sobre a importância da reabertura das escolas e a disseminação de práticas de prevenção e controle do coronavírus entre a comunidade escolar. A formação faz parte da ação de resposta do UNICEF à covid-19 no Semiárido, implementada pela AVSI Brasil em 39 municípios de Pernambuco, do Ceará e da Bahia, com o intuito de apoiar a reabertura segura de escolas e a continuidade de outros serviços essenciais. Além de contribuir com a doação de kits de higiene e material de comunicação, o projeto atua com a formação de gestores e técnicos do setor público e de outros agentes de mudança, como Ana Clara, para que possam multiplicar o conhecimento entre pares.
A motivação, conta a estudante, surgiu ao perceber que seria possível um retorno das aulas presenciais de forma segura. “Tudo começou quando percebi que fora da escola ficamos mais vulneráveis. Então, decidi levar a mensagem sobre a importância da volta às aulas presenciais e como isso é possível em tempos de pandemia”, explica. Como integrante do núcleo de cidadania de adolescentes (Nuca), espaço que reúne adolescentes para o fortalecimento da participação nas políticas públicas, ela começou seu trabalho de “formiguinha”, transmitindo suas informações a outras meninas e meninos.
“Fora da Escola Não Pode”
Com o apoio de sua mãe, Mayara Cícera da Silva, que é coordenadora de um dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do município, Ana Clara mobilizou serviços de outros bairros. Seguindo os protocolos de segurança, ela realizou três encontros, reunindo cerca de 45 pessoas, sendo 33 adolescentes. Nos encontros, a adolescente apresentou uma cartilha sobre cuidados na escola, com ilustrações dos personagens da Turma da Mônica, e tirou dúvidas. O movimento surtiu efeito. “Eles me receberam muito bem e estão todos muito ansiosos para o retorno. Tenho acompanhado e percebido que os adolescentes começaram a compartilhar a cartilha nas redes sociais, propagando a mensagem”, comemora a estudante.
Nesse período de ensino remoto, Ana Clara destaca que sentiu falta da presença dos professores, sobretudo para as orientações na execução das tarefas. “Sem as aulas presenciais, tudo fica mais complicado. Tentei, ao máximo, não comprometer os estudos. Para matar a saudade dos amigos, só por chamadas de vídeo”, contou Ana Clara, relatando também a falta da convivência com os colegas.

A expectativa é de que as aulas voltem no município de Serra Talhada, de forma híbrida e gradual, em setembro. “Sei que o que estou fazendo é só uma pontinha perto do apoio que milhares de crianças precisam para retornar às escolas o mais breve possível. No meio disso, há aqueles que acabam desistindo de estudar. Espero que isso tudo passe logo e fique no passado”, diz Ana Clara.
Quem aplaude a atuação de Ana Clara é o poeta e professor Antônio Nunes, que é outro agente de mudança no projeto de resposta à covid-19 e tem disseminado informações para um retorno seguro por onde passa. Segundo Antônio, o ponto positivo da iniciativa de Ana Clara é que mostra a adesão de vários públicos, que mesmo em grupos distintos, lutam pelos mesmos objetivos. “Como há uma conexão na linguagem, por afinidade e idade, eles conseguem incentivar uns aos outros na missão de retornar ao ambiente escolar, sem exceção. Ela vai ser uma futura líder comunitária, uma pessoa de influência, que vai impactar as outras pessoas”.
Ambientes seguros
Como resposta à pandemia, o UNICEF adaptou seu programa no Brasil e incluiu o tema de água, saneamento e higiene (Wash, na sigla em inglês) como prioridade, focando na garantia de ambientes seguros para crianças, adolescentes e famílias. Algumas regiões foram definidas como prioritárias, a partir de indicadores sociais e incidência da covid-19, para uma atuação emergencial. O trabalho em parceria com a AVSI Brasil está sendo realizado nos estados da Bahia, do Ceará e de Pernambuco, tendo como pilares a capacitação técnica de agentes públicos de saúde e educação, a doação de kits de higiene e equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais e estratégias de comunicação.