“O melhor da favela são as pessoas”
Aos 15 anos, Maia quer ser advogada e mudar o mundo começando pelo seu bairro na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro

Nascida no município de Magé, na Baixada Fluminense, Letícia Maia sempre foi atenta às desigualdades sociais e sonha em fazer sua parte para mudar o mundo. Hoje, aos 15 anos, vive no bairro de Costa Barros, parte da região administrativa da Pavuna na Zona Norte do Rio de Janeiro, e segue acreditando que os adolescentes e jovens têm o poder de fazer seu sonho se realizar.
Seja na Baixada ou na Zona Norte, Maia conta que o senso de justiça sempre a guiou. Foi ao entrar para o Zona Nossa, uma iniciativa da #AgendaCidadeUNICEF em parceria com a ONG Luta pela Paz, que encontrou outras pessoas da sua localidade que enxergam o potencial da juventude em fazer a diferença. Dentro do projeto, integrou o Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca), coletivo de adolescentes e jovens da Pavuna e do Complexo da Maré, também na Zona Norte. Juntos eles refletem sobre seus territórios e onde pensam soluções para o desenvolvimento da juventude local.
A partir dos encontros com o grupo, a adolescente passou a refletir sobre o contexto da região da Pavuna. “Uma das coisas que eu sonho para a Pavuna é mais segurança e que um dia os jovens daqui possam dormir com a certeza de que vão acordar na próxima manhã”. Segundo o IBGE, dos 200 mil habitantes da Pavuna, 55 mil têm até 19 anos. Não por acaso, Maia vê nessa faixa da população o potencial de transformar a própria realidade.
Da mesma forma que o enfrentamento da violência, eixos como saúde, educação e empregabilidade foram explorados pelos participantes do Nuca na elaboração de um plano de governo que reivindica melhorias para ambos os territórios. Junto dos colegas de coletivo, Maia entendeu que há mais semelhanças do que diferenças entre suas localidades e que o plano foi uma forma de ampliar as vozes de jovens que não costumam ser ouvidos. “O direito à fala é uma coisa muito importante, porque nós somos o futuro e o presente”.
Além de as ações do poder público, Maia acredita que o olhar de quem é de fora sobre as periferias precisa mudar. “O melhor de Costa Barros são as pessoas”, conta. Para a adolescente, o preconceito pode ser combatido ao conhecer quem vem de favela para além das manchetes de jornais. “Quem não é daqui acha que favela só tem violência, mas eu amo ela porque é um ambiente muito rico”.
Maia diz também que a mobilização com o coletivo a fez ver ainda melhor a diversidade entre os próprios jovens do Nuca. “É incrível estar em um lugar com pessoas iguais a você, mas com interesses completamente diferentes dos seus. O Zona Nossa ampliou minha visão”.
Com o horizonte ampliado, a jovem considera formas de continuar seu projeto de mudar o mundo. No momento, pensa em se articular com projetos sociais que ajudem adolescentes de Costa Barros a ter acesso à informação. Num futuro próximo, o objetivo é entrar para a faculdade de Direito e se tornar advogada criminalista. Mesmo sabendo que as barreiras sociais e de gênero podem surgir, Maia não desanima. “É difícil, mas ninguém muda o mundo calado. Alguém começou lá atrás e a gente está continuando agora”.
Sobre o Zona Nossa
Em 2022, o UNICEF, em parceria com a Luta pela Paz, realizou a segunda edição do projeto Zona Nossa, com o engajamento de 350 adolescentes e jovens da Maré e Pavuna, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. O objetivo foi criar oportunidades e apoiar adolescentes em situação de vulnerabilidade social para que continuassem seus estudos, acessassem vagas de formação e emprego, bem como estivessem mobilizadores em suas comunidades, por meio do acesso à tecnologia, à internet e a atividades de formação cidadã, e construir o Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca) na Pavuna.