Cadidjatu

A menina cujo sonho de ser educada a salvou do Casamento Infantil

Wilson Gama
Cadidjatu
UNICEF Guinea-Bissau/2017/Wilson Gama
29 Abril 2020

"Tudo começou em 2013, quando o meu tio ligou ao meu pai para lhe sugerir que eu me casasse com o seu filho. Na altura eu tinha 16 anos e estava no 9º ano. Segundo ele, o fato de eu ir à escola não era relevante para a família. O filho dele era 10 anos mais velho que eu, e ele disse que este casamento permitir-me-ia ter acesso a uma vida melhor".

A tímida Cadidjatu, conta orgulhosamente a sua história.


Natural de Bissau, Cadidjatu, 19, vive atualmente com familiares na pequena comunidade de Samboldo, localizada na região de Gabú, no leste da Guiné-Bissau. Ela pertence a uma grande família de sete: tem três irmãos mais novos e uma irmã mais velha, já casada. A sua mãe faleceu em 2015 e o seu pai é um comerciante humilde. Ela gosta de ler e ver filmes.

Cadidjatu é muito dedicada aos seus estudos e sonha ser contabilista. Os seus professores regularmente contavam ao pai o seu desempenho escolar excepcional. Apesar da sua mãe não concordar com o casamento, o seu pai decidiu casá-la com um primo mais velho, acreditando que isso seria bom para ela e para a família. No caso da Cadidjatu, motivos culturais e tradicionais dificultaram a rejeição do pai à proposta do seu irmão mais velho. 

Pouco depois de descobrir o plano dos pais, Cadidjatu soube através das suas colegas que a ONG Amigos da Criança (AMIC), uma ONG apoiada pelo UNICEF, protege meninas vítimas de casamento precoce. Ela decidiu procurar-lhes e falar-lhes da sua situação. Ela conheceu Fernando Cá, o Coordenador do Programa. Depois de ouvir a sua história e sonhos para o futuro, Fernando abordou os familiares da Cadidjatu, falando com eles e tentando fazê-los compreender os riscos do casamento precoce e o fato de que continuando os seus estudos, a Cadidjatu poderia ter um futuro próspero . Depois destas discussões, o seu pai finalmente rejeitou a proposta do seu irmão mais velho e permitiu que Cadidjatu continuasse os seus estudos.

“a AMIC e o Fernando desempenharam um papel fundamental na prevenção contra o meu casamento", ela explica.

Cadidjatu
UNICEF Guinea-Bissau/2017/Wilson Gama

Felizmente, a família de Cadidjatu compreendeu a tempo os benefícios de mantê-la na escola, em vez de fazê-la casar-se cedo.

Não tenham medo de enfrentar estes problemas, sigam o meu exemplo e tenham coragem de falar das vossas situações. Não deixem a vossa educação para trás, o vosso futuro depende dela," continua Cadidjatu Djalo.

Eu agradeço à AMIC e ao UNICEF por me darem a oportunidade de seguir os meus sonhos”, ela concluiu.

Na Guiné-Bissau, como em muitos outros países, o casamento infantil é uma manifestação da desigualdade de género, refletindo normas sociais que perpetuam a discriminação contra meninas. “Meninas submetidas ao casamento são roubadas da sua infância. Normalmente a casa toma as decisões sobre a escolarização e casamento  das meninas em conjunto, não sequencialmente, e a educação tende a perder lugar", conta Benjamin Barbosa, Primeiro-Secretário da AMIC. “O Casamento infantil também é uma estratégia para a sobrevivência económica; as famílias casam as suas filhas em idades precoces para reduzir a sua responsabilidade económica”, ele concluiu.

Cadidjatu continua a seguir o seu sonho de tornar-se contabilista. Ela concluiu o liceu o ano passado, e agora planeia entrar na universidade, apesar dos desafios financeiros que a sua família enfrenta.