Uma flauta a serviço da educação em Roraima
Keynner, de 17 anos, encontrou proteção e aprendizagem no Súper Panas, espaço para crianças e adolescentes refugiados e migrantes. Com sua flauta, ele apoia o professor nas aulas

“Eu não conhecia o espaço Súper Panas. Adorei quando descobri que eles davam curso de português! Percebi que o idioma era fácil de entender, e que a escrita é parecida com o castelhano. Agora, só falta eu aprender a falar”. É assim, com o sorriso tímido, que Keynner Alexander Gonzalez, 17 anos, comemora cada conquista desde que chegou ao Brasil, em junho do ano passado, com os pais e cinco irmãos. Todos vivem hoje no abrigo Waraotuma a Tuaranoko, local onde vivem mais de mil indígenas refugiados e migrantes em Boa Vista, estado de Roraima.
Os Súper Panas são espaços criados para que crianças e adolescentes possam retomar a infância em meio à difícil experiência de deslocamento forçado. Lá, recebem apoio psicossocial, educação não formal e proteção contra a violência. O projeto é uma iniciativa do UNICEF Brasil em parceria com o Instituto Pirilampos e AVSI Brasil.
Keynner logo percebeu que poderia usar o seu talento como flautista para apoiar o professor do espaço. “As crianças não estavam prestando atenção no que o professor falava, então comecei a tocar flauta, todos se sentaram boquiabertos e começaram a prestar atenção”. Resultado: virou voluntário para apoiar as classes.
Hoje, no estado de Roraima, mais de 6 mil pessoas estão abrigadas nas instalações da Operação Acolhida – resposta humanitária liderada pelo Governo Federal e parceiros, incluindo UNICEF, para responder ao fluxo migratório da Venezuela.
O adolescente aguarda agora a data para fazer a prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), prova criada para certificar competências e conhecimentos de pessoas que não concluíram o ensino fundamental ou o ensino médio na idade adequada. “Abri minha primeira conta de e-mail e agora posso me inscrever no exame. Estou muito emocionado para começar a estudar”, afirma.
“Esse lugar é muito agradável, nos atendem bem e nos protegem, aqui é tranquilo. A única coisa de que não gosto é que faz muito calor em Boa Vista, por mais que a gente se refresque no banho, ainda é muito quente”, diz ele.

Keynner é um rapaz de muitos sonhos. “Meu sonho é ser padeiro, porque meus tios são padeiros. Eles fizeram um curso de padaria e me ensinaram algumas coisas. Além de padeiro, meu sonho é ser músico e pintor”.
Em busca de novos horizontes
“Eu vivia em San Ignacio de Yuruani, cercado pelas montanhas e recebíamos a visita de muitos turistas. Era um lugar muito agradável, mas, quando chegou a crise econômica, nós tivemos que buscar uma maneira de conseguir nosso alimento. Na mesma época, minha irmã de 10 anos teve um câncer na cabeça, então pegamos tudo o que tínhamos, roupas e documentações e viemos para Boa Vista em busca de tratamento”, relata.
“Hoje, me sinto feliz no Brasil, temos um lugar para ficar, temos comida e proteção. Aqui me sinto seguro com minha família, tenho apoio de todos”, conclui Keynner.
Sobre a estratégia Súper Panas
O UNICEF apoia o poder público e trabalha com a sociedade civil para garantir os direitos de crianças e adolescentes refugiados e migrantes a educação e proteção. Com isso, foram criados os espaços chamados Súper Panas – que significa “super amigos” em espanhol.
Com 26 espaços abertos hoje, os Súper Panas em Roraima, no Amazonas e no Pará já atenderam mais de 45 mil crianças e adolescentes com atividades educacionais não formais, ações de proteção da criança contra a violência e de apoio psicossocial. A estratégia conta com o apoio financeiro do Governo dos Estados Unidos e da União Europeia, por meio do Escritório para População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos (PRM, na sigla em inglês) e do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (Echo, na sigla em inglês).
Nesses espaços, meninos e meninas podem retomar a infância e são apoiados para acessar a rede pública de ensino, encontrando um espaço seguro para continuar crescendo.