“O preconceito pesa muito para jovens periféricos quando vão entrar no mundo do trabalho”
Participante do projeto Chama na Solução Rio de Janeiro, José Wallison criou com outros jovens a iniciativa Empresa Poética para facilitar o acesso da juventude das favelas ao mundo do trabalho

“Como jovem negro, de periferia, eu sei o quão difícil é ocupar um lugar de protagonismo e ter o poder de fazer escolhas”. Essa foi a grande motivação para José Wallison Souza de Nascimento, 18 anos, se inscrever no projeto Chama na Solução Rio de Janeiro, iniciado no final de 2019 pelo UNICEF em parceira técnica com o Cedaps. O projeto tem como objetivo desenvolver com jovens e adolescentes soluções criativas para aproximar a juventude da periferia do mundo do trabalho.
Nascido em Teresina (PI), Wallison veio morar no Rio de Janeiro aos seis anos de idade acompanhando sua mãe e irmãs. Desde então, vivem juntos no Complexo da Maré, localizado na Zona Norte da cidade. Atualmente, o jovem é estudante de medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
“A gente vê adolescentes do lugar onde a gente mora, que até estudaram com você no colégio, mas não tiveram muitas escolhas, acabarem no tráfico de drogas para sustentar a família. Eles não conseguiram ingressar em trabalhos e foram rejeitados, porque não completaram o grau de escolaridade exigido pelo mercado”, conta Wallison. Mais uma razão para ele querer participar do Chama na Solução e buscar estratégias para que mais jovens das favelas tenham acesso a oportunidades de renda e trabalho.
Durante o projeto, Wallison e seu grupo idealizaram a Empresa Poética. A proposta é desenvolver atividades que simulem processos seletivos mais humanizados e que destaquem qualidades geralmente ignoradas.

“O preconceito pesa muito para jovens periféricos quando vão entrar no mundo do trabalho. Muitas empresas ainda olham para nós, adolescentes periféricos, e repetem: “não faz o perfil da minha empresa” ou “não vai agregar muito” e escolhem uma pessoa branca, de uma classe econômica superior”, descreve Wallison.
Com a pandemia do novo coronavírus, o desafio se intensificou. “Neste cenário de Covid-19, o trabalho se tornou uma coisa escassa. O que continuou funcionando exige nível técnico ou um nível de escolaridade bem superior”.
“Os jovens negros e periféricos estão sempre em trabalhos precários sendo os mais expostos a dificuldades – o que se agrava em cenários de crise como esta que estamos vivendo”
O processo criativo da Empresa Poética surgiu nos encontros da Jornada de CriAção, do projeto Chama na Solução. Wallison conta que seu grupo é formado por jovens negros, periféricos, que ainda não conseguiram ingressar no mundo do trabalho. Vivemos as mesmas experiências, conhecemos os desafios para a juventude que está em busca de um emprego, o que aumenta a nossa empatia”, destaca o jovem.
“Nós pretendíamos fazer um trabalho muito legal pessoalmente. Trabalharíamos a expressão por meio do teatro e da arte. Com a crise do coronavírus, a proposta foi muito impactada porque precisávamos desse calor de estar juntos com os jovens”. O projeto foi então adaptado da seguinte forma: o grupo criou uma página no Instagram (@empresapoetica) e um site – ainda em construção – em que vão colocar os mesmos conteúdos que teriam nas oficinais presenciais. Ao mesmo tempo, a Empresa Poética já começou a fazer lives com profissionais das áreas abordadas.
“Queremos contribuir não só por meio da nossa solução, mas também em parceria com outros grupos do Chama na Solução. Entramos em contato com uma pessoa que monta máscaras, e assim já começamos a distribuir em algumas comunidades”, completa o jovem.