Artigo de Opinião: Defesa do Clima e Acção Climática no Contexto dos Direitos da Criança e Ambiente
Nós, crianças e jovens não somos apenas vítimas, somos agentes de mudança.

Artigo conjunto dos Jovens Advogados do UNICEF em Moçambique Abel Correia Voabil (21 anos) / Andreia Pelitiche (15) / Erica João (19) / Gleds Cherute (20) / Hiris Jamal (20) / Simão Dauce Júnior (16) / Yurha Tayob (15) / Weiss Pambe (19), por ocasião do Dia Mundial das Crianças de 2023.
O Dia Mundial das Crianças, 20 de Novembro, marca o aniversário da adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança, o tratado de direitos humanos mais amplamente ratificado no mundo. Este ano, as celebrações do Dia Mundial das Crianças centram-se na importância de Defender o Clima, Promovendo acções Climáticas no Contexto dos Direitos da Criança
Pouco se falava sobre mudanças climáticas em Moçambique, até devastadoramente sermos assolados pelos efeitos dessas mudanças. Foi necessária uma medida urgente de posicionamento, partilha de informação, e desmistificação do tema pois nos últimos anos, Moçambique tem sido um dos países mais afectados pelos efeitos das mudanças climáticas que causam morte, destruição e tristeza.
As crianças e jovens são os mais afectados por estes eventos, por vários motivos, a destacar o facto de constituirem a maioria da população e terem uma condição físico-psicológica mais frágil quando comparada com a dos adultos mesmo fazendo parte do grupo que menos contribui para a composição dos efeitos das mudanças climáticas.
Nós, os Youth Advocates do UNICEF em Moçambique, reconhecemos a urgência de abordar a crise climática e seus impactos desproporcionais nas crianças.
Nós, crianças, adolescentes e jovens devemos lutar contra os efeitos das mudanças climáticas. Devemos ser capacitados para promover a nossa participação e contribuirmos de acordo com as nossas idades, capacidades e habilidades.
As mudanças climáticas emergem como um desafio global que transcende fronteiras e afecta indiscriminadamente adultos e crianças.
No epicentro dos eventos climáticos nós, crianças e jovens, somos, vulneráveis e muitas vezes negligenciados.
As mudanças climáticas violam os nossos direitos de crianças. A nível da saúde, por exemplo, o surto de cólera, após a passagem do ciclone Freddy e do ciclone Idai atingiu maioritariamente, a nós os petizes, na Zambézia e em Sofala, respectivamente.
A frequência escolar é interrompida repetidamente por eventos climáticos extremos. Enfrentamos o desafio de continuar a nossa educação em ambientes instáveis, pois as escolas ficam danificadas, destruídas e, várias vezes, são usadas como centros de acomodação das familias vitimas desses eventos. Esta interrupção constante prejudica o nosso desenvolvimento académico e, consequentemente, nosso potencial, perspectivas e sonhos.
A agricultura, principal meio de subsistência em muitas comunidades moçambicanas, é directamente afectada pela mudança climática. Secas prolongadas e ciclones destrutivos destroem colheitas e deixam-nos em situação de insegurança alimentar. É um desafio garantir uma nutrição adequada quando os padrões climáticos imprevisíveis comprometem a produção de alimentos.
Os eventos climáticos também têm repercussões na nossa saúde mental. Vivenciar repetidamente a destruição de nossas casas, a perda de entes queridos e a incerteza do futuro contribuem para níveis crescentes de estresse e desenvolvimento de vários problemas como por exemplo,a depressão,a ansiedade,o medo,e a síndrome de pânico.
Nossa opinião é que a sociedade, o governo e as empresas devem colaborar activamente para implementar medidas que protejam o ambiente e, deste modo, salvaguardar os nossos direitos, adoptando-se uma abordagem abrangente tendo em conta soluções de curto, médio e longo prazo.
Deve constituir prioridade, a curto prazo, a disseminação de informação sobre mudancas climáticas, investir na educação ambiental desde os primeiros anos escolares, proporcionando-nos as ferramentas necessárias para compreender e abordar as questões climáticas e o perigo de abate de árvores; ao mesmo tempo que se fortalecem os sistemas de alerta antecipado, garantindo a evacuação oportuna durante eventos climáticos extremos. Além disso, a disponibilidade de apoio psicossocial imediato para as vítimas afectadas, é um pilar vital para mitigar o impacto emocional imediato, bem como a criação de movimentos que incentivem e promovam o plantio de árvores e a não emissao de gases poluentes.
O investimento, a médio prazo, em infraestruturas resilientes ao clima, incluindo escolas e instalações de saúde, é imperativo. Isso não apenas proteger-nos-á durante eventos climáticos extremos, como também garantirá que nossas actividades diárias não sejam interrompidas constantemente. Paralelamente, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e adesão a novas tecnologias, como por exemplo, a de fogões que poupam carvão e emitem poucos gases carbónicos.
Acreditamos que, a longo prazo, a mitigação e adaptação à mudança climática deveriam ser integradas em políticas e práticas governamentais, incluindo a transição para fontes de energia renovável, e a implementação de regulamentação mais rigorosa sobre o ambiente e o clima.
Neste cenário, onde as mudanças climáticas não são apenas uma ameaça futura, mas uma realidade dolorosa, a defesa do clima torna-se uma questão urgente e vital. Moçambique está enfrentando os desafios da mudança climática, mas a resiliência pode ser cultivada através da acção conjunta.
Nós, crianças e jovens não somos apenas vítimas, somos agentes de mudança.
Devemos ser incluidos nos fóruns de discussão sobre as mudanças climáticas, pois estas afectam também as nossas vidas.
A implementação de soluções práticas, juntamente com a nossa participação activa é a chave para construir um futuro mais sustentável e resiliente. É nossa responsabilidade levantar a voz, mas também catalisar as mudanças necessárias para garantir um amanhã mais seguro e sustentável para todas as gerações pois o nosso futuro depende disso.
As mudanças climáticas, são causadas pelas nossas acções, por isso, devemos ser nós a resolver esse problema que nós causamos.