Ciclone Tropical Gombe em Moçambique
O Ciclone Tropical Gombe aproximou-se de Moçambique a 11 de Março. Com as Províncias da Zambézia e Nampula a sofrer o maior impacto.

Informação Preliminar
(Actualizado: 26/03/2022)
O Ciclone Tropical Gombe, entrou em Moçambique no dia 11 de Março de 2022 com ventos e rajadas de 165 e 230 km/h, respectivamente. O ponto de entrada foi Mossuril, na província de Nampula, as 02:00 horas, impactando as províncias de Nampula, Zambézia e Sofala.
Danos Humanos
- Registo de 63 óbitos (53 em Nampula, 8 em Zambézia, 2 em Sofala)
- 108 pessoas feridas
Impactos na população
- Pessoas afectadas: 736,015 pessoas (correspondentes a 148,253 famílias)
- Pessoas deslocadas: 7,086 pessoas
Casas destruídas
- 63,219 casas parcialmente destruídas, 78,635 casas totalmente destruídas, 9,608 casas inundadas
Outros danos
- 69 unidades sanitárias destruídas parcialmente
- 469 escolas afectadas. 1,458 salas de aulas afectadas, afectando 143,904 alunos
- 8 pontes destruídas
- 2,764 postes de energia danificados
(Fonte: INGD)
Histórias de famílias afectadas

Começou a chover muito ontem (11 de Março) durante a manhã. Mais tarde às 18h começou o vento forte, fiquei com os meus filhos sentada fora da casa. A casa caiu à meia-noite e todas as minhas coisas se estragaram: baldes, cadeiras de plástico, pratos e a própria cama, perdi tudo. Perdi todos os meus bens. Perdi toda a minha comida, principalmente a farinha que se molhou com a chuva e não consegui recuperar.
Eu vivia nesta casa com a minha esposa e com os meus 6 filhos. Na sexta-feira dia 11 de Março, começaram as chuvas e os ventos. Não dormi toda a noite, por volta da meia-noite descobri que a minha casa não estava a aguentar com a tempestade o temporal, e decidi tirar a minha família da casa. Perdi alguns animais e comida.


Estava em casa com o meu filho de 2 anos quando começaram os ventos fortes. Por volta da maia-noite decidi vir para fora pois a casa já estava a começar a cair. Eu estava com muito medo, tinha medo de não conseguir salvar o meu filho. Como a escola fica aqui perto fui para lá com o meu filho. Perdi quase tudo na minha casa. Precisamos de apoio de comida, pois perdemos tudo e precisamos de alimentar as nossas crianças.
Eu vivia nesta casa com a minha mulher Rosalina e os meus filhos Aron de 16 anos, Moisés de 14 anos e Salomão de 12 anos. Quanto começou o vento forte e a chuva ontem (11 Março) à noite, vi que a minha casa não ia aguentar e fugimos para a escola com as crianças. Não conseguimos salvar quase nada. Eu estou com malária e faltam-me forças. Precisamos de ajuda. Não temos casa, não temos comida.


Na noite do ciclone tivemos muito medo, nunca tinha visto um vento tão forte assim. Encontramos abrigo aqui neste centro de saúde, e estamos aqui há 5 dias. Neste quarto o telhado resistiu, a enfermaria também ficou muito cheia porque vinham muitas pessoas de outras zonas do hospital para se abrigar. Foi uma noite que nunca mais vou esquecer. Não sei como está a minha casa, não sei o que lá sobrou, não sei o que fazer agora
Na noite do ciclone fugimos para a casa do meu irmão mais velho. A nossa ficou destruída. Quando passei pela minha escola vi que tinha desaparecido o telhado e tinham caído as paredes. Não sei quando vamos voltar a ter aulas. Vou ter saudades de brincar no recreio com as minhas amigas, estávamos sempre a saltar a corda. Eu gosto de matemática e sonho em um dia ser professora e talvez dar aulas aqui nesta escola.

Resposta do UNICEF
O UNICEF está a trabalhar com o Governo Moçambicano e parceiros para fornecer assistência para salvar vidas de crianças e suas famílias nas áreas afectadas. Esta assistência inclui:
- Envio e montagem de tendas de saúde nas comunidades afectadas
- Apoio aos centros de saúde
- Distribuição de alimentos terapêuticos prontos a usar para tratamento da desnutrição
- Distribuição de kits de higiene, kits de dignidade, kits para famílias
- Fornecimento de água segura, suprimentos de saneamento tais como baldes, sabão e pastilhas de purificação de água (certeza)
- Construção de latrinas
- Criação de espaços de aprendizagem temporários onde as crianças, cujas escolas foram danificadas/destruídas, possam aprender e brincar em segurança
- Distribuição de kits de aprendizagem
- Partilha de mensagens de protecção e prevenção para mitigar o impacto da tempestade, através de rádios nas Províncias e outros e locais, através de unidades móveis multimédia e mensagens (SMS)

Esta última tempestade a atingir Moçambique é um lembrete contundente de que a crise climática é uma realidade e que as crianças são as mais afectadas por eventos climáticos severos relacionados com o clima.