"O Coletivo Menina Cidadã me abriu muitas portas"
Aírton Freitas, de 18 anos, é mobilizador do Coletivo Menina Cidadã, em São Luís, Maranhão

"A pandemia me fragilizou demais e estar dentro do Coletivo me ajudou a enfrentar diversas situações, tanto no conhecimento sobre saúde mental quanto no envolvimento com outros membros e membras", diz Aírton Freitas Monteles Filho, 18 anos, mobilizador do Coletivo Menina Cidadã, da Cidade Operária, em São Luís, no Maranhão, e conselheiro jovem do UNICEF.
O Coletivo Menina Cidadã reúne meninas e meninos afrodescendentes vindos da macrorregião da Cidade Operária/Cidade Olímpica que debatem suas realidades e buscam assegurar direitos para suas comunidades. É uma iniciativa da #AgendaCidadeUNICEF em parceria com a Fundação Justiça e Paz se Abraçarão para fortalecer as habilidades de lideranças jovens, conscientizando e mobilizando adolescentes para que possam exercer sua cidadania plena.
"Estive perto do Coletivo Menina Cidadã desde o começo de sua formação. A gente sempre entendeu que era necessário empoderar as meninas. Mas, com o passar do tempo, também percebemos como era importante incentivar e ensinar os meninos, para que eles participassem dessa luta de igualdade de gênero", diz Aírton.
Algumas temáticas ainda eram consideradas tabu. "A dignidade menstrual é ainda um tabu entre meninos e meninas, os jovens ficavam receosos em falar. Então, tivemos uma formação sobre como lidar com a temática. A princípio, os meninos achavam que não precisavam saber do tema, mas, ao entender que as colegas, mães, irmãs, primas também sofriam com a pobreza menstrual, eles se sensibilizaram e começaram a levar a informação também para os colegas e parentes", conta o mobilizador.
Dentro do Coletivo são discutidos diversos temas que afetam as juventudes. "Com a prática, a gente aprendeu que tinha que começar as rodas de conversa falando com os alunos e adolescentes sobre como foi a semana deles, como a gente estava se sentindo em relação a escola, família e faculdade. Passamos a falar abertamente também sobre nossas principais angústias e raivas, e que, geralmente, tinham a ver com violências como o machismo, o racismo e a LGBTfobia. Nesses espaços de confiança, essa conversa sincera era o que fortalecia o apoio entre pares para enfrentarmos juntos essas situações, evitando passar por isso de novo", relata o jovem.
"Se estou em lugares que me fortalecem, eu consigo contribuir para a sociedade. Se eu entendo variados temas, eu também entendo a violência e consigo denunciar. Se tenho uma base fortalecida, eu consigo contribuir com o meio", diz Aírton.
Atualmente, estima-se que há mais de 39 mil pessoas vivendo na Cidade Operária, um dos bairros mais populosos da capital São Luís. E, pela aplicação da mesma proporção de toda a capital, 32% são crianças, adolescentes e jovens menores de 19 anos, segundo o Censo 2022, ou seja, mais de 12 mil pessoas.
Com o Coletivo, o conhecimento ultrapassou os muros das salas de aulas, mobilizando a comunidade. Só no último festival antirracista em setembro de 2023, o Coletivo engajou mais de 3 mil moradores em ações de alta visibilidade. "Se você entende que é uma liderança e pode sensibilizar, você pode voar e ajudar outras pessoas a voarem. Para mim, é superimportante haver espaços de diálogo; existir uma pessoa para te ouvir e ajudar contribui e muito para o desenvolvimento dentro de casa, da escola e do trabalho. Esses espaços salvam vidas e isso não é clichê", finaliza o jovem.
Coletivo Menina Cidadã
Desde 2019, o Coletivo Menina Cidadã reúne meninas e meninos afrodescendentes que vivem na macrorregião da Cidade Operária/Cidade Olímpica, debatem sua realidade e buscam assegurar direitos para suas comunidades. Cerca de 250 meninas e meninos já participam das ações do Coletivo. Entre esses, 30 são líderes-multiplicadores, que se dividem entre organizar festivais de arte e engajamento antirracista no bairro, realizar oficinas de inovação e liderança, distribuir absorventes nas áreas mais vulneráveis do território, atuar como tutores de outros adolescentes e jovens em atividades como as aulas de inglês em parceria com o 1MiO, conduzir rodas de conversa sobre saúde menstrual, violência de gênero, racismo e empoderamento feminino, além de participar de reuniões com autoridades e tomadores de decisão para incidir em políticas públicas em favor de crianças e adolescentes. Para a iniciativa, o UNICEF conta com a parceria estratégia da RD-RaiaDrogasil.