559 milhões de crianças estão, hoje, expostas a ondas de calor mais frequentes, uma situação que atingirá todas as crianças do mundo até 2050

O UNICEF adverte que é urgente aumentar o financiamento para a adaptação às alterações climáticas a fim de proteger as crianças e comunidades mais vulneráveis da ocorrência de ondas de calor, cada vez mais intensas e longas, e outros choques climáticos.

26 Outubro 2022
559 milhões de crianças estão, hoje, expostas a ondas de calor mais frequentes, uma situação que atingirá todas as crianças do mundo até 2050
UNICEF/MOZA2021-01174/Bruno Pedro

LONDRES/NOVA IORQUE, 25 de Outubro de 2022 – Um total de 559 milhões de crianças estão, actualmente, expostas a ondas de calor que estão a tornar-se mais frequentes*, de acordo com o mais recente estudo do UNICEF. Além destas, 624 milhões de crianças estão expostas a um de três outros indicadores utilizados para analisar eventos de calor extremo: ondas de calor mais longas, mais severas ou a temperaturas extremas.

Num ano em que as ondas de calor atingiram números recorde, tanto no hemisfério sul como no hemisfério norte, o relatório The Coldest Year Of The Rest Of Their Lives: Protecting Children From The Escalating Impacts Of Heatwaves (“O ano mais frio do resto das suas vidas: proteger as crianças dos impactos crescentes das ondas de calor”) realça os já extensos efeitos das mesmas nas crianças e revela que, mesmo que o aquecimento global seja limitado a níveis mais baixos, será inevitável que, em apenas três décadas, as crianças em todo o mundo não vivenciem ondas de calor com maior frequência.

O relatório estima que, até 2050, 2,02 mil milhões de crianças a nível global estarão expostas a ondas de calor mais frequentes, independentemente de o mundo atingir um "cenário de baixa emissão de gases com efeito de estufa" com uma estimativa de 1,7ºC de aquecimento, ou um "cenário de emissão de gases com efeito de estufa muito elevado" com uma estimativa de 2,4ºC de aquecimento, em 2050.

Estes resultados - desenvolvidos em colaboração com o The Data for Children Collaborative e divulgados em parceria com a Embaixadora da Boa Vontade do UNICEF, Vanessa Nakate, e o Movimento Rise Up, sediado em África - sublinham a urgência de se adaptarem os serviços essenciais para as crianças, como forma de reagir proactivamente às consequências inevitáveis que o aquecimento global provocará. Ilustram, igualmente, a necessidade de se empreenderem esforços de mitigação mais alargados, de modo a prevenir o agravamento de outros indicadores associados a eventos de calor extremo, tais como o aumento da duração e intensidade das ondas de calor, e temperaturas extremas.

"O mercúrio está a aumentar e os seus efeitos nas crianças também", afirmou a Directora Executiva do UNICEF, Catherine Russell. "Uma em cada três crianças já vive em países que enfrentam temperaturas extremamente elevadas, e quase uma em cada quatro está exposta a ondas de calor mais frequentes, uma situação que só tenderá a agravar-se. Nos próximos 30 anos, mais crianças serão afectadas por ondas de calor mais longas, mais intensas e mais frequentes, pondo em perigo a sua saúde e bem-estar. O quão devastadoras serão estas mudanças dependerá da acção que tomarmos agora. No mínimo, os governos devem limitar urgentemente o aquecimento global a 1,5°C e duplicar o financiamento para a adaptação às alterações climáticas até 2025. Esta é a única forma de salvar a vida e o futuro das crianças, e o futuro do planeta.”

As ondas de calor são particularmente nocivas para as crianças, uma vez que são menos capazes de regular a sua temperatura corporal em comparação com os adultos. Quanto mais ondas de calor as crianças vivenciarem, maior é a probabilidade de sofrerem problemas de saúde como doenças respiratórias crónicas, asma e doenças cardiovasculares. Os bebés e as crianças pequenas correm um maior risco de morte devido ao calor. As ondas de calor também podem afectar o ambiente, a segurança, a nutrição e o acesso à água, bem como a educação e a subsistência futura das crianças.

O relatório revela que a duração das ondas de calor afecta actualmente 538 milhões de crianças em todo o mundo, ou seja, 23 por cento. Este número aumentará para 1,6 mil milhões de crianças até 2050 se o aquecimento for de 1,7°C, e para 1,9 mil milhões de crianças se o aquecimento for de 2,4°C, sublinhando a importância de se tomarem medidas urgentes e drásticas de mitigação das emissões e de adaptação, a fim de conter o aquecimento global e proteger vidas.

O número de crianças expostas a ondas de calor muito intensas e temperaturas extremamente elevadas pode aumentar exponencialmente, dependendo do grau de aquecimento global atingido. As crianças nas regiões do Norte, especialmente na Europa, enfrentarão os aumentos mais dramáticos na intensidade das ondas de calor. Até 2050, quase metade de todas as crianças em África e na Ásia estarão expostas a temperaturas extremamente elevadas constantes.

Existem actualmente 23 países com o mais alto nível de exposição infantil a temperaturas extremamente elevadas. Este número aumentará para 33 países em 2050 num cenário de emissões reduzidas, ou para 36 países num cenário de emissões muito elevadas. O Burkina Faso, Chade, Mali, Níger, Sudão, Iraque, Arábia Saudita, Índia e Paquistão estão entre os países que provavelmente permanecerão na categoria mais elevada em ambos os cenários.

"As crises climáticas de 2022 deixaram um forte aviso do perigo crescente que enfrentamos", disse Vanessa Nakate, activista do clima e Embaixadora da Boa Vontade do UNICEF. "As ondas de calor são um exemplo claro. Por mais quente que este ano tenha sido em quase todo o mundo, este será provavelmente o ano mais frio do resto das nossas vidas. O termómetro está a subir no nosso planeta e, no entanto, os líderes mundiais ainda não transpiraram. A única opção é continuarmos a pressioná-los para corrigir o curso em que nos encontramos. Os líderes mundiais devem pôr tudo isto em acção na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) para proteger as crianças em todo o mundo, mas especialmente as mais vulneráveis e as que vivem nos locais mais afectados. A menos que tomem medidas, a curto prazo, este relatório deixa claro que as ondas de calor serão ainda mais severas do que prevemos".

Em Moçambique, as ondas de calor estão também a acontecer com maior frequência, e o facto de estas serem mais longas e mais intensas, tornam a acção mais urgente, não só pelos efeitos particularmente nocivos que acarretam para as crianças, como pelo seu potencial aumento no país.

O UNICEF apela aos governos para a tomada de medidas que:

  • PROTEJAM as crianças da devastação climática, adaptando os serviços sociais. Todos os países devem adaptar os principais serviços sociais - água, saneamento e higiene, saúde, educação, nutrição, protecção social e protecção infantil - para proteger as crianças e os jovens. Por exemplo, os sistemas alimentares devem ser reforçados para resistir a ameaças e assegurar o acesso contínuo a alimentos saudáveis. É necessário investir mais na prevenção, detecção precoce e tratamento de subnutrição grave em crianças, mães e populações vulneráveis. Na COP27, as crianças e os seus direitos devem ter prioridade nas decisões relacionadas com a adaptação às alterações climáticas.
  • PREPAREM todas as crianças para a vida num mundo climaticamente alterado. Todos os países devem proporcionar às crianças e jovens educação sobre as alterações climáticas, redução do risco de catástrofes, formação em competências ecológicas e oportunidades de participação e influência na elaboração de políticas. A COP27 deve exortar os países a adoptar o Plano de Acção de Capacitação Climática, e a prestar mais atenção à educação e capacitação climática das crianças, assim como a implementar os seus compromissos anteriores para a capacitação dos jovens.
  • PRIORIZEM as crianças e os jovens na atribuição de financiamento e recursos climáticos. Os países desenvolvidos devem cumprir o compromisso assumido na COP26 de duplicar o financiamento da adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares por ano até 2025, com o objectivo final de 300 mil milhões de dólares anuais para a adaptação até 2030. O financiamento da adaptação deve ser responsável por metade de todo o financiamento das alterações climáticas. A COP27 deve quebrar o impasse político sobre danos e prejuízos, concentrando as discussões em iniciativas e apoio em torno da resiliência das crianças e das suas comunidades.
  • PREVINAM uma catástrofe climática, reduzindo drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa para manter o aquecimento global a 1,5°C. Estima-se que as emissões aumentem em 14% ao longo desta década, o que nos colocaria num caminho catastrófico de aquecimento global. Todos os governos devem rever os seus planos e políticas climáticas nacionais com vista a aumentar tanto as suas acções como a sua ambição de mitigação. Devem também reduzir as emissões em pelo menos 45%, a fim de evitar que o aquecimento ultrapasse 1,5°C.

 


Notas aos editores:

Descarregue o relatório: The Coldest Year Of The Rest Of Their Lives: Protecting Children From The Escalating Impacts Of Heatwaves’

O relatório é uma continuação da publicação do UNICEF do Índice de Risco Climático das Crianças em 2021. Leia o documento aqui.

Materiais multimédia disponíveis para download aqui.

 

*Definições

  • Ondas de calor: qualquer período de 3 dias ou mais durante o qual a temperatura máxima de cada dia é 10% superior à média local de 15 dias.
  • Aumento da frequência das ondas de calor: quando existe uma média de 4,5 ou mais ondas de calor por ano.
  • Duração das ondas de calor elevadas: quando a duração média das ondas de calor é de 4,7 dias ou mais.
  • Ondas de calor muito intensas: quando a temperatura média da onda de calor é 2 °C ou mais acima da média local de 15 dias.
  • Temperaturas extremamente elevadas: quando as temperaturas excedem 35 °C durante uma média de 84,54 dias ou mais por ano.
  • Cenário 1 para 2050: um "cenário de baixas emissões de gases com efeito de estufa" com um aquecimento estimado de 1,7°C até 2050. Este é um cenário estabelecido utilizado na modelização climática e é definido pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas como "SSP1".
  • Cenário 2 para 2050: um "cenário de emissões de gases com efeito de estufa muito elevado" com um aquecimento estimado de 2,4°C até 2050. Este é um cenário estabelecido utilizado na modelização climática e é definido pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas como "SSP5".

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Gabriel Pereira
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