“Os jovens querem ser ouvidos sem julgamento”
Sandrini Matos e Vanessa Marques são atendentes do Pode Falar, plataforma de saúde mental que funciona de forma anônima e gratuita
No meio da intensa rotina de estudante da faculdade de serviço social, há um ano a jovem Sandrini Matos, 25 anos, integrante do Grupo de Pesquisa Josué de Castro da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), atua como atendente voluntária do Pode Falar, o canal online de ajuda em saúde mental criado pelo UNICEF e rede de parceiros. Do outro lado da tela, ela faz parte da equipe que acolhe adolescentes e jovens de 13 a 24 anos que procuram apoio na plataforma para falar sobre seus sentimentos e angústias.
No Pode Falar, Sandrini oferece sua escuta atenta para anseios dos mais diversos tipos. “Durante os atendimentos, aparecem muitos casos relacionados a conflitos afetivos e amorosos, também jovens com crise de ansiedade, com preocupação com o futuro, o que vai ser daqui para frente, com baixa autoestima, com algum conflito familiar dentro de casa”, diz. “E eles querem alguém para poder desabafar sobre isso”, completa.
A estudante universitária Vanessa Marques também reserva parte do seu tempo aos atendimentos do Pode Falar. Ela atua, desde abril de 2023, como voluntária da plataforma e conta que aprendeu muito durante esse período. “O que mais me marcou foi perceber que o diálogo é essencial no tratamento com os adolescentes, porque, se não há diálogo, eles se fecham, não conseguem demonstrar seus sentimentos e o que está acontecendo dentro deles”.
Vanessa acredita que os adolescentes e jovens procuram o Pode Falar porque encontram na plataforma um lugar onde podem ser ouvidos. “Eu acho que o Pode Falar ajuda os adolescentes na questão do convívio social, pois muitos adolescentes se fecham, eles não conseguem conversar com os pais ou responsáveis, nem com os amigos, com o professor, às vezes nem com os orientadores da escola. Então é um canal que se dispõe a escutar, e onde eles podem demonstrar seus sentimentos escondidos”, diz.
O Pode Falar possui três seções. Na primeira, "Quero me cuidar", os usuários encontram materiais com orientação para o autocuidado. Na segunda, "Quero me inspirar", deixam depoimentos sobre como superaram situações difíceis. E a seção "Quero falar" direciona para o atendimento humano via chat, ofertada por pessoas formadas para trabalhar com as adolescências e juventudes em um modelo multidisciplinar baseado na escuta acolhedora e sem julgamento. O serviço funciona em regime de plantão, todos os dias, exceto domingo e feriados, das 8h às 22h, horário de Brasília.
Para Sandrini, canais de escutas como o Pode Falar poderiam estar em outros ambientes, como a escola, por exemplo. “Os jovens querem ser ouvidos e não querem ser julgados. As escolas, eu acredito, poderiam ser locais apropriados para escutas assim, uma vez que é nelas onde os jovens passam a maior parte do dia”, pontua.
Com o trabalho de atendente do Pode Falar, Sandrini diz que aprendeu a ter uma escuta atenta, acolhedora e sem qualquer tipo de julgamento. “Muitos jovens entram no Pode Falar e desabafam, começam a contar sua história e depois falam ‘Obrigado, estou mais calmo, obrigado por me ouvir’. Já me deparei com jovens que tinham quase a minha idade e quando revelo isso a eles, ficam muito felizes e se sentem mais acolhidos ainda”, conta.
A jovem define o trabalho com uma palavra: gratificante. Principalmente quando lê os feedbacks que recebe após o atendimento. “Coisas como ‘muito obrigada por ter me ouvido sem julgar, muito obrigada por ter prestado atenção na minha história’ mostram a confiança deles no canal, porque muitos relatam falta de ser ouvidos até o final de suas histórias”, afirma.
Pode Falar – O Pode Falar, canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, oferece materiais, testemunhos e ajuda de profissionais, que recebem formação contínua e supervisão de professores universitários e atendem de forma anônima e gratuita por meio de um chatbot, que pode ser acessado pelo site podefalar.org.br ou pelo WhatsApp (61) 99660-8843 ou pelo Telegram pelo link: https://t.me/canalPodeFalar_bot . Para o projeto, o UNICEF conta com parceria estratégica do Grupo Profarma.