A missão de uma rapariga para defender os direitos das crianças

O Parlamento Infantil ajuda as crianças a defenderem os seus próprios direitos na Guiné-Bissau

Ana Ernesto
Djarai apresentando o tema da CDC ao colegas do PNI
UNICEF Guinea-Bissau/2023/Ernesto
14 Junho 2023

Antes de subir ao palco para fazer o seu discurso, Djarai Djalo abraçou o seu pequeno amigo, Pedro. O menino de um ano chorava devido ao calor, mas Djarai, de 17 anos, não parecia incomodada com o ar abafado da sala. Nem parecia incomodada com a pressão de fazer o discurso de abertura do Dia Internacional da Criança, 1 de Junho, na Escola Nacional de Administração, em Bissau, capital da Guiné-Bissau.

Djarai parecia calma, sentada ao lado de Lúcio Rodrigues, Diretor Geral de Solidariedade do Ministério da Mulher, Família e Solidariedade Social, e Etona Ekole, Representante do UNICEF em Guiné-Bissau.

"Não sei dançar, não sei jogar à bola, mas sei falar em público", diz Djarai, com um sorriso confiante, numa entrevista.

Ela tinha acabado de fazer uma apresentação animada e divertida sobre a Convenção sobre os Direitos da Criança, para mais de 40 participantes, sendo a maioria crianças e adolescentes. "Falar em público é um dos meus melhores talentos", ela diz.

Djarai fala frequentemente sobre os direitos das crianças e sobre temas que acha que não estão a receber a devida atenção. Por causa disso, ela tornou-se uma influenciadora em Bissau. Nas suas contas nas redes sociais, com milhares de seguidores, ela mistura vídeos sobre o casamento infantil e violência contra crianças, com vídeos a fazer as danças e as brincadeiras da moda com os amigos.

"Quando faço vídeos, penso nos meus irmãos e nas oportunidades que eles ainda podem ter e que eu não tive quando tinha a idade deles", diz Djarai. Ela espera que os seus irmãos e irmãs mais novos - com 6, 3 e 1 ano de idade - tenham uma boa educação.

Djarai Djalo hugged her young friend, Pedro
UNICEF Guinea-Bissau/2023/Mendes

No seu primeiro vídeo, gravado quando tinha apenas 13 anos, Djarai falou sobre as eleições nacionais e pediu aos adultos e aos políticos que se "unam pelas crianças". Mais tarde, fez um vídeo em que dizia que quer ser Presidente da República da Guiné-Bissau e que vai "mudar a vida de todas as crianças". A missão parece difícil, mas como todas as outras, Djarai aceita-a com a cabeça erguida e um sorriso. Ela já tem um plano: "Estou no 12º ano. Vou tirar uma licenciatura em Economia, um mestrado em Finanças Públicas e um doutoramento em Ciência Política e Relações Internacionais". Com a determinação que a caracteriza, acrescenta: "Quero muito ser presidente e vou trabalhar para isso."

Enquanto Djarai olha para o futuro com esperança, com o plano de continuar a estudar e defender os direitos das crianças, ela admite que há algo que a deixa preocupada: "Vou deixar de ser uma criança. Isso deixa-me triste porque gosto de ser criança", ela diz, rindo.

As suas realizações e conquistas até agora já são impressionantes. Djarai é a Vice-Presidente do Parlamento Infantil na Guiné-Bissau, que trabalha para a proteção, promoção e defesa dos direitos da criança, com o apoio do UNICEF.

"Damos voz às crianças que não podem falar por si próprias, e elevamos essas vozes, para que as pessoas possam ver o quanto as crianças sofrem no nosso país," explica.

O Parlamento Infantil é também uma organização que promove a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal. Lá, as crianças e adolescentes aprendem sobre direitos humanos, educação, saúde sexual e reprodutiva, violência baseada no género, casamento infantil, violência contra as crianças, política e liderança, e participam em pequenas formações. "Entrei no Parlamento Infantil quando tinha 11 anos, logo após a morte da minha mãe, porque o meu pai disse que eu ia encontrar lá crianças muito inteligentes. Fiquei entusiasmada e queria conhecer essas crianças".

Djarai presenting session on the Convention on the Rights of the Child
UNICEF Guinea-Bissau/2023/Ernesto

No dia 1 de Junho, os membros do Parlamento Infantil celebraram o Dia Internacional da Criança com o Governo da Guiné-Bissau e o UNICEF. As atividades incluíram a sessão sobre a Convenção sobre os Direitos da Criança, liderada por Djarai, e uma formação sobre advocacia e técnicas de promoção e defesa dos direitos da criança, dada pelo UNICEF. Os jovens pareciam desejosos de aprender e fizeram várias perguntas sobre como partilhar mensagens-chave e sensibilizar o público para as questões que são importantes para as crianças.

Juntar-se ao Parlamento Infantil foi importante para Djarai, uma vez que estava a atravessar uma fase difícil devido à morte da mãe. "Estar sem a minha mãe ainda me afeta muito e deixa-me muito triste, mas deixei de expressar a minha tristeza, porque isso não muda nada", ela conta. O sorriso de Djarai desvanece-se. "Ela já não está aqui".

Estudar foi uma das formas que Djarai encontrou para se sentir próxima à mãe. "Quando ela estava cá, ela estudava comigo todos os dias e ajudava-me sempre a fazer os trabalhos de casa", diz a menina. "Quero estudar muito para ser quem ela queria que eu fosse." Futura presidente ou não, Djarai promete deixar a sua mãe orgulhosa.

Representante do UNICEF, Sra Etona Ekole com os participantes do evento
UNICEF Guinea-Bissau/2023/Mendes
Representante do UNICEF, Sra Etona Ekole com os participantes do evento