“Precisamos de locomoção para quem é da periferia”
Rebecca Barbosa, de 17 anos, quer impactar a agenda de mobilidade urbana da cidade do Rio de Janeiro e mudar a própria realidade

De segunda a sexta-feira, Rebecca Barbosa, adolescente de 17 anos que integra o projeto Geração que Move, pega uma kombi por volta das 6h30 para sair do Complexo do Alemão, onde mora, na cidade do Rio de Janeiro. Uma vez fora do bairro, ela pega mais um ônibus para chegar à escola, onde está cursando o 3º ano do ensino médio. Apesar do subsídio que o município dá a estudantes usuários do transporte público, reduzindo a tarifa durante a semana, o benefício não inclui a kombi, que não é regulamentada pelo governo.
A kombi e o mototáxi são as únicas opções para os moradores da comunidade, já que a prefeitura não opera transporte público no Alemão. E fora dali, os ônibus, sempre lotados, vêm registrando muitos atrasos. Além de gastar pelo menos R$200,00 por mês só com passagens de kombi para ir à escola, no fim de semana, Rebecca não pode contar com o subsídio da prefeitura. Qualquer passeio fica ainda mais caro e, por vezes, não acontece. “É completamente inviável gastar com isso todos os dias. No Geração que Move, eu aprendi que, por causa das dificuldades de mobilidade, a favela fica privada de se locomover e ter acesso a diferentes espaços. A gente não precisa somente se locomover para estudar ou trabalhar. A gente precisa também ter acesso à cultura", diz a adolescente.
O projeto Geração que Move tem por objetivo transformar a realidade de adolescentes e jovens ao engajá-los a impactar a agenda da mobilidade urbana de suas cidades e é realizado por meio de uma parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a ONG NOSSAS. Ao longo de 2022, a iniciativa formou cerca de 100 novos ativistas em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ) em temas, como mobilidade urbana, direito à cidade, criação de mobilizações online, escrita de narrativa, táticas criativas e design ativista, além de ter promovido visitas às Câmaras Municipais do Rio e de São Paulo, apelidadas de “rolezinhos”.
Rebecca conta que ficou encantada com a visita do Geração que Move à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que fica no Palácio Pedro Ernesto, repleto de obras de arte: “O tour foi surreal, adoro arquitetura antiga! E na hora do debate público sobre mobilidade com as vereadoras, fiquei muito interessada na análise interseccional da questão, quero continuar defendendo essa abordagem para todas as pautas em que me envolver”, conta.
Após as visitas às Casas Legislativas das duas cidades, o Geração que Move convidou os adolescentes e jovens para a criação de campanhas de mobilização relacionadas à mobilidade urbana. “A mobilidade para nós que somos periféricos é muito complicada. Sentimos muita falta de um transporte desenvolvido para aquele ambiente, pensado para quem mora lá”, afirma Rebecca.
“Moramos no topo do topo e é impossível se locomover via canela todas as vezes. O jovem também cansa, o jovem também está exausto. Seria legal se desenvolvessem políticas públicas visando à locomoção de quem mora na periferia”, finaliza a adolescente.