É possível fazer arte com o lixo
Jovem participa da formação sobre gestão e valorização de resíduos e amplia a sua visão sobre o papel do catador junto da sua cooperativa na comunidade em que reside.

Luanda, 29 Junho de 2023 – Rebeca Bento Luís, jovem catadora de 26 anos de idade, natural de Luanda, nasceu e cresceu no seio de uma família de poucos recursos, mas os seus pais, apesar de não terem muitas condições financeiras, conseguiram colocá-la na escola, chegando a concluir o ensino médio aos 18 anos.
Ser licenciada em análises clínicas foi o seu maior sonho, porém, enquanto estudante do primeiro ano, engravidou, e a família deixou de custear a sua formação académica. Teve de desistir de seu sonho.
Aos 19 anos de idade, Rebeca viu-se abandonada pelos pais e passou a morar na casa de sua tia. Em momento de dificuldades, recebeu a informação sobre um processo de recrutamento de catadores numa cooperativa de limpeza em Luanda. “Não pensou duas vezes”, inscreveu-se logo a seguir.
“Minha amiga me informou que na rua tem uma cooperativa que está a receber documento, sem olhar atrás, eu fui, na altura a COLIMPA era na rua, demos os documentos e nos ligaram no dia seguinte para começar a trabalhar”.

A Cooperativa COLIMPA, situada no município do Cazenga, surgiu da necessidade de se garantir a limpeza urbana, tem como finalidade colocar as ruas limpas e fora dos riscos de doenças causadas pelo lixo e águas paradas, angariar fundos para a sustentabilidade da comunidade em questões de saúde e promover a educação ambiental.
Encantada pelo propósito de ver a sua cidade limpa, para a Rebeca, a catação deixou de ser apenas uma ocupação necessária para cobrir as suas despesas pessoais e familiares, mas também uma paixão, uma oportunidade de contribuir para que cada resíduo tomasse o destino certo, e que provocasse o menor risco possível ao ambiente.
Daí nasceu o interesse de transformar os resíduos em arte, praticar a reutilização de objectos descartados pelas famílias para torná-los úteis para o consumo. Com a Rebeca, o “lixo” transforma-se em peças como pastas, cofres de dinheiro, quadros artísticos e vasos para as plantas.
Em Junho de 2023, Rebeca foi indicada pela sua cooperativa para participar da formação sobre Saneamento Condominial e Gestão de Resíduos, organizada pelo UNICEF.

Entusiasmada, Rebeca Luís diz que, durante os dois meses de formação, aprendeu que “é possível associar a comunidade com a cooperativa, implementar projectos dentro da comunidade, promover maior reaproveitamento e rentabilidade dos resíduos, a constituição de cooperativas voltadas ao ambiente e elas podem trabalhar em coordenação com o Governo”.
A formação é resultante do projecto “Melhoria de serviços de Saneamento, Água, Higiene e Gestão de Resíduos em Angola”, uma iniciativa de Cooperação Trilateral Sul-Sul resultante da parceria entre o Governo de Angola, o UNICEF, e o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS).
“É possível fazer arte com resíduos. Nós recolhemos o lixo, separamos os resíduos reaproveitáveis, lavamos e transformamos em arte”, explicou.
A experiência que fez nascer um novo sonho
Após anos de trabalho em limpeza urbana, catação e transformação de resíduos sólidos, em Rebeca nasceu um novo sonho: formar-se em engenharia ambiental. A jovem conta que a materialização deste sonho vai lhe permitir contribuir de forma mais sistemática para as questões ambientais.
“O meu sonho é formar-me em engenharia Ambiental, me apaixonei com o meio Ambiente desde o momento que aprendi a amar o meu trabalho, eu me entrego todos os dias para fazer o melhor sempre, mesmo às vezes errando”.
Para ela, o trabalho de catação de resíduos também tem benefícios para as crianças, porque as ajuda a crescerem saudáveis, longe das doenças causadas pelo lixo. “A cooperativa proteje as crianças a não poderem apanhar doenças no lixo e a não terem uma saúde debilitada”, afirmou, sobre a importância do trabalho da Cooperativa COLIMPA e a necessidade de se acabar com o lixo desordenado para evitar doenças nas comunidades, sendo as crianças as mais vulneráveis.
De acordo com a Rebeca, o Projecto Melhoria de Serviços de Saneamento, Água, Higiene e Gestão de Resíduos em Angola é uma oportunidade para a sua cooperativa, pois permite que os catadores sejam mais valorizados.
“É uma oportunidade para mim e para a minha cooperativa, porque é o que nós sempre desejávamos, o catador em Angola não tem uma visibilidade e valorização, através desse projecto vemos a ser mais respeitada”.
Actualmente, os dias da Rebeca têm sido de inspiração, trabalho em equipa e de luta pela preservação do ambiente. Tal como afirma, com este trabalho e a formação, sente-se a alegria dos pais e permanece o desejo de fazer mais para dar o sustento e garantir um futuro melhor para os seus dois filhos, de seis e dois anos de idade.
“Amo o meu trabalho e pude notar a alegria nos olhos do meu pai quando ele recebeu os certificados que ganhei dos cursos que fiz no UNICEF e sei que assim também posso dar uma vida melhor aos meus filhos, que são o meu maior amor e a minha força”, disse, visivelmente emocionada.
Com o dinheiro que ganha da catação, Rebeca diz ter conseguido suportar as despesas da celebração do seu casamento e, hoje, através deste trabalho, tem sido possível sustentar o seu lar.
