"É super necessário falar sobre as violências"
Moradora da favela da Palmeirinha, no Rio, Lays dos Santos participou da proposta de uma websérie sobre violências, como parte do projeto Chama na Solução 2022

O projeto Chama na Solução Rio 2022 – realizado pelo UNICEF em parceria com o Centro de Promoção da Saúde (Cedaps) – reuniu jovens moradores de favelas e periferias na construção de propostas para prevenir e enfrentar as violências cotidianas que afetam sua vida. E foi por essa proposta que a jovem Lays dos Santos, 22 anos, sentiu motivação em participar. "Falar de violência pra mim é super necessário, principalmente pelo fato de ser um assunto não muito discutido dentro das comunidades".
Estudante de serviço social, Lays mora atualmente sozinha na favela da Palmeirinha, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, mas sempre está na casa dos pais, uma rua atrás da sua. No Chama na Solução, Lays participou do grupo “Intercâmbio de Cria”, que desenvolveu o projeto Papo de Cria – uma websérie que retrata as violências do cotidiano. Foi desenvolvido inicialmente um episódio-piloto sobre violência racial. O grupo tem o objetivo de continuar a websérie com mais episódios sobre diferentes tipos de violências que sua juventude enfrenta no dia a dia.
"O processo criativo foi muito bom, é muito gostoso criar, né!? Acho que foi quase consenso comum a necessidade que a gente viu em várias comunidades do reconhecimento da violência como tal, seja ela violência de gênero, violência contra a mulher, violências sociais de modo geral. Então foi muito interessante entender que a violência é endêmica em várias comunidades, mas que ela tem suas singularidades em cada território".

Embora o “Intercâmbio de Cria” tenha estruturado de forma objetiva seu projeto na intenção de alcançar diferentes regiões da cidade, a jovem destaca o maior desafio identificado pelo grupo: a naturalização das pessoas em relação à violência. Falar de violência ainda é uma questão deixada de lado por diversos motivos, seja pela falta de conhecimento ou pelo receio da exposição que pode gerar na vida da vítima. "As pessoas não identificam a violência no território, naturalizam a violência como se fosse algo comum. Esse é o maior desafio, desnaturalizar esses processos de violência, criar o estranhamento à violência".
O caminho para desnaturalizar os processos de violência não é simples. O “Intercâmbio de Cria” surge com essa urgência de falar sobre as violências sociais, principalmente para envolver o próprio território. A perspectiva da participante para implementação do projeto está diretamente relacionada aos jovens se reconhecerem e também reconhecerem os seus espaços. "Eles são instrumentos de mudança, são multiplicadores de informação, são agentes de transformação a partir da formação que eles conquistam. A ideia que a gente tem do impacto dele (projeto) é justamente isto: ver a comunidade reconhecendo os jovens e os jovens reconhecendo a comunidade como necessários, e criando sinergias para ir buscar soluções para o próprio território".