Mais de metade dos pais e mulheres grávidas expostos ao marketing agressivo do leite em pó – alertam a OMS e o UNICEF

Novo relatório pormenoriza práticas de exploração utilizadas pela indústria de leite em pó totalizando 55 mil milhões de dólares, comprometendo a nutrição infantil, violando compromissos internacionais

22 Fevereiro 2022
Aleitamento materno exclusivo - Novo relatório pormenoriza práticas de exploração utilizadas pela indústria de leite em pó totalizando 55 mil milhões de dólares, comprometendo a nutrição infantil, violando compromissos internacionais
UNICEF/2022

GENEBRA/NOVA IORQUE, 22 de Fevereiro de 2022 - Mais de metade dos pais e mulheres grávidas (51%) inquiridos para um novo relatório da OMS/UNICEF afirmam ter sido alvo de marketing por parte das empresas de leite em pó, muitas das quais infringem as normas internacionais sobre práticas de alimentação infantil. 

O relatório, How marketing of formula milk influences our decisions on infant feeding, baseia-se em entrevistas com pais, mulheres grávidas e profissionais de saúde em oito países. Descobre estratégias de marketing sistemáticas e pouco éticas utilizadas pela indústria do leite em pó - agora com um valor espantoso de 55 mil milhões de dólares - para influenciar as decisões dos pais em matéria de alimentação infantil.

O relatório descobre que as técnicas de marketing da indústria incluem a segmentação online não regulamentada e invasiva; redes de aconselhamento e linhas de ajuda patrocinadas; promoções e ofertas gratuitas; e práticas para influenciar a formação e recomendações entre os profissionais de saúde. As mensagens que os pais e os profissionais de saúde recebem são frequentemente enganadoras, cientificamente infundadas, e violam o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno (o Código) - um acordo de saúde pública de referência aprovado pela Assembleia Mundial da Saúde em 1981 para proteger as mães de práticas de marketing agressivas por parte da indústria de alimentos para bebés.

Moçambique adaptou e aprovou o Código Nacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno (CCSLM) em 2007 através do Diploma Ministerial n.º 129/2007, que se tornou efectivo em Outubro de 2008. A divulgação e a monitoria do Código são essenciais para garantir que os fabricantes, distribuidores e comerciantes de Substitutos do Leite Materno (SLM) conheçam e cumpram o mesmo.

O Governo para assegurar a devida implementação da lei,  intensificou a formação de profissionais de saúde, inspetores de actividades económicas, e também realiza monitorias educativas e formativas conjuntas (em hospitais, estabelecimentos comerciais incluindo farmácias) com o Instituto Nacional de Actividades Económicas (INAE) do Ministério da Indústria e Comércio a nível nacional, para sensibilizar para divulgação do CCSLM

Actualmente, tem-se verificado no país enormes violações ao CCSLM, que desencorajam a adopção de Práticas Adequadasà Alimentação Infantil. Como resposta ao cenário actual, o CCSLM encontra-se em fase de revisão e actualização, com vista a disciplinar, controlar e regulamentar a comercialização, distribuição, publicidade e venda, dos substitutos e complementos do leite materno e de outros produtos usados como veículos para a administração desses substitutos e complementos.

 "Este relatório mostra muito claramente que a comercialização do leite em pó continua a ser inaceitavelmente difundida, enganosa e agressiva", disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-Geral da OMS. "Os regulamentos sobre comercialização exploradora devem ser urgentemente adoptados e aplicados para proteger a saúde das crianças".

De acordo com o relatório - que entrevistou 8.500 pais e mulheres grávidas, e 300 profissionais de saúde em cidades do Bangladesh, China, México, Marrocos, Nigéria, África do Sul, Reino Unido e Vietname - a exposição à comercialização de leite em pó atinge 84% de todas as mulheres inquiridas no Reino Unido; 92% das mulheres inquiridas no Vietname e 97% das mulheres inquiridas na China, aumentando a sua probabilidade de escolherem a alimentação com fórmula.

"As mensagens falsas e enganosas sobre a alimentação artificial são uma barreira substancial à amamentação, que sabemos ser a melhor prática para bebés e mães", disse a Directora Executiva do UNICEF, Catherine Russell. "Precisamos de políticas, legislação e investimentos sólidos na amamentação para assegurar que as mulheres sejam protegidas de práticas de marketing pouco éticas - e tenham acesso à informação e apoio de que necessitam para criar as suas famílias".

Em todos os países incluídos no inquérito, as mulheres expressaram um forte desejo de amamentar exclusivamente, variando de 49 por cento das mulheres em Marrocos a 98 por cento no Bangladesh. No entanto, o relatório detalha como um fluxo sustentado de mensagens de marketing enganosas está a reforçar mitos sobre amamentação e leite materno, e a minar a confiança das mulheres na sua capacidade de amamentar com sucesso. Estes mitos incluem a necessidade de fórmula nos primeiros dias após o nascimento, a inadequação do leite materno para a nutrição infantil, a comprovação de que ingredientes específicos das fórmulas infantis melhoram o desenvolvimento ou imunidade infantil, a percepção de que a fórmula mantém os bebés mais saciados durante mais tempo, e que a qualidade do leite materno diminui com o tempo.

A amamentação na primeira hora após o nascimento, seguida de amamentação exclusiva durante seis meses e de amamentação contínua durante até dois anos ou mais, oferece uma poderosa linha de defesa contra todas as formas de desnutrição infantil, incluindo o emagrecimento e a obesidade. O aleitamento materno actua também como primeira vacina para bebés, protegendo-os contra muitas doenças infantis comuns. Também reduz o risco futuro das mulheres de diabetes, obesidade e algumas formas de cancro. Contudo, globalmente, apenas 44% dos bebés com menos de 6 meses de idade são exclusivamente amamentados. As taxas globais de amamentação aumentaram muito pouco nas últimas duas décadas, enquanto as vendas de leite em pó mais do que duplicaram aproximadamente no mesmo período de tempo.

Alarmante, o relatório observa que um grande número de profissionais de saúde em todos os países tinha sido abordado pela indústria de alimentos para bebés para influenciar as suas recomendações às novas mães através de presentes promocionais, amostras grátis, financiamento para investigação, reuniões pagas, eventos e conferências, e até mesmo comissões de vendas, com impacto directo nas escolhas alimentares dos pais. Mais de um terço das mulheres inquiridas disse que um profissional de saúde lhes tinha recomendado uma marca específica de fórmula.

Para enfrentar estes desafios, a OMS, o UNICEF e os seus parceiros apelam aos governos, aos trabalhadores da saúde e à indústria de alimentos para bebés para que acabem com a comercialização exploradora de leite em pó e implementem e respeitem plenamente os requisitos do Código. Isto inclui:

  • Aprovação, controlo e aplicação de leis para impedir a promoção do leite artificial, em conformidade com o Código Internacional, incluindo a proibição de alegações nutricionais e de saúde feitas pela indústria do leite artificial.
  • Investimento em políticas e programas de apoio ao aleitamento materno, incluindo uma licença parental remunerada adequada, em linha com os padrões internacionais, e assegurar um apoio ao aleitamento materno de alta qualidade.
  • Solicitação à indústria que se comprometa publicamente a cumprir integralmente o Código e as subsequentes resoluções da Assembleia Mundial da Saúde a nível mundial.
  • Proibição aos profissionais de saúde de aceitar patrocínios de empresas que comercializam alimentos para bebés e crianças pequenas para bolsas de estudo, prémios, bolsas, reuniões, ou eventos.

 


 

Notas aos Editores

Descarregue o relatório (em Inglês) aqui.

Link:

 

Sobre a pesquisa

Esta "primeira pesquisa sistemática e transregional deste tipo" foi encomendada pela OMS no Bangladesh, México, Marrocos, Nigéria, África do Sul, Reino Unido e Vietname, e pelo UNICEF na China, com o estudo concebido e implementado por uma divisão de investigação especializada dentro da M&C Saatchi.

Foi realizada uma análise abrangente em cada país para avaliar o volume e a dinâmica da comercialização de leite em pó e para mapear vários tipos de anúncios, mensageiros, conteúdos e formas de divulgação. As aprovações de ética de pesquisa foram concedidas pelo comité de ética relevante em cada país. Para além de entrevistas com pais e trabalhadores da saúde e grupos focais, a investigação incluiu um subconjunto de entrevistas aprofundadas com executivos de marketing na China, proporcionando uma visão da evolução das tácticas das empresas de leite em pó num mercado emergente chave.

O leite em pó e o tabaco são os únicos dois produtos para os quais existem recomendações internacionais para proibir a comercialização, neste caso, através do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno.

A Fundação Bill & Melinda Gates forneceu financiamento para apoiar a investigação.

Contacto para os media

Gabriel Pereira
Communication Officer
UNICEF Moçambique
Telefone: +258 84 522 1721

Sobre o UNICEF

O UNICEF trabalha em alguns dos lugares mais difíceis do mundo, para chegar às crianças mais desfavorecidas. Para salvar as suas vidas. Para defender os seus direitos. Para ajudá-las a alcançar o seu verdadeiro potencial. Presentes em 190 países e territórios trabalhamos para cada criança, em qualquer parte, todos os dias, para construirmos um mundo melhor para todos. E nunca desistimos. Para mais informação sobre o UNICEF e seu trabalho para cada criança, visite www.unicef.org.mz

Siga as actividades do UNICEF no Twitter e Facebook