“A violência vai acabar quando falarmos sobre ela”
Ryan Silva, de 17 anos, mora na Cidade Tiradentes, em São Paulo, e defende que uma periferia menos desigual é aquela com mais educação e estrutura

“Se a gente começar a falar de violências, provavelmente as próximas gerações não vão passar por isso. A gente não pode voltar ao passado e desfazer as violências que aconteceram, mas tem como eu quebrar o ciclo”.
É com essa determinação de compartilhar conhecimento e quebrar ciclos intergeracionais de violência que Ryan Honorio Silva, adolescente de 17 anos, se inscreveu para o processo seletivo da Rede Passa a Visão – uma iniciativa do UNICEF em parceria estratégica com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e em parceria de implementação com a ONG Serenas, que visa implementar metodologias de mudança de comportamento social para a prevenção das múltiplas formas de violências contra crianças e adolescentes.
Uma das frentes de trabalho do projeto é a formação de uma Rede de Adolescentes e Jovens Comunicadores, da qual Ryan faz parte. O objetivo é levar informações confiáveis e relevantes sobre como prevenir e denunciar as múltiplas formas de violências contra crianças e adolescentes para outros adolescentes, jovens e moradores da Cidade Tiradentes – território prioritário da #AgendaCidadeUNICEF no município de São Paulo.
O adolescente tem um dia a dia corrido. Acorda às 4h da manhã para chegar até Santo Amaro no curso de Tecnologia da Informação e, em 2022, inseriu em sua rotina a participação na iniciativa Passa a Visão, por meio da qual ele e outros 46 adolescentes e jovens tiveram suas competências fortalecidas nas temáticas de violências contra crianças e adolescentes, violências de gênero, racismo, branquitude e políticas públicas, além de aprender como criar estratégias de comunicação comunitária.
Filho de mãe paulista e pai baiano, Ryan diz que sua história é parecida com a de outros jovens. “Eu sou um garoto periférico, meu pai é preto e minha mãe é branca. Não sou tão diferente da maioria das pessoas”. No entanto, ele se destaca em muitos aspectos. Desde pequeno, interessado por literatura, Ryan conta que lia por horas e preenchia cadernos inteiros com desenhos e cenas de histórias. Diz que esse hábito é só dele, pois na família poucas pessoas liam. “Os livros servem muito para abrir a mente e expandir a realidade”, explica.
O estudante já se engajou em uma série de projetos e serviços da rede de proteção durante sua infância e adolescência. No Projeto Passa a Visão, o adolescente liderou um grupo que criou uma página no Instagram (@passaavisaooficial) para compartilhar, por meio de textos e imagens, os conhecimentos adquiridos durante a formação em 2022. “A violência só vai acabar quando a gente falar sobre ela”, afirma.
O grande sonho de Ryan é estudar Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV), e conseguir ajudar a construir um país com menos desigualdade. “Não tem como mudar só a Cidade Tiradentes, tem que pensar toda a periferia de São Paulo. Uma periferia menos desigual, com mais educação, com mais estrutura. A violência só pode acabar quando a desigualdade também acabar. Para chegar lá, eu acho que a gente tem que começar pelas escolas”, defende.