Capoeira está a ajudar crianças vítimas de violência e de uniões prematuras a recuperar de traumas

Monapo, NAMPULA- Palmas e cânticos ritmados enchem o ar no Pavilhão Municipal de Monapo, na província de Nampula, onde cerca de 83 crianças se juntaram para praticar capoeira, uma arte marcial tradicional afro-brasileira. Enquanto algumas crianças cantam e batem palmas, outras tocam o pandeiro e o berimbau, instrumentos usados para criar o acompanhamento musical tradicional da capoeira. Um terceiro grupo de crianças salta de pé e começa a dançar à volta do círculo, executando saltos impressionantes e varrendo as pernas de um lado para o outro, antes de regressar aos seus lugares no círculo.

Muitas destas crianças foram resgatadas de uniões prematuras ou de situações abusivas, e esta actividade, liderada pela Capoeira Para um Futuro, com o apoio do Programa Global do UNFPA-UNICEF para Acabar com as Uniões Prematuras, está a ajudá-las a processar as suas experiências, a curar-se, a construir a sua resiliência e a redescobrir a sua força interior.

Cerca de 150 crianças estão inscritas no programa no distrito de Monapo, na província de Nampula, enquanto 230 crianças estão a receber apoio através de programas semelhantes nos distritos de Maganja da Costa e Milange, na província da Zambézia.

Joana Vasconcelos, a Mestre de Capoeira responsável pela coordenação do programa, explica o seu objectivo e como serve para facilitar e acelerar o processo de cura. "A capoeira traz uma abordagem lúdica, alegre e divertida, através da qual as crianças ganham lentamente autoestima. É criado um ambiente de respeito entre todos os participantes, ajudando-os a começar a recuperar a confiança nas pessoas que as rodeiam. Através da música, do canto, do movimento, da diversão, dos jogos tradicionais e dos movimentos da capoeira, trabalhamos gradualmente para curar o trauma.”

De forma crítica, o programa inclui tanto rapazes como raparigas, um elemento que Joana considera fundamental: "Capoeira Para um Futuro é um programa que trabalha com crianças resgatadas de uniões prematuras, ou em risco de união prematura. Aqui no distrito de Monapo, trabalhamos tanto com rapazes como com raparigas, porque acreditmos também na importância dos rapazes na prevenção de uniões prematuras e na promoção da igualdade."

"A capoeira fez-me querer rir e sorrir novamente", diz Gina, uma rapariga de 15 anos que está a participar no programa, depois de ter sofrido violência física e psicológica em casa. Inês, uma rapariga de 15 anos que também é apoiada pelo programa, explica como o programa a ajudou. "Na capoeira, aprendi que as raparigas não precisam de ter medo", diz-nos. Hélder, um rapaz de 16 anos, fala sobre o sentimento de pertença e solidariedade que obtém ao fazer parte do programa. "Eu era excluído na minha comunidade porque não fazia o que os outros meninos faziam, agora eu tenho a capoeira e tenho algo especial".

À medida que as actividades de capoeira chegam ao fim, as crianças começam a descansar, algumas juntando-se a outras actividades - desenhar, escrever ou simplesmente tirar tempo para falar umas com as outras. Para além de participarem na capoeira, as crianças recebem apoio psicossocial individualizado de um psicólogo cujo apoio é organizado pelo ICDP, uma ONG que também facilita o acesso a outros serviços. Esta abordagem integrada está a alcançar resultados impressionantes, e é evidente, pelos sorrisos, gargalhadas e cânticos espontâneos das crianças, que elas se sentem seguras, capacitadas e felizes - em muitos dos casos, pela primeira vez nas suas vidas.