Um campeão incansável: como um homem está ajudar na erradicação de pólio em Moçambique
"Tenho fé que, com o esforço das organizações e da comunidade, continuaremos a proteger as nossas crianças e a erradicar a pólio de uma vez por todas." – afirma esperançoso Nunes Calisto João, um mobilizador social.

Zambézia, Moçambique - "Tenho fé que, com o esforço das organizações e da comunidade, continuaremos a proteger as nossas crianças e a erradicar a pólio de uma vez por todas." – afirma esperançoso Nunes Calisto João, um mobilizador social incansável que apoia as atividades de resposta à pólio no distrito de Mocuba, na província da Zambézia.
Na garupa da sua moto dias antes do início da vacinação, Nunes percorre os bairros para informar as famílias de que a equipa de vacinação está a caminho. O vento levanta poeira à sua passagem, mas ele segue firme, com um sorriso confiante. Onde quer que chegue, é recebido com entusiasmo – até as crianças param para ouvi-lo, partilhando a esperança de um futuro saudável e livre da doença.
Com um megafone, Nunes chama os vizinhos para participar das suas conversas. Além de divulgar as datas e locais da campanha, aproveita para reforçar a importância de manter o calendário vacinal atualizado. "As vacinas salvam vidas, e as pessoas precisam saber disso”, afirma, com voz segura. Sempre atento à melhor forma de comunicar, Nunes fala a língua materna para garantir que a sua mensagem seja bem compreendida. Os olhares atentos e os acenos de aprovação demonstram que a sua mensagem está a ser recebida.
Nunes também reúne-se com líderes comunitários e religiosos, assegurando que a informação seja amplamente difundida. "Durante as primeiras campanhas, muitas pessoas tinham dúvidas, pois há muito que não se falava tanto de pólio", explica. Hoje, ele percebe uma maior consciência sobre a doença e uma adesão mais espontânea à vacinação, mesmo entre aqueles que recorrem à medicina tradicional.
No entanto, Nunes reconhece que ainda há comunidades onde a vacinação não é aceita. "Infelizmente, ainda há comunidades onde as pessoas não aceitam a vacinação. Muitas vezes, isso acontece por falta de informação ou por crenças religiosas", observa. "Mas aqui, onde trabalho, a comunidade confia na vacina e entende que salva vidas. Meu apelo é que todos os líderes religiosos e comunitários se unam para garantir que nenhuma criança fique desprotegida” .
Nunes não é apenas um mobilizador social das campanhas de pólio. Ele também é membro do Comitê de Gestão de Recusas Vacinais de Mocuba, criado no contexto da pandemia da COVID-19, e presidente do Comitê de Cogestão, que promove a participação da comunidade na melhoria dos serviços de saúde. Para além disso, é pastor de uma igreja, o que amplia a sua capacidade de influência nos 40 bairros onde actua na promoção da saúde.
Segundo o Nunes, todos os dias, ele atinge mais de 1.000 pessoas, na sua maioria mulheres e cuidadores, assegurando que estejam informados e motivados a vacinar as crianças. A união dos seus papéis de líder religioso e mobilizador social reforça a sua credibilidade, tornando-o uma voz de confiança na comunidade. De facto, os dados de monitoria independente das campanhas de vacinação em Moçambique indicam que mobilizadores sociais e líderes religiosos são as principais fontes de informação reconhecidas pelas famílias.
"Sou um elo entre a comunidade e os serviços de saúde, guiado por um propósito maior: salvar vidas”, define Nunes. Nas suas intervenções, combina a fé com os benefícios da vacinação e dos serviços de saúde, promovendo o bem-estar da sua comunidade.
A sua missão, no entanto, não é fácil. Percorre longas distâncias, atravessa caminhos de difícil acesso e enfrenta dias de calor intenso ou ventos fortes. Um dos desafios mais significativos é convencer famílias que ainda dependem exclusivamente da medicina tradicional a procurar e aderir aos serviços de saúde. Mas, com entusiasmo, afirma: "o meu maior ganho é ver as pessoas a aderirem à vacinação e contribuir para que mais vidas sejam protegidas.”
A história de Nunes Calisto João é um exemplo do impacto que mobilizadores sociais de confiança têm na promoção da saúde e na adesão à vacinação. Sua capacidade de dialogar com a comunidade e líderes locais fortalece a participação das comunidades, a aceitação das vacinas e contribui para a superação de barreiras em relação a vacinação. Mais do que compartilhar informações, ele contribui activamente para um futuro mais saudável para as crianças de Moçambique. Com líderes dedicados como Nunes a continuar seus esforços, um mundo livre da pólio está cada vez mais ao nosso alcance.
Resposta a Pólio em Moçambique: Um Compromisso Contínuo
Desde 2022, Moçambique realizou 11 rondas de campanhas de vacinação, alcançando milhões de crianças menores de 15 anos de idade, com as vacina oral contra a pólio. O encerramento do surto de poliovírus selvagem no país representa um marco significativo na luta contra a doença. No entanto, o compromisso continua e o país segue focado na erradicação das variantes remanescentes do vírus e na redução do número de crianças zero dose, reforçando a imunização como um pilar essencial da saúde pública.
A UNICEF, como um dos principais parceiros na resposta à poliomielite, trabalha lado a lado com o Ministério da Saúde e os parceiros da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI) para fortalecer a mobilização comunitária, promover a confiânça e criar a demanda pela vacinação. Através de ações estratégicas de comunicação e engajamento social, a organização apoia os esforços nacionais para garantir que todas as crianças sejam protegidas contra doenças preveníveis por vacinação, contribuindo assim para um futuro mais seguro e livre da pólio em Moçambique.