Uma vida transformada pela tecnologia
Wesley Monteiro da Silva, de 17 anos, sonha em mudar o seu futuro e o futuro de outros adolescentes e jovens da periferia

A Chácara Flórida, na periferia da Zona Sul da cidade de São Paulo, ainda enfrenta a falta de acesso à internet, de saneamento básico e de asfalto nas ruas. Nessa comunidade, vive Wesley Monteiro da Silva, de 17 anos, que, por meio da Associação Arco – responsável por apoiar mais de 2 mil crianças na região –, conheceu a iniciativa Trilhas Digitais, do UNICEF em parceria com a British Telecom e o Instituto Tellus, e tem visto a sua vida ser transformada pelo ensino tecnológico.
Wesley conta que foi aos 14 anos que ele decidiu participar das atividades propostas pela Associação Arco, passando a experimentar o poder transformador da educação. “Entendi que precisava transformar a minha vida e passei a me engajar nos projetos e foi assim que, três anos depois, conheci o Trilhas Digitais e caí de cabeça no mundo da tecnologia e da programação”, conta orgulhoso, mostrando a calculadora que ele mesmo programou com o Javascript. Antes disso, Wesley nunca havia tido contato com linguagens de programação. Na casa dele, há um notebook antigo e que trava a toda hora. O sinal de internet também não ajuda, com uma velocidade baixa, não atende ao que Wesley e os familiares precisam e prejudica o aprendizado do jovem nas aulas online.
Ao longo de sua participação no Trilhas Digitais, Wesley e outros cerca de 500 adolescentes e jovens têm ampliado o seu repertório e a apropriação dos recursos digitais e tecnológicos, tendo a comunidade em que vivem como pano de fundo para suas produções e desenvolvimento de projetos de vida e os efeitos positivos disso já podem ser vistos na vida do adolescente.
A superação da timidez, a descoberta da tecnologia como um interesse profissional e educacional e as lições aprendidas durante a vida serviram de referência para Wesley pensar no seu futuro e no lugar onde vive. O seu projeto, chamado Segurança na Periferia, tem como propósito orientar e auxiliar moradores de regiões periféricas a como se portar durante abordagens policiais e revistas realizadas. Tudo isso por intermédio de um aplicativo e um site que explica os direitos e os deveres tanto dos policiais como dos cidadãos durante essas ocasiões. A ideia é diminuir os índices de violência policial na periferia e tornar as relações entre comunidades e policiais cada vez mais amistosas e pacíficas.
Wesley explica que, além de para se descobrir com a tecnologia, a iniciativa Trilhas Digitais foi importante para que ele desenvolvesse outras habilidades. Para ele, poder se expressar também era um desafio e a participação no projeto tem ajudado a superar mais essa dificuldade. Ele explica que, para apresentar “Segurança na Periferia”, ele chegava em casa e colocava o celular para gravar e, assim, treinava seus discursos, ouvindo-os e vendo pontos de melhoria.
“Na escola, eu sempre fui aquele menino que ficava lá atrás na hora de apresentar os projetos. Agora, eu me sinto mais preparado e mais confiante!”

Ele conta, ainda, que poder ter participado do Trilhas Digitais ajudou não só a pensar sobre uma futura carreira como também criou um sonho: o de impactar a vida de outros jovens periféricos. “Eu tenho o sonho de abrir uma ONG, de ensinar programação para jovens de favela também. Quero que eles tenham oportunidades”, diz o adolescente.
Wesley acredita que é por meio de oportunidades como a que ele teve, no Trilhas Digitais, que conseguirá transformar a vida de mais jovens nas periferias. “Na periferia existe muita gente inteligente, que é esforçada, gente que faz tudo, mas por falta de material, de oportunidade, não consegue mudar de vida. Eu quero mostrar que dá pra mudar”, conclui, determinado.