“Quero ajudar as pessoas no Brasil”
Froilan Perez migrou da Venezuela e hoje participa das iniciativas de Santarém (PA) para promoção de oportunidades, proteção e prevenção de riscos

Foi em 2019, da cidade de Santa Elena de Uairén, no sul da Venezuela, que o adolescente da etnia warao, Froilan José Cardona Perez, na época com 13 anos, partiu de ônibus, junto com o pai, e percorreu cerca de 20 quilômetros até a fronteira com o Brasil. De lá, ambos seguiram, de táxi, para a cidade de Boa Vista (RR) em busca de acolhimento. A primeira parada do adolescente na capital de Roraima foi o abrigo para indígenas Janokoida, que, em warao, significa “casa grande para todos”.
O próximo destino da dupla foi então o município de Santarém, no Pará, onde, assim que chegaram, foram encaminhados para o abrigo municipal e vivem lá até hoje, juntamente com a mãe de Froilan, que chegou há dois anos. “Logo que cheguei, era tão difícil entender o português, mas no abrigo havia um cacique que falava o idioma warao. Isso ajudou muito”, recorda o adolescente.
Na Venezuela, Froilan frequentava a escola da comunidade em que vivia. Em Santarém, ele retomou os estudos, passando a frequentar uma escola específica para migrantes indígenas em processo de adaptação. Hoje, na parte da manhã, está matriculado no sistema de ensino regular do município. Ele adora os conteúdos de língua portuguesa, língua inglesa e história. Na parte da tarde, o adolescente participa do Programa Jovem Aprendiz, atuando no próprio abrigo como intérprete, realizando trabalhos administrativos, como arquivamento de documentos, entre outros, fruto de uma parceria da gestão municipal de Santarém com o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), na qual adolescentes e jovens podem se inserir no mundo do trabalho de maneira decente e receber uma bolsa.
Santarém é um dos municípios da Região Norte do País que integra o Selo UNICEF, iniciativa que, entre os resultados sistêmicos, contempla a garantia de oportunidades de educação, trabalho e formação profissional para adolescentes e jovens. Além disso, a cidade aderiu, em 2022, ao Um Milhão de Oportunidades, outra iniciativa do UNICEF.
“O Selo UNICEF não é só uma certificação de ações: é a mudança, o fortalecimento e a inovação de políticas públicas para que gestores possam tomar decisões mais assertivas, principalmente nos indicadores da infância”, destaca Roselene Andrade, articuladora do Selo UNICEF em Santarém e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdca).
Apesar de sentir saudades da Venezuela e da parte da família que lá ficou, Froilan gosta de morar no Brasil. “Aqui é melhor. Lá não era fácil conseguir comida e o dinheiro estava valendo muito pouco”, conta. Sobre os seus sonhos, o adolescente, que diz ser fã da cantora Anitta, deseja cursar uma faculdade de Serviço Social. “Quero ajudar as pessoas”, afirma.
Enfrentamento ao trabalho infantil
Além de para a promoção de oportunidades para adolescentes e jovens, Santarém vem trabalhando para a prevenção e resposta às violências contra crianças e adolescentes – resultado também previsto no Selo UNICEF. Para isso, em 2020, após identificação de 49 casos de trabalho infantil na região do Porto dos Milagres, fruto de um levantamento realizado no período 2018 a 2020, o município lançou o Projeto Transformar Vidas, com o objetivo de atender crianças e adolescentes, de 5 a 16 anos, em situação de trabalho infantil.

Porto dos Milagres, área em que os barcos ancoram em Santarém, é onde as famílias de pescadores artesanais, que vivem da pesca de canoa, acabam envolvendo todos os membros nessa atividade. Geralmente, os homens pescam, as mulheres cuidam das bancas e as crianças e os adolescentes assumem funções como a venda de peixe, a vigilância de carros, entre outras. Em alguns casos, a situação de trabalho infantil se soma a outras violações de direitos, como a exploração sexual.
Foi assim que em 2020 o município estabeleceu um local com atividades na região no contraturno da escola, oferecendo aulas de musicalização e artesanato. “Aos poucos ganhamos a confiança das famílias, que agora trazem também outras crianças, disseminando essa oportunidade para mais famílias. Além disso, os cuidadores relatam que houve uma melhora das crianças e adolescentes atendidos na escola. Hoje, essas meninas e meninos têm a percepção de um futuro”, celebra a articuladora Roselene Andrade.