Aqui, brincar é coisa séria
O centro de recursos fornece aos profissionais da educação pré-escolar os recursos necessários para apoiar e promover o desenvolvimento cognitivo das crianças através de brincadeiras

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A Henriquela está feliz por estar aqui, mas ainda não está pronta para se despedir da mãe. Antes de correr para brincar com os amigos, a menina de quatro anos abraça a mãe e sobe-lhe às costas uma última vez, a rir. A menina frequenta o Jardim de Infância Comunitário de Missira, em Bissau, capital da Guiné-Bissau.
"Ela gosta muito do jardim de infância e aprendeu muito desde que entrou", diz Ezequiela N'djale, a mãe de Henriquela. "Eu vi uma grande mudança na sua educação", acrescenta a mãe.


O jardim de infância de Missira fica bem ao lado do Centro de Recursos do RENAJI-GB, um espaço onde professores de educação pré-escolar e profissionais da educação podem requisitar material para investigação ou para preparar aulas e atividades.

"O material do centro de recursos ajuda-nos, enquanto educadoras, a fazer o plano diário das nossas atividades", diz Aramata Mané, uma das educadoras de Henriquela no Jardim de Infância Comunitário de Missira. "A educadora pode pedir um livro emprestado e fazer as atividades facilmente, porque a criança precisa de ver imagens para aprender", continua Aramata.

O centro de recursos é gerido pela Rede Nacional de Jardins de Infância (RENAJI) e foi financiado pelo UNICEF, com fundos para a educação provenientes do Reino de Espanha e do Reino da Noruega. Desde a sua criação, em 2021, o centro de recursos tem vindo a receber mais livros e materiais educativos, doados por pessoas e organizações da comunidade. É o primeiro centro de recursos deste género no país.

O centro de recursos foi criado a pensar nos profissionais da educação infantil e o material disponibilizado cumpre dois propósitos: estimular o desenvolvimento das crianças e permitir que os adultos aprendam a envolver as crianças em atividades estimulantes que desenvolvam as suas competências cognitivas e sociais. "Estamos a iniciar o caminho da educação infantil no país, então precisamos de fazer com que os educadores entendam o que acontece com a criança em termos de desenvolvimento quando ela brinca", explica Carla Jauad, Especialista em Desenvolvimento da Primeira Infância do UNICEF. Aqui, "brincar é coisa séria".


"Muitas vezes as crianças do jardim de infância de Missira vão ao centro de recursos para brincar com jogos que ajudam a desenvolver as suas capacidades cognitivas", diz Ensa Camara, técnico da Rede Nacional de Jardins de Infância, enquanto mostra os jogos, puzzles e materiais do quotidiano que os educadores requisitam.

"Quando estão a brincar, as crianças não pedem ajuda aos educadores. Aprendem com os seus próprios erros até acertarem", ele conta. Os educadores de infância que utilizam metodologias centradas na criança esforçam-se por fazer com que as crianças se sintam suficientemente seguras para cometerem erros e tentarem de novo, para que possam alcançar o êxito ao seu próprio ritmo.
Como o material é sobre em educação, o centro de recursos não ajuda apenas as crianças. Zinaida está no último ano da sua licenciatura para se tornar educadora de infância e a sua tese final é sobre "A contribuição da metodologia de Maria Montessori no processo de desenvolvimento cognitivo de crianças de 4 e 5 anos". Aqui, ela encontra livros, materiais e práticas que a ajudam na sua investigação. "Frequento muito o centro de recursos", diz Zinaida.

O centro serve os educadores de Bissau, mas também atrai profissionais de outras regiões, que são obrigados a percorrer longas distâncias em estradas danificadas para o visitar. "Há necessidade de criarmos mais centros de recursos noutras regiões", diz Ensa.
A Rede Nacional de Jardins de Infância reúne-se frequentemente com educadores de infância de todas as regiões do país, para realizar formações de capacitação e ouvir as principais dificuldades de quem trabalha com crianças vulneráveis em zonas de difícil acesso. "A falta de materiais torna a prática pedagógica muito difícil para quem trabalha com a primeira infância", acrescenta.

No jardim de infância de Missira há também materiais do dia a dia, como copos, tábua de lavar, toalhas, chaves e caixas. Estes são os materiais da "vida prática", de acordo com Ensa. Provam que a aprendizagem é possível em todo o lado, uma vez que pequenos estímulos hoje podem levar a processos cognitivos complexos amanhã.
Enquanto, aparentemente, Henriquela está apenas a brincar com molas da roupa, na realidade, ela está "a desenvolver a coordenação olho-mão e a preensão", explica Carla. Em breve, a menina não terá dificuldade em segurar um lápis, pois está a desenvolver movimentos finos. Ao brincar e repetir o movimento de prender e soltar molas, ou abrir e fechar caixas, ela prepara o corpo e o cérebro para ações mais complexas. É assim que se geram esquemas mentais essenciais que vão permitir a Henriquela e aos seus colegas atingir todo o seu potencial cognitivo na idade adulta.

A Rede Nacional de Jardins de Infância apoia cerca de 500 jardins de infância na Guiné-Bissau, incluindo jardins de infância públicos, privados e comunitários, que beneficiam cerca de 17.000 crianças. O centro de recursos em Bissau é uma das suas formas de promover metodologias pedagógicas centradas na criança no país e de reforçar um sistema educativo que investe na primeira infância.

A brincar, a Henriquela "começou a aprender o alfabeto e aprendeu a contar até 25", diz a mãe, orgulhosa. "As brincadeiras que ela faz aqui, depois quer repetir em casa", diz Ezequiela.
