“Vamos recriar o mundo”
Na Pavuna, Zona Norte do Rio de Janeiro, a jovem Pompom vê, na favela, potencial de união e construção de soluções

Na extrema região norte da cidade do Rio de Janeiro, conhecida por ser um lugar “onde a cidade acaba”, a região da Pavuna pode ser – e já é para muitos – onde tudo começa. Entre as pessoas que sentem assim, está Nathália Araújo, conhecida como Pompom – uma das 55.560 pessoas com até 19 anos que moram na Grande Pavuna. A jovem artista, que também é agente comunitária de saúde, vê, na juventude, qualidades para brilhar e agir sobre as questões do seu próprio território.
Mãe de Noah e filha de Ester, aos 19 anos, Pompom vive na favela de Acari, o oitavo bairro com maior população jovem proporcional no Rio, de acordo com estudo do Instituto Pereira Passos (2015). Acari é um dos 10 bairros pertencentes à Grande Pavuna, região onde acontece a #AgendaCidadeUNICEF no Rio de Janeiro, que busca promover direitos e gerar oportunidades para cada criança e adolescente e, assim, prevenir e reduzir as violências que impactam diariamente sua vida.
Pompom conta que a Pavuna é um dos lugares esquecidos da cidade, o que dificulta acesso a direitos e a faz sentir olhares tortos quando circula pelo Rio de Janeiro. “Quando falo que sou da Pavuna, já me olham estranho. Aqui o desafio é viver, existir e resistir”.
A jovem conta que são nessas situações de desigualdade que se evidenciam o poder da comunidade e a sua vontade de transformar a realidade. “A Grande Pavuna é um lugar de união desde a favela até a pista, porque somos esquecidos”.

No primeiro semestre de 2022, Pompom encontrou uma oportunidade de agir sobre a sua periferia. Ela foi uma dos 50 jovens da Pavuna que participaram do projeto Chama na Solução. Nessa parceria do UNICEF com o Cedaps, os participantes frequentaram encontros temáticos sobre as múltiplas violências que podem afetar sua vida e criaram meios de preveni-las no seu território. Pompom acredita que o projeto foi “uma oportunidade para realizar uma vontade de ajudar a comunidade”.
Devido a sua origem periférica, Pompom diz que a todo tempo sente necessidade de provar que é inteligente e educada. Por isso, considera que outro ponto alto da formação foi como jovem, mãe e favelada estar no centro da discussão, como protagonista. “Foi importante o Chama na minha vida para mostrar que eu sou potência. Você pode mesmo sendo mãe adolescente, morando na favela e com tudo o que você passou”.
Na construção de uma Pavuna com mais oportunidades para Noah, Pompom vem trilhando novas formas de mobilização. Além de artista, hoje atua como agente de saúde na própria comunidade e enfrenta a desigualdade com ações efetivas. “A gente não veio só tratar o problema, mas mostrar a solução”.