Avó Melina protege três netos órfãos

Apesar da situação de extrema vulnerabilidade em que vive ela é mãe dos seus netos.

Claudio Fauvrelle
A avó Melina começou a receber assistência alimentar, através do Programa de Apoio Social Directo, atribuído pelo INAS, e do PMA
UNICEF/MOZA2012-00698/Mark Lehn
01 Janeiro 2013

Changara, TETE - A avó Melina tem carácter. Quando uma brigada da Acção Social do distrito de Changara (província de Tete) foi ao seu encontro para documentar a sua história e entregar apoio alimentar, ela fugiu a sete pés pensando que queriam levar-lhe os netos. Apesar da situação de extrema vulnerabilidade em que vive, esta avó reage como uma fera perante qualquer ameaça às suas crias. Afinal, à semelhança de tantas avós em Moçambique, ela é mãe dos seus netos.

“Tenho orgulho de os ter”, declara Melina através de um intérprete. Com mais de 75 anos, ela cuida de três crianças, com idades entre os 2 e os 10 anos, cujos pais faleceram em 2010. Quando os serviços distritais da Acção Social identificaram a sua situação, viviam num abrigo feito com paus e telhado de palha, que mal se podia chamar de casa. A criança mais pequena, recémnascida, encontrava-se em estado de severa malnutrição.

Desde então, o agregado começou a receber assistência alimentar, incluindo leite infantil, através do Programa de Apoio Social Directo (PASD), atribuído pelo INAS, e do Programa Mundial Alimentar (PMA) das Nações Unidas. O PASD é um programa de assistência social, que visa atender situações que exigem uma intervenção imediata, e é destinado a pessoas que se encontram num estado de pobreza absoluta, que, por si sós, não são capazes de encontrar mecanismos, meios materiais ou financeiros, para a satisfação das suas necessidades básicas.

Paralelamente, está em curso o processo de identificação de um local para a construção duma nova habitação para a família. A palhota onde vivia mal se aguenta de pé, e a família mudou-se para uma minúscula casa de barro e colmo, com uma única divisão e uma pequena janela em triângulo, cedida por uma vizinha.

Durante a nossa visita, assistimos a mais um braço de ferro entre Melina e a brigada da Acção Social. Segundo nos informa o comité comunitário, os tijolos para a casa nova já estão a ser feitos, mas não conseguem chegar a acordo sobre o sítio onde será construída. A Acção Social tinha identificado uma das 10 casas do Centro de Apoio à Velhice, que o INAS disponibiliza para idosos.

Acontece que, grande parte dos residentes aparenta sofrer de demência e, por isso, Melina recusa-se a ir para lá. Segundo as crenças locais, aquelas pessoas estão associadas à feitiçaria e a avó não quer ser confundida. “Ela não quer manter os netos neste ambiente”, explica um dos membros do comité comunitário.

Por fim, a avó ganha. Todos compreendem que ela queira que os netos cresçam num meio saudável, inseridos na importante rede de apoio dos vizinhos com a qual tem contado.

Entretanto, as três crianças já têm registo de nascimento e as mais velhas estão a estudar. Receberam três redes mosquiteiras, que a avó guarda como uma preciosidade. A bebé está a crescer visivelmente bem nutrida. Vasco, o do meio, pega numa caneta e aceita o desafio de escrever o próprio nome. A avó mal consegue esconder o espanto e orgulho quando os vizinhos aplaudem o menino de 8 anos.

Quanto a Melina, não vai deixar de reclamar para os seus netos-filhos o máximo que estiver ao seu alcance: “Quero mais comida, cobertores, roupa e escola. Quero mais de tudo”, exige com determinação. “Hei-de ficar muito contente porque hei-de ver a eles casados, a trabalhar e felizes”.