A importância da ajuda
UNICEF e Via Varejo entregaram 150 kits de higiene e 150 kits de saúde menstrual para adolescentes e suas famílias na comunidade quilombola do Abacatal, em Ananindeua, no Pará

“Muitos rastros esta pandemia vai deixar. Muitas marcas também”, diz Vanusa, iaô líder espiritual da comunidade quilombola do Abacatal, em Ananindeua, próximo a Belém, no Pará. Ela já é a quinta geração de sua família no território, que, conforme ela conta, tem 311 anos. A pandemia foi um novo desafio para a história da comunidade, que sofreu com a infecção pelo coronavírus, mas principalmente com os efeitos na renda e na rotina de muitas famílias. “Ninguém estava preparado para ficar em casa. Tinha uma rotina, ia para o trabalho, voltava”, diz a líder.
“Na alimentação, tivemos dificuldade; no trabalho, também, porque meu marido e minha mãe ficaram desempregados”, conta Joane Silva, de 17 anos. Para ajudar adolescentes e famílias da comunidade neste período, o UNICEF, em parceria com a Via Varejo, levou para as meninas quilombolas 150 kits de higiene menstrual contendo itens essenciais como absorventes, e mais 150 kits de higiene para a família de cada uma. “Foi um período bem difícil, mas a gente recebeu muita ajuda, muita doação. A gente é muito grato por ter essa ajuda, esses parceiros e esse olhar mais humano”, completa Vanusa.

Além de receber doações, meninas adolescentes de toda a comunidade participaram de uma roda de conversa sobre saúde menstrual, na qual puderam tirar dúvidas e falar sobre saúde das mulheres. A cartilha “Menstruação na pandemia e outras coisinhas +” compôs o kit, levando informações sobre a primeira menstruação, o ciclo menstrual e como buscar os serviços essenciais de saúde e proteção durante a pandemia.
Joane participou da roda de conversa. Ela conta que sempre teve a mãe para conversar sobre o tema, mas muitas meninas não têm essa possibilidade na comunidade. Para Joane, receber os kits de higiene menstrual foi muito importante, principalmente por conta dos absorventes. “Existem muitas meninas que os pais não têm dinheiro e faz falta, ficam com vergonha de pedir para outra pessoa. Algumas estão precisando e não tem em casa”, explica a adolescente.
Outros desafios na pandemia
A família de Mariane Teixeira, de 12 anos, também recebeu as doações. Ela conta que sua família passou por momentos difíceis na pandemia, com a falta de alguns alimentos. “Quando faltava comida, a gente ia à casa da nossa avó. Ela mora aqui e podia ajudar a gente. Aí quando faltava lá para eles, eles iam almoçar lá na nossa casa”, diz.

A pandemia trouxe, ainda, dificuldades para que a menina e sua mãe se mantivessem aprendendo. Maria Ediléia, mãe de Mariane, cursa História em uma universidade em Belém. “Eu levantava às 4 horas da madrugada para sair daqui às 5h e chegar à faculdade às 8h, pegando todo o trânsito, ônibus lotado, para chegar no horário da aula. Era uma vida muito corrida, e de repente você para”, lembra ela. Com universidade e escola fechadas, mãe e filha passaram a compartilhar um único celular – com dificuldades de conexão à internet – para as aulas online. “Eu estou dando preferência para ela, eu nem estou assistindo mais à aula”, conta Maria Ediléia.
Ela parou de estudar no ensino fundamental e voltou anos mais tarde para concluir a escola por meio da educação de jovens e adultos (EJA), conseguindo chegar à universidade. Tendo passado por tantas dificuldades para conseguir aprender, a preocupação de Maria Ediléia durante a pandemia é justamente o prejuízo para o aprendizado de Mariane. Por causa da dificuldade com a conexão, a menina não tem conseguido acompanhar todas as aulas, e a mãe tenta ajudar ao máximo nas atividades impressas.
“Eu aprendo mais ou menos, porque às vezes eu não entendo muito e pergunto pra professora, mas está sendo um pouco ruim e eu estou com muita saudade da professora”
Segundo a mãe, a escola da comunidade tem sido de grande apoio, com acesso à internet para os estudantes do Abacatal. A união da comunidade também tem sido essencial neste período, já que algumas casas têm um melhor sinal de internet e ajudam reunindo as crianças, mas o serviço é instável, principalmente quando há chuva ou vento. “E é muito difícil, porque você está na sala de aula, você tira a dúvida na hora com o professor, e pela internet não dá, porque o sinal fica caindo”, explica.
Por isso, Maria Ediléia tem se esforçado para ajudar a filha: buscou livros didáticos na escola, conversa com as professoras, e tenta dar apoio nas lições de casa. O desejo agora é que este período passe logo, que a comunidade possa ser vacinada, e que a pandemia sirva para o crescimento pessoal. “Eu espero que a gente volte melhor do que era antes da pandemia. Que as pessoas sejam mais solidarias, mais humanas umas com as outras”, completa Maria Ediléia, com esperança.