Partiu pedagoga!
Ana Carolayne estava quase desistindo da escola, mas encontrou apoio, voltou a estudar e quer chegar à universidade

“Eu achei que não conseguiria, já estava até pensando em desistir da escola de novo. Mas não desisti e hoje estou feliz. Eu descobri uma inteligência enorme dentro de mim, que eu não sabia que eu tinha!”. Com um sorriso no rosto, a jovem Ana Carolayne Santana Gomes, de Propriá, Sergipe, conta sua trajetória. Aos 18 anos, em plena pandemia da covid-19, ela redescobriu o prazer de aprender graças ao Programa Sergipe na Idade Certa (ProSIC) – iniciativa da Secretaria Estadual de Educação, em parceira com o UNICEF e parceiros – e agora faz planos para a universidade.
Ana Carolayne chegou ao Colégio Estadual Coronel João Fernandes de Britto em 2019. Estava com 16 anos, cursava o 8º ano do ensino fundamental, e não via muito sentido na escola. Já estava em atraso escolar, morava na zona rural e foi deixando os estudos de lado. “No início daquele ano, comecei bem, mas passei a evadir. Eu não desisti de estudar, mas ia para a escola e não ficava na aula. Ficava nos corredores. Aí passei um tempo sem ir, passei mais de quatro meses sem ir para a escola”, conta ela, que acabou sendo reprovada.
A história poderia ter parado aí, e Ana Carolayne entraria para as estatísticas de fracasso escolar. Mas a história dela teve uma continuação diferente. “Em 2020, com a chegada do ProSIC aqui na nossa escola, a equipe gestora a convidou a retornar. Nós fizemos uma visita de campo e ela se interessou”, conta a professora Lécia Lima de Menezes Soares, de Língua Portuguesa.
“O ProSIC é um olhar diferenciado, voltado ao aluno que já está em distorção idade-série, com dois ou mais anos de atraso escolar”, explica a coordenadora pedagógica da escola, Alzira Carvalho Nery. Com práticas pedagógicas adaptadas à realidade desses estudantes, eles têm novas opções para avançar na aprendizagem e seguir em frente.
Entre os principais pontos do programa está uma disciplina chamada “Projeto de Vida”, em que os estudantes encontram apoio para traçar propostas de futuro e caminhos para alcançá-las. “Nós fazemos com que, por meio do Projeto de Vida, esse aluno tenha novas perspectivas, acredite no seu potencial e evolua cada vez mais nos seus estudos”, explica Ana Lúcia Muricy, diretora do Departamento de Educação da Secretaria Estadual de Educação de Sergipe, e uma das responsáveis pelo ProSIC no estado. “Nós temos exemplos inspiradores, feitos em parceria com o UNICEF, para a correção dessa distorção”, complementa Josué Modesto dos Passos Subrinho, secretário Estadual de Educação de Sergipe.
Educação na pandemia

A proposta do ProSIC conquistou Ana Carolayne, que voltou à escola no início de 2020. “Foi um momento em que eu já estava gostando de voltar a estudar, aí veio a pandemia”, conta a estudante. De um dia para o outro, a escola fechou as portas. A educação, no entanto, não parou.
Rapidamente, os educadores se organizaram para que a aprendizagem continuasse. Passaram a desenvolver estratégias, preparar material impresso e online, e criar formas de manter contato com todos. “A gente procurou não deixar solto esse aluno para que, novamente, não escapasse da gente”, explica Lécia. “No começo, eles forneciam as atividades na escola. Chegou um tempo em que não estava dando mais para pegar na escola. Aí, eles começaram a fazer as atividades em PDF, fizeram um grupo de WhatsApp e começaram a mandar. Eu comecei a fazer as atividades em casa, pelo celular”, conta Ana Carolayne.
O que parecia um desafio, se tornou uma nova oportunidade. Em casa, estudando via celular, Ana Carolayne descobriu uma capacidade enorme de concentração e uma nova relação com a aprendizagem. “Depois de um tempo, eu achei muito bom, porque eu descobri uma inteligência enorme dentro de mim, que eu não sabia que eu tinha”, comemora a jovem.
Chegado o final do ano, Ana Carolayne foi o grande destaque da turma. Aprendeu muito, foi aprovada e vai cursar o ensino médio em 2021. “Eu estou feliz, porque eu achei que não conseguiria. Já estava até pensando em desistir de novo. Se hoje está ruim para quem tem estudo arrumar um emprego, imagina para quem não tem? Eu costuro, eu faço maquiagem, fiz curso de bolo. Só que eu não vou querer ser uma coisa só para a minha vida toda. Eu vou querer buscar uma coisa melhor! Vou para o ensino médio, e estudar. Bater as metas para, enfim, concluir esse ensino médio. E partiu faculdade! Partiu pedagoga!”, afirma ela, com um grande sorriso no rosto.

Sobre a estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar
A estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar é uma iniciativa do UNICEF, do Instituto Claro e outros parceiros para o enfrentamento da cultura de fracasso escolar no Brasil. O objetivo é facilitar um diagnóstico amplo sobre a distorção idade-série no País, e oferecer um conjunto de recomendações para o desenvolvimento de políticas educacionais que promovam o acesso à educação, a permanência na escola e a aprendizagem desses estudantes. Além de as taxas de distorção e índices de abandono e reprovação, o site da estratégia disponibiliza recortes por gênero, raça e localidade que mostram as relações entre o atraso escolar e as desigualdades brasileiras.
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