Mulher zela por irmã com deficiência

“Quando a mamã nos deixou, ficámos a sofrer sempre.”

Claudio Fauvrelle
Mulher zela por irmã com deficiência em Moçambique
UNICEF Moçambique/2011/Mark Lehn
04 Janeiro 2013

Changara, TETE - Júlia sofre de uma deficiência psicomotora profunda (tem uma mobilidade muito reduzida e não fala), no entanto é mãe de duas meninas, uma com 12 anos e outra com 7. As filhas têm pais diferentes, ambos desconhecidos. É difícil imaginar o nível de abusos a que terá sido sujeita, sem poder defender-se, para poder conceber.

Registando avanços significativos nos últimos anos, em 2012, Moçambique aprovou o Plano Nacional de Acção para a Área da Deficiência, que estabelece as prioridades de intervenção em prol das pessoas com deficiência. O Plano Nacional de Acção para a Criança 2013-2019 contempla igualmente a protecção das que vivem com deficiência.

Com idade rondando os 30 anos, Júlia vive com a irmã Rosa, de 28, num bairro da cidade de Tete, desde que, em Janeiro de 2012, faleceu a mãe – ela própria deficiente. As filhas frequentam a escola, tendo a mais velha completado a 5ª classe e a mais nova a 1ª.

Rosa, por sua vez, tem dois filhos: um de 4 anos e outro com 9 meses. No ano passado, vivia no distrito de Changara, com o pai dos filhos, até que este faleceu. Pela mesma altura, a mãe adoeceu com malária e ela voltou à casa materna para cuidar dela. “Comecei a fazer sumo de limão, papa e sopa”, recorda.

“Quando a mamã nos deixou, ficámos a sofrer sempre”, continua Rosa, embalando o bebé nos braços. “Então nós começámos a explicar ao INAS que estamos mal, não temos nada para dar a essas crianças”.

Devido à sua condição, a mãe recebia um subsídio mensal de 220 meticais. Após a sua morte, Rosa conseguiu reclamar o valor mensal em nome da irmã, pelo mesmo motivo. Segundo a Lei sobre a Protecção Social, aprovada em 2007, a protecção social básica deve abranger os cidadãos que estão impossibilitados de trabalhar ou que não têm meios para satisfazer as suas necessidades básicas, incluindo: pessoas em situação de pobreza absoluta; crianças em circunstâncias difíceis; idosos em situação de pobreza; pessoas portadoras de deficiência em situação de pobreza absoluta; e pessoas com doenças crónicas ou doenças degenerativas.

As duas irmãs vivem agora sozinhas com as quatro crianças, recebendo algum apoio da família do falecido pai dos seus filhos. Com essa ajuda, Rosa está a construir uma casa, onde ficará a viver com os seus meninos.

A Júlia irá receber uma casa que esta a ser construída com apoio do INAS. “Há muito tempo, aqui, quando chovia, entrava água”, recorda Rosa sobre a precária habitação onde se encontravam antes. “Esta casa já estava a cair”.

Apesar de ter poucas perspectivas de conseguir trabalho, Rosa está consciente da sua responsabilidade para com a irmã e as sobrinhas. Quase a completar 30 anos, teve coragem de frequentar a escola e terminou a 7ª classe. “Sou a única que posso ajudar para esta casa toda. Aquilo que conseguirmos, vamos comer”, reconhece. “Vamos ficar aqui nestas casas e pedir ajuda”.