Oportunidade de quebrar tabus e ecoar vozes
Danielly Goiabeira, 16 anos, é uma das meninas líderes do Coletivo Menina Cidadã que tem levado rodas de conversas sobre dignidade menstrual para adolescentes de escolas públicas de São Luís

Danielly Goiabeira tem 16 anos e cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Maria José Aragão, em São Luís (MA). Ela é uma das líderes do Coletivo Menina Cidadã, uma iniciativa composta por jovens da macrorregião da Cidade Operária e Cidade Olímpica que enfrentam juntos a desigualdade social, a falta de informação, o racismo, a violência de gênero, o baixo acesso à educação e trabalho nas suas comunidades. Com o apoio do UNICEF, o Coletivo tem levado rodas de conversas sobre dignidade menstrual para adolescentes de escolas públicas da capital maranhense.
Danielly e os outros jovens do Coletivo têm se tornado líderes, referências e exemplos inspiradores no seu bairro e em toda a capital, ecoando as vozes de outros meninos e outras meninas que pedem mais respeito aos seus direitos. Um dos exemplos e uma das principais pautas do Coletivo é a dignidade menstrual. Por meio de rodas de conversas em escolas públicas do Maranhão, adolescentes e jovens compartilham saberes e experiências que têm acumulado já tão precocemente, ao vivenciar em suas comunidades e famílias os impactos da falta de políticas públicas que assegurem absorventes, água, sabão e banheiros adequados para garantir o direito à autonomia corporal e à autodeterminação para as pessoas que menstruam nos espaços das escolas públicas.
Foi justamente numa dessas rodas que Danielly conheceu o Coletivo Menina Cidadã, em 2021. O tema e a forma do trabalho das e dos jovens chamaram sua atenção: “Houve uma palestra no Maria Aragão sobre dignidade menstrual. Foi um momento muito marcante, porque as meninas conversaram com a gente sobre um tema que era considerado tabu – a nossa menstruação, nossos ciclos e a existência da pobreza menstrual. Existem adolescentes muito vulneráveis que não têm acesso aos absorventes nem às informações. A palestra me chamou muito atenção porque, apesar de ter noção sobre menstruação, ainda era algo sobre o que eu não conversava muito. Eu tinha muitas dúvidas… ao mesmo tempo queria compartilhar algumas coisas que sabia sobre o assunto”, explicou.
Embora a menstruação seja um fenômeno biológico natural e saudável, ainda há milhões de pessoas que menstruam e não têm acesso aos itens básicos para higiene menstrual. A falta de conhecimentos, insumos e infraestrutura necessária para vivenciar a menstruação de forma digna e saudável é a pobreza menstrual – uma realidade muito grave no Maranhão, afetando especialmente famílias vulneráveis, das áreas periféricas, rurais e populações tradicionais. O tema é ainda um tabu entre muitos adolescentes e jovens, tratado como vergonha para o corpo e a identidade de muitos deles se transformando numa barreira para o pleno conhecimento sobre si mesmos.

Danielly lembra dos olhares de dúvida e vergonha das adolescentes com quem conversa sobre menstruação. “Infelizmente, existem muitas meninas que não conhecem seu próprio corpo, não têm acesso ao básico e pra quem a menstruação é um tema que não se pode falar. Então, a possibilidade de ampliar as discussões sobre dignidade menstrual é uma experiência única, não só pra construção das meninas que me ouvem, mas também para minha própria, como uma menina mobilizadora. Nós temos a oportunidade de escutar essas adolescentes. As rodas de conversa são um ambiente acolhedor em que elas são ouvidas. É preciso que esses tabus sejam quebrados pelas nossas vozes”, destacou.
A falta de um ambiente seguro, limpo, com água, sabão e papel higiênico nas escolas afeta também as capacidades de aprendizagem, intensifica a ansiedade entre adolescentes e jovens, limita a socialização e reforça a segregação histórica de meninas por sua condição de gênero. É assim que a pobreza menstrual acrescenta mais impactos negativos ao desempenho escolar, contribuindo com a exclusão escolar, a falta de acesso a oportunidades e às dificuldades de desenvolvimento de potencialidades para a vida profissional. São 713 mil meninas brasileiras (UNICEF, UNFPA 2021) sem acesso a banheiro ou chuveiro em casa e mais de 4 milhões nas escolas. E no caso do Maranhão, o estado tem o segundo maior percentual do País de alunas do 9º ano totalmente sem acesso aos itens básicos de higiene nas escolas.
Quando chegou o convite para participar do Coletivo, Danielly abraçou a oportunidade. “Fiquei muito feliz, porque queria continuar aprendendo e ajudar outras adolescentes também. Participei dessa primeira ação e depois de outras e, assim, ingressei no projeto. Hoje, faço parte dessa rede de jovens e tenho a oportunidade de conversar com outras meninas, conhecer histórias de vida, enxergar outras realidades e levar adiante os conhecimentos que venho aprendendo”, contou.
Danielly, que sonha em se tornar psicóloga, diz que se olhar como uma Menina Cidadã é se olhar como representação. “Eu tenho aprendido a me olhar como inspiração e a voz de cada uma dessas meninas, porque eu sei que muitas têm receio de falar, de perguntar. Sempre digo que posso ser a voz delas por alguns instantes para que, quando elas se sentirem confortáveis e prontas, sejam a sua própria voz. A Danielly antes do coletivo é completamente diferente da Danielly depois: eu me tornei uma cidadã mais consciente dos meus direitos e com uma perspectiva de vida muito mais plena do que eu posso fazer. Isso tudo faz eu continuar mobilizando outros jovens, dialogando sobre assuntos importantes para que nós, jovens, possamos continuar ocupando espaços e mobilizando outros, porque, se um dia eu não puder mais continuar, outros vão dar continuidade”, ressaltou.

Água e Higiene nas Escolas, e Dignidade Menstrual – Os recursos destinados pela Americanas S.A. ao programa viabilizaram a instalação de pontos de lavagens de mãos, capacitação em protocolos de saúde e atividades de promoção de saúde menstrual e também a doação de kits de higiene e insumos, como absorventes íntimos para meninas, mulheres e meninos trans. No total, foram 33 escolas de Manaus (AM) e São Luís (MA) e seus entornos, impactando a vida de mais de 4 mil crianças e adolescentes e capacitando mais de 250 gestores.