UMA TRIPLA AMEAÇA DE CRISES RELACIONADAS COM A ÁGUA ESTÁ A PÔR EM PERIGO A VIDA DE 190 MILHÕES DE CRIANÇAS

Enquanto os líderes mundiais participam na histórica Conferência da Água da ONU, o UNICEF apela ao investimento urgente em serviços de água, saneamento e higiene (WASH) resistentes ao clima, para proteger as crianças

24 Março 2023
Children getting water
UNICEF Guinea-Bissau/2017/Pirozzi

BISSAU, 24 de Março de 2023 - 190 milhões de crianças em 10 países africanos estão em maior situação de risco devido à convergência de três ameaças relacionadas com a água - água, higiene e saneamento (WASH) inadequados; doenças relacionadas com a água; e riscos climáticos - de acordo com uma nova análise do UNICEF.

 A tripla ameaça foi considerada mais grave no Benim, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné, Mali, Níger, Nigéria e Somália, fazendo da África Ocidental e Central uma das regiões mais inseguras e com maior impacto climático do mundo, de acordo com a análise. Muitos dos países mais afetados, particularmente no Sahel, enfrentam também instabilidade e conflitos armados, agravando ainda mais o acesso das crianças a água potável e saneamento.

 "A África está a enfrentar uma catástrofe hídrica. Assistimos ao aumento dos choques relacionados com o clima e a água em todo o mundo, mas em nenhum outro lugar os riscos se agravam de forma tão drástica para as crianças,” afirmou o Diretor de Programas do UNICEF Sanjay Wijesekera. "Tempestades devastadoras, inundações e secas históricas já estão a destruir infraestruturas e casas, a contaminar os recursos hídricos, a criar crises de fome e a propagar doenças. Mas, por mais desafiantes que sejam as condições atuais, se não houver uma ação urgente, o futuro poderá ser muito mais sombrio.”

A análise global - que analisou o acesso das famílias aos serviços de WASH, o peso das mortes entre crianças menores de cinco anos atribuíveis a WASH, e a exposição a riscos climáticos e ambientais - revela onde as crianças enfrentam a maior ameaça e onde o investimento em soluções é extremamente necessário para evitar mortes desnecessárias.

 Nos 10 países em maior risco, quase um terço das crianças não tem acesso a água básica em casa, e dois terços não têm serviços de saneamento básico. Um quarto das crianças não tem outra opção à defecação a céu aberto. A higiene das mãos também é limitada, com três quartos das crianças impossibilitadas de lavar as mãos devido à falta de água e sabão em casa.

Como resultado, estes países carregam também o fardo mais pesado de mortes de crianças por doenças causadas por sistemas WASH inadequados, tais como doenças diarreicas. Por exemplo, seis destes países identificados enfrentaram surtos de cólera durante o ano passado. A nível mundial, mais de 1.000 crianças com menos de cinco anos morrem diariamente de doenças relacionadas com WASH, com cerca de 2 em cada 5 concentradas apenas nestes 10 países.

Estes focos também figuram entre os 25% dos 163 países com maior risco de exposição às ameaças climáticas e ambientais a nível mundial. As temperaturas mais elevadas - que aceleram a replicação de agentes patogénicos - estão a aumentar 1,5 vezes mais rapidamente do que a média global em algumas partes da África Ocidental e Central. Os níveis das águas subterrâneas também estão a descer, obrigando algumas comunidades a escavar poços duas vezes mais profundos do que há apenas uma década. Ao mesmo tempo, a precipitação tornou-se mais errática e intensa, causando inundações que contaminam as escassas reservas de água.

Todos os 10 países de maior risco são também classificados pela OCDE como vulneráveis ou extremamente vulneráveis, com as tensões dos conflitos armados em alguns países a ameaçarem inverter o progresso feito em matérias de WASH. Por exemplo, o Burkina Faso tem assistido a um aumento dos ataques às instalações hídricas como tática para deslocar comunidades, tendo 58 destas instalações sido atacadas em 2022, contra 21 em 2021, e três em 2020. Como resultado, mais de 830.000 pessoas – das quais mais de metade são crianças - perderam o acesso à água potável no último ano.

Esta nova análise coincide com a Conferência da Água da ONU, que se realiza em Nova Iorque de 22 a 24 de março. Os líderes mundiais, organizações relevantes e outros participantes reúnem-se pela primeira vez em 46 anos para analisar os progressos alcançados para garantir o acesso à água e saneamento para todos. Na conferência, o UNICEF apela:

- À rápida expansão do investimento no setor, incluindo do financiamento global para o clima;

- Ao reforço da resiliência climática no setor WASH e nas comunidades;

- À priorização das comunidades mais vulneráveis em termos de programas e políticas de WASH;

- Ao reforço dos sistemas eficazes e fiáveis, da coordenação e das capacidades para o fornecimento água e serviços de saneamento;

- À implementação do Plano de Aceleração Global da ONU para o ODS 6 (água limpa e saneamento) e investir nos principais aceleradores.

"A perda da vida de uma criança é devastadora para as famílias. Mas, a dor é pior quando é evitável e causada pela ausência de serviços básicos que muitos tomam por garantidos como água potável segura, instalações sanitárias e sabão,” disse Sanjay Wijesekera. "Investir em água, saneamento e serviços de higiene resistentes ao clima não é apenas uma questão de proteger a saúde das crianças de hoje, mas também de assegurar um futuro sustentável para as gerações vindouras.”

Na Guiné-Bissau, 1 em cada 3 pessoas não tem acesso aos serviços básicos de água, e apenas 1 em cada 10 tem acesso a fontes de água geridas com segurança. Além disso, um quarto da população não tem acesso a serviços básicos de saneamento e higiene básica geridos com segurança. Estes fatores, para além do risco climático enfrentado pelas águas subterrâneas na zona costeira, representam alguns dos tratamentos a um acesso duradouro a água segura.

Neste quadro, 16% da população da Guiné-Bissau passa mais de 30 minutos por dia a recolher água, e em 82% dos lares, sendo esta tarefa realizada sobretudo por mulheres e raparigas menores de 15 anos. A carga de recolha de água é uma das ameaças relacionadas com WASH que as crianças enfrentam, que também inclui o acesso limitado a outros serviços de WASH, o aumento de doenças relacionadas com a água entre as crianças com menos de 5 anos, e a fragilidade das ameaças climáticas.

 

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Notas aos editores:

A "ameaça tripla" ou "carga tripla" é definida no documento do UNICEF como o acesso inferior a 50% aos serviços básicos de água ou saneamento; nos 20 países com a maior carga de mortes entre crianças menores de 5 anos atribuíveis a WASH inseguro; e os 25% dos países que enfrentam o maior índice de riscos climáticos e ambientais.

A análise baseia-se num compósito de dados obtidos a partir de três fontes:

- Dados do Programa Conjunto de Monitorização da OMS/UNICEF: Progresso em matéria de água potável, saneamento e higiene das famílias 2000-2020: cinco anos para os ODS

- Dados da OMS: Mortes por Causa, Idade, Sexo, por País e por Região, 2000-2019

- Dados do UNICEF: A Crise Climática é uma Crise dos Direitos da Criança: Introdução ao Índice de Risco Climático das Crianças

Relatório disponível aqui (após levantamento do embargo) e aqui.

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