“Quando não falamos sobre um assunto, ele se torna um tabu”
Doações de absorventes da SEMPRE LIVRE® & CAREFREE®, em parceria com o UNICEF, vão além da entrega de um pacote, representam a entrega de conhecimento e de esperança

Ainda hoje, falar sobre menstruação é um tabu e boa parte das meninas crescem com pouca ou nenhuma informação sobre o que é, por que acontece e como se cuidar. Para Adrielle Ferreira Sousa, de São Luís (MA), de 18 anos, a história foi diferente. “A minha primeira menstruação foi uma surpresa e, ao mesmo tempo, eu tive orientação de como lidar quando chegasse a hora. A minha mãe sempre teve esse diálogo, que, para algumas famílias pode ser alguma espécie de tabu, na minha não. Ela sempre tratou sobre esses e outros assuntos comigo e com minha irmã”, relembra.
Embora tivesse diálogos dentro de casa com sua mãe, quando, enfim, chegou o dia, Adrielle se deparou com uma situação inusitada. “Eu sentia muita cólica, mas nunca havia menstruado. Em uma viagem para o interior do Maranhão, eu resolvi ir ao banheiro e lá percebi que eu estava sangrando. Eu disse: ‘meu Deus! está saindo sangue de mim’. Foi aí que eu lembrei que minha mãe havia dito que isso era normal”.
Adrielle foi uma dos milhares de adolescentes e jovens que receberam as doações de absorventes da SEMPRE LIVRE® & CAREFREE®. Cerca de 90 mil pacotes de absorventes foram destinados a São Luís (MA) e ao Recife (PE), 45 mil para cada cidade. Em São Luís, as distribuições ocorreram acompanhadas por rodas de conversas sobre saúde menstrual em terreiros de religiões de matriz africana, escolas e comunidades vulneráveis da macrorregião da Cidade Operária da capital maranhense. Cada menina recebeu dois pacotes de absorventes, mais uma cartilha sobre dignidade menstrual.

A jovem está concluindo o terceiro ano do ensino médio em escola pública e participa do projeto Menina Cidadã, iniciativa do UNICEF, com o parceiro implementador Fundação Justiça e Paz se Abraçarão (FJPA). “As doações de absorventes vão além da entrega de um pacote, elas representam uma entrega de conhecimento e de esperança. Sei da importância que é a entrega dessa doação, pois noto no olhar de cada menina que recebe um agradecimento incrível. Nesse momento de entrega, temos troca de conhecimento e escuta. Somos muitas e buscamos que todas tenham acesso à dignidade menstrual”, almeja a jovem.
“Após a minha primeira menstruação, eu não consegui mais menstruar por nove meses, eu e minha mãe fomos ao ginecologista buscar orientação e ele havia dito que era algo normal, decorrente da primeira menstruação. Mas meu período de menstruação sempre foi delicado. Durante sete dias eu menstruava e sentia muitas dores, inclusive, precisando de medicações e soro. Sempre estava em acompanhamento com o profissional, foi aí que ele me indicou medicamentos e exames. Mas nada de grave foi encontrado. Hoje eu lido bem com meu período menstrual, conheço o meu corpo”.
Para a jovem, falar sobre menstruação é uma oportunidade de tornar o assunto mais prático e discutível, sem tabus.
“Quando não falamos sobre um assunto, ele se torna um tabu. Se encontramos barreiras e não buscamos falar sobre elas, é mais difícil chegar aonde queremos. Se eu falar sobre tais assuntos, como é o caso da menstruação, com todos, incluindo meninos, será muito mais fácil que todos entendam. Se quero igualdade, quero que todos saibam sobre aquele assunto, se adaptem aquela realidade, pois sabemos o quanto a menstruação é algo importante na vida de mulheres e homens trans. Quando eu falo sobre esse assunto, eu torno ele importante e real, isso é o que busco para a sociedade”, diz Adrielle.

Escola e menstruação
Para uma jovem que estava descobrindo tantas coisas sobre seu corpo e a sociedade, Adrielle se viu impedida de sair de casa por conta do seu período menstrual. “A minha menstruação me impedia de sair de casa por conta das dores. Além de alguns mitos que foram repassados para minha mãe e ela me passou. Mas, ao passo que eu fui descobrindo e conhecendo, eu fui instruindo ela”, ensina.
Sua rotina escolar se tornava cada vez mais difícil de cumprir. Estudos prolongados e dores que a impediam de ir até mesmo para as aulas.
“Na escola era muito complicado, por conta de eu estudar em tempo integral e isso era muito ruim de lidar. Às vezes eu faltava as aulas nesse período por não está me sentindo bem. No ensino fundamental foi ainda mais complicado, porque era a minha primeira menstruação e eu ainda não estava no ensino médio. Então acontecia de a menstruação ‘descer’ e eu não perceber, então me sentia muito constrangida. As pessoas tinham dificuldade em lidar, pois elas viam essa situação com muitos tabus”, sinaliza Adrielle.
O difícil acesso ao uso de absorventes em situações como essas de forma gratuita e disponível para todo mundo, acaba dificultando a ida de pessoas que menstruam à escola. “Eu já senti falta de absorventes [distribuídos] gratuitamente na escola. Hoje, no ensino médio, é mais fácil de lidar, porque as discussões são constantes e lidamos melhor. Mas há momentos em que estamos desprevenidas e sentimos falta de um item, absorventes ou medicamentos disponíveis para uma urgência”, reforça.
Menina Cidadã e Elas por Elas
Adrielle teve uma caminhada dentro de projetos sociais de grande mobilização comunitária. Está no seu segundo projeto com o UNICEF. “Em 2020, eu conheci o projeto Elas por Elas do UNICEF, por intermédio do Paulo, responsável pela Fundação Justiça e Paz se Abraçarão (FJPA). Foi por meio desse projeto que conheci as meninas que fariam parte do projeto do qual faço parte hoje. O Menina Cidadã me permitiu ser mais próxima das meninas e das temáticas que discutíamos”, conclui.