Todo dia Gabriel chega sorrindo à escola

Gabriel Xavier, 11 anos, está animado com o retorno às aulas presenciais na EMEF Jornalista Millôr Fernandes, em São Paulo, que tem buscado ativamente seus alunos

UNICEF Brasil
Foto mostra um menino sorridente olhando para a câmera. Ele está sentado em uma cadeira de rodas. Atrás dele há um painel com papéis coloridos escrito Semana da Inclusão.
UNICEF/BRZ/Nego Júnior
28 outubro 2021

Gabriel Dias Xavier tem 11 anos e está no sétimo ano do ensino fundamental da EMEF Jornalista Millôr Fernandes, localizada no Parque Regina, Zona Sul da cidade de São Paulo. Ele é um dos mais de 830 estudantes do 1º ao 9º ano que frequentam a instituição, que está a todo vapor com a retomada das aulas presenciais.

É impossível não notar a animação de Gabriel ao chegar à escola. Ele, que possui paralisia cerebral, decorrida de uma anoxia durante o parto, usa a comunicação alternativa para se expressar. Quando perguntado sobre o retorno presencial às aulas, demonstra euforia batendo palmas e apontando para o emblema da escola na camiseta do uniforme. Na escola e nas horas livres, ele adora as atividades com bola e, em casa, gosta de assistir à TV, principalmente vídeos de música e de animadores de festa. “Apesar de não ser a mesma coisa e de ter sido difícil a adaptação no início da pandemia, o remoto até que funcionou bem, mas depois ficou cansativo. Gabriel estava com muita saudade da escola. Quando ele voltou, no primeiro dia, eu já percebi que ele ficou feliz. Fez muito bem para ele voltar”, afirma Maria José de Lima Dias, mãe de Gabriel.

De março a julho de 2021, a EMEF Jornalista Millôr Fernandes implementou diferentes ações de retorno gradual, oferecendo atendimento para que os estudantes tirassem dúvidas e recebessem dicas de estudo ou disponibilizando aulas presenciais para quem tinha dificuldade com o ensino remoto.

As aulas presenciais para todos os alunos foram retomadas em agosto em regime híbrido. Para manter os protocolos de distanciamento, a escola foi dividida em três grupos. Estudantes com crachá laranja e verde alternavam os dias de presença na escola e os com crachá roxo podiam ir todos os dias, pois não tinham com quem ficar em suas casas ou, por algum outro motivo, precisavam retomar o ensino presencial diário com mais urgência.

Foto mostra uma mulher sentada atrás de uma mesa, dentro de uma sala. Ela está apoiando os cotovelos na mesa e olhando para a câmera. Atrás há uma janela grande e cortinas. A mulher usa máscara.
UNICEF/BRZ/Nego Júnior

“A escola é um espaço de proteção. Protege contra violências sofridas dentro de casa, protege contra a fome. Se antes os cientistas e médicos estavam se esforçando para cuidar dos doentes e desenvolver a vacina, agora é a hora de nós, os professores e profissionais de educação, incentivarmos crianças e adolescentes a voltarem para a escola”

Clélia Gomes Trindade Fernandes, diretora da EMEF Jornalista Millôr Fernandes

Segundo a diretora da escola, Clélia Fernandes, o retorno seguro das atividades escolares beneficia todos, sem exceção. Hoje, a EMEF Jornalista Millôr Fernandes possui 33 alunos com deficiência e, para garantir o retorno seguro, criou uma estratégia de acolhimento em parceria com o Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (Cefai), responsáveis e professores. Em um primeiro momento, foram recebidas crianças com mais autonomia de locomoção para, assim, manter o distanciamento necessário. A partir de setembro, a escola passou a receber todos.

“Fica evidente o olho deles brilhando ao chegar na escola. O processo pedagógico de maneira geral ocorreu no online, mas o espaço da escola oportuniza a humanização e a possibilidade de contar um com o outro, que é tão essencial para o desenvolvimento”, explica Catia Cristina Ramalheiro, professora de Gabriel e que, durante toda a pandemia, desenvolveu atividades específicas para cada criança e as entregava em casa quando os pais não conseguiam buscar.

Busca ativa constante
A cidade de São Paulo aderiu, no segundo semestre de 2021, à Busca Ativa Escolar – metodologia e plataforma desenvolvida pelo UNICEF, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

A ferramenta é uma importante aliada no enfrentamento da evasão escolar. A busca intencional e constante pelos alunos da EMEF Jornalista Millôr Fernandes começou desde o início da pandemia, quando a escola desenvolveu um ranking de participação dos estudantes, pontuando quem estava frequente e/ou fazia as tarefas e atividades propostas. Caso a coordenadoria pedagógica percebesse que o estudante estava ficando distante, os responsáveis eram chamados para conversar.

“Entendemos que os responsáveis que não vinham buscar as atividades na escola ou não estavam acompanhando as tarefas dos alunos era porque tinham uma preocupação maior. Ou tinham perdido um familiar para a covid-19 ou não tinham o que comer. Na hora que falta o básico, como o alimento e a moradia, a educação cai na prioridade da família. Por isso, nosso trabalho foi o de acolher, ouvir as histórias, olhar no olho de cada um. Temos raros casos de evasão no momento”, afirma Clélia, diretora da instituição.