Por deslocamentos mais seguros para elas
Com o Geração que Move, Mariana de Sousa, de 18 anos, moradora de São Paulo, quer ajudar a enfrentar os desafios que as meninas encontram no transporte público

Mariana de Sousa tem 18 anos e mora desde que nasceu no território de São Miguel Paulista, localizado na Zona Leste da cidade de São Paulo. A jovem acredita que, por viver em uma área periférica, enfrenta desafios que vão além de as distâncias que precisa percorrer para acessar e ocupar determinados espaços, pois a esses desafios se somam as situações encontradas nos próprios trajetos.
A jovem recorda, por exemplo, que, durante a infância, não se deslocava tanto pela cidade, já que era matriculada em uma escola de bairro e acessava, segundo ela, os poucos pontos de lazer que existiam no próprio entorno de São Miguel Paulista. Com a chegada ao ensino médio, para alcançar suas metas, ela decidiu ingressar em uma das escolas técnicas estaduais de São Paulo (Etec), que ficava a uma hora e meia de trem de onde morava. “Sou baixinha, tenho 1,53 m, não alcanço os apoiadores do trem. Então, sempre me apoiava nos colegas para não cair com o balanço dos vagões”, relembra com humor.
Agora, estudante de Relações Públicas, ela conta que, ao frequentar presencialmente as aulas da universidade pela primeira vez por causa da pandemia da covid-19, sentiu que os obstáculos se agravaram devido ao desgaste mental por conta das horas de deslocamento e por tudo o que enfrentou durante a pandemia e por precisar calcular novas rotas com frequência em decorrência da falta de acessibilidade e de segurança contra o assédio.
Mas isso mudou quando Mariana entendeu que poderia tentar propor soluções para questões como essas ao participar do Geração que Move – iniciativa que tem por objetivo transformar a realidade de adolescentes e jovens ao engajá-los para impactar a agenda da mobilidade urbana de suas cidades e é realizada por meio de uma parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da ONG NOSSAS.
Foi participando do Geração que Move que a jovem conheceu mais sobre os problemas de mobilidade urbana que já lhe são comuns e soube que com organização e coletividade poderia agir sobre eles. Pensando nisso, na etapa final do programa, Mariana se juntou a um grupo majoritariamente de meninas pela mobilização chamada Vagão Delas. A proposta é que 50% dos vagões de trem, nos horários de pico, sejam prioritários para mulheres com o objetivo de criar ambientes com maior segurança para as usuárias e diminuir as taxas de assédio no transporte público. Em paralelo, também é sugerido que haja o reforço da segurança com guardas mulheres.

Além disso, em uma das etapas do Geração que Move, alguns dos adolescentes e jovens participantes tiveram a oportunidade de levar oficinas sobre o tema da mobilidade a escolas públicas da cidade para engajar os estudantes sobre as questões que eles atravessam e as mobilizações que poderiam surgir dali. Esse foi o momento mais marcante para Mariana. Sendo jovem, ela imaginava como os adolescentes poderiam responder, mas foi justamente esse fator que fez a diferença. “Foi muito engraçado, porque, quando eu cheguei lá, fui me sentar e conversar com eles antes de começar, para criar um laço”.
Mariana conta ainda que, durante a visita a uma escola, uma das alunas contou que a turma não gostava de palestras e costumava dormir durante propostas assim. No entanto, o que aconteceu foi o contrário. Mariana conta que os estudantes se identificaram com as pautas, assim como aconteceu com ela ao longo do programa, e foram muito participativos. “Jovem falando com jovem é outra coisa”.
A participação no projeto deixa algumas lembranças e reflexões. Para Mariana, fica a conclusão de que a mobilidade urbana é poder circular pela cidade e ao mesmo tempo poder fazer coisas legais também na periferia. Já sobre a importância de propor mudanças sociais, ela acredita que esse é um processo coletivo. Por isso, mesmo após a finalização do projeto, planeja continuar na mobilização do Vagão Delas e manter contato com as pessoas engajadas que conheceu.