“Não vejo a hora de ir para casa”
Participante da Semana do Bebê no Degase, no Rio de Janeiro, a adolescente quer uma segunda chance com sua filha e sua família

É a sua primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, vinda de um município pequeno do Mato Grosso do Sul, onde vive com sua família. Mora com sua mãe, que é dona de casa, seu pai já aposentado, mais duas irmãs, um cunhado e três sobrinhos. Veio sozinha... e há duas semanas está na unidade de internação socioeducativa do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). Tem esperança de ser liberada na primeira audiência e poder voltar logo para casa, a tempo do primeiro aniversário da sua filha.
“Me casei com 15 anos, mas me separei no ano passado”. A gravidez não foi planejada, e demorou a perceber que estava gestante. Com a confirmação da notícia, sua mãe propôs ficar com a guarda, mas ela não quis...“Era minha filha”. O pai da criança apoiou a decisão, e a bebê foi registrada com nome da adolescente e do pai.
Como adolescente, mãe, indígena, ela sente os desafios se somarem. “No posto de saúde, me deram bronca por ter engravidado. A gente não tem muito apoio”. Mesmo sua mãe ajudando, os primeiros meses foram puxados... “Eu amamentei, mas não conseguia dormir; faltava dinheiro para as fraldas”.
Na época do nascimento, ela já não estava estudando. Tinha parado durante a pandemia. “Estava fazendo 6º e 7º ano do ensino noturno e ficou muito difícil fazer online. Eu não entendia nada”. Com o retorno das aulas presenciais, está decidida a voltar para a escola.
Além da escola, sabe muito bem o que vai fazer assim que conseguir voltar para casa: organizar uma festa de aniversário para sua bebê, dar um longo abraço na sua mãe e começar a trabalhar. “Quero uma oportunidade como aprendiz”.
Pensar nas mudanças adiante foi algo que gostou de fazer durante a oficina de “Árvore da Vida” realizada pelo UNICEF durante a Semana do Bebê no Degase – iniciativa realizada para chamar atenção para os direitos de adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa, das gestantes, mães, pais, suas filhas e seus filhos.
“Quero dar um futuro para minha filha, que ela possa ser alguém na vida, estudar, fazer um curso.” – E para você, o que você sonha? “Pra mim? Quero ser advogada ou juíza. Quero defender as pessoas que precisam”.
Sobre a Semana do Bebê – De 9 a 11 de agosto, ocorreram diferentes atividades com gestores e técnicos, bem como adolescentes nas unidades masculinas e femininas de internação. O tema de 2022 foi “Relações familiares, saúde mental e socioeducação”. Iniciada em 2016, a Semana do Bebê acontece numa iniciativa do Degase, em parceria com o Tribunal de Justiça, o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública, bem como organizações da sociedade civil e universidades, além do UNICEF. Realizada anualmente, a Semana do Bebê chama atenção para os desafios vividos por gestantes, mães, pais e seus filhos e filhas. O objetivo é estimular o desdobramento das discussões, com avanços concretos na vida das mulheres, dos adolescentes e das crianças. Saiba mais.