De jovem para jovem
Tayla e Rebecca conversam sobre como manter a saúde mental em dia

Tayla, 22 anos, em Manaus, e Rebecca, de 18, no Rio de Janeiro. Capitais distantes – mas o que é a distância hoje em dia para cultivar boas relações e amizades? Além de a faixa etária que as faz partilhar de uma mesma geração sonhadora e engajada, elas guardam em comum a participação em projetos de fortalecimento da saúde mental e empreendedorismo, como o Caixa de Ferramentas e as Trilhas da Geração Zelo, que o UNICEF oferece em parceria com a Asec Brasil.
Em 2015, após atuar como multiplicadora no Viva Melhor Sabendo Jovem, projeto de prevenção do HIV/aids entre adolescentes e jovens, Tayla descobriu que tinha vocação para atuar com esse público, e hoje é uma educadora social que se dedica a abrir, para outros jovens, oportunidades como as que ela teve. Oportunidades de florescer.
Convidamos Rebecca – personagem da história que pode ser lida aqui – para entrevistar Tayla sobre como cultivar o bem-estar e a saúde mental em um mundo cada vez mais desafiador. Ela adorou o convite: “Quando fui entrevistar a Tayla, eu me senti em um ambiente muito confortável”, conta Rebecca. “Foi muito inspirador ouvir sobre as experiências dela, e saber o quanto ela deseja que mais jovens possam ocupar os diversos espaços de que ela participa. Compartilhamos muito dessa mesma ideia”.
A seguir você acompanha um pouco dessa conversa.
Rebecca: Você fala muito da importância da saúde mental para os jovens, Tayla. Quando foi que você começou a olhar pra isso?
Tayla: Foi no início, quando integrei o projeto Viva Melhor Sabendo Jovem Manaus, de prevenção de HIV e aids para a população jovem aqui do Amazonas. Nessa época, não se falava muito em saúde mental. Mas, durante uma testagem, um dos nossos colegas descobriu que era soropositivo. Foi um baque. Não sabíamos como reagir. Ele teve que se preparar psicologicamente para um novo teste, e foi confirmado o diagnóstico. Após isso, ele teve que se preparar para começar o tratamento e iniciar sessões no psicólogo pra lidar com aquilo. Com isso, eu vi a importância da capacitação para abordar o assunto da saúde mental em todas as áreas.
R: Você é uma jovem que atua em muitas frentes e projetos. Como está a sua relação com a saúde mental?
T: As demandas são várias e, às vezes, não temos tempo nem pra ter ansiedade. Mas, às vezes, temos que parar para dar um tempo e falar: preciso cuidar de mim. Eu estou fazendo as Trilhas da Geração Zelo, né? então digo que preciso zelar por mim, praticar o autocuidado, me conhecer. Parar e refletir sobre o que me faz bem e o que não faz, repensar as minhas relações.
R: Quando você tem esses momentos de reflexão para se cuidar, você tem alguma estratégia para renovar a sua saúde mental?
T: Sim. Estar com pessoas com quem eu me sinto bem. Por exemplo: uma professora falou que eu só estava trabalhando e fazendo as coisas de casa e que eu precisava de um momento de lazer, desacelerar. Daí me convidou pra darmos uma volta. Tem que saber o momento para dar uma pausa, relaxar e depois voltar pra ativa renovada. Se não der uma pausa, aquilo vai desgastando a gente. Pode até cair no desânimo. Para isso não acontecer, eu sempre procuro dar um tempo para mim mesma.
R: Esse equilíbrio é muito importante. E o que significou pra você cursar as Trilhas da Geração Zelo?
T: Olha, para mim significou fortalecimento e renovação. A gente pensa que sabe tudo, mas não sabemos sobre nós mesmos. As trilhas trazem essa questão do autocuidado e do autoconhecimento. Com a primeira trilha, Zelar por Mim, aprendi que tenho que cuidar de mim primeiro para depois cuidar dos outros. É importante ter essa noção de que preciso primeiro estar bem para que eu possa apoiar o outro... Só assim posso passar meus conhecimentos e coisas boas para o meu par.
R: Estávamos falando sobre criar estratégias para cuidar da saúde mental. Após essa primeira trilha, você conseguiu descobrir novas estratégias?
T: Sim. Eu me senti muito acolhida quando comecei as trilhas, já queria fazer tudo logo. Os materiais são tão interessantes que eu ficaria ali o tempo todo. Mas o principal é a questão da educação entre pares, uma estratégia muito bacana de colocar os jovens como transmissores desse conhecimento, desse cuidado, desse zelo. Existe o profissional de mentoria, mas o jovem multiplica para outros jovens. Às vezes nos sentimos acanhados com um profissional por medo de estarmos errados. Com o jovem não. Você erra, mas sabe que todos estão no mesmo nível. Temos uma interação positiva, sem julgamento. Por isso, todos se sentem muito à vontade. As trilhas estão evoluindo a partir dessa estratégia.
R: Você sente que o que você conseguiu adquirir nas capacitações com as Trilhas da Geração Zelo tem como levar para os projetos sociais de que você participa?
T: Com certeza. Fui motivada a colocar isso em prática, a trazer para os projetos essa questão da saúde mental, a compartilhar com as pessoas. Era muito bacana quando chegávamos na escola e sentávamos em roda de conversa, sem muita formalidade e termos técnicos. Essa abertura que a educação entre pares oferece é muito bacana. O jovem sai daquele local de medo de perguntar, porque pensa que está errado. Fica mais à vontade. E a gente vai lá sem julgamentos tirar a dúvida.
R: Para você, o que significa trabalhar com os projetos do UNICEF?
T: É muito gratificante poder participar de projetos pra garantir direitos para crianças e adolescentes e saber que isso, mais para frente, pode se tornar uma política pública. São muito importantes essas oportunidades que o UNICEF oferece para adolescentes e jovens serem protagonistas, dando voz para que possam colocar suas necessidades, o que acreditam ser melhor pra eles mesmos.
R: Se você pudesse deixar um recado para outros jovens sobre as Trilhas da Geração Zelo, o que diria?
T: Eu espero que eles aproveitem a oportunidade de cursar as trilhas e se conhecer. Aprender a zelar por si, para poder zelar pelos outros.
Saiba mais:
Trilhas da Geração Zelo