“Não é um diagnóstico que vai te parar”

Ricardo Mello, de São Paulo, é ativista há mais de 10 anos para a prevenção do HIV/aids e o fim do preconceito

UNICEF Brasil
Foto mostra um jovem usando terno e gravata apoiado em um peitoril. Ele olha para a câmera sorrindo. Ao fundo, está a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional e a Catedral Metropolitana de Brasília.
UNICEF/BRZ/César Tadeu
01 dezembro 2021

Desde os 18 anos, Ricardo Mello luta para levar informações sobre HIV/aids para adolescentes, jovens e todos a sua volta. O jovem começou atuando como agente de prevenção do HIV em um Centro de Testagem e Aconselhamento em São Paulo, onde vive. “Daí fui crescendo, fui conhecendo o movimento, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e fui começando a dar várias palestras”, conta. Hoje, com 28 anos, o jovem entrou de cabeça na luta contra o HIV/aids: é ativista da Rede Jovens SP+, que busca acolher adolescentes e jovens vivendo com HIV na cidade. Sua trajetória o levou a Brasília, no final de novembro, para o encontro nacional Se Liga Jovem+, seminário promovido pelo UNICEF por meio do programa Viva Melhor Sabendo Jovem.

“Quando eu entrei nessa causa, foi para mostrar que as pessoas conseguem, que não é um diagnóstico que vai parar a vida delas. Que elas conseguem crescer na vida, ir atrás do seu objetivo, e que o importante de tudo é o acolhimento”, diz Ricardo. O acolhimento de jovens vivendo com HIV desde o primeiro dia de diagnóstico é uma das principais lutas do ativista, para garantir que esses jovens poderão receber informação e procurar ajuda. Mas, para além disso, Ricardo defende que o acolhimento é capaz de ajudar a enfrentar um grave problema: o preconceito. “Muitas pessoas não têm a sorologia aberta, porque existe preconceito, estigma, que a gente sabe que é uma batalha diária”, explica. Por isso, é preciso tomar ação, e ele quer que ela venha dos próprios jovens.

Foto mostra um jovem segurando um microfone e falando. Ele usa máscara.
UNICEF/BRZ/César Tadeu

A importância da informação
Para dar o primeiro passo para acabar com o preconceito, segundo Ricardo, é necessário algo muito importante: informação. “Hoje em dia, falta muita informação. Os jovens estão desinformados, não sabem o que está acontecendo, acham que a epidemia de aids não existe mais, e não têm medo de se infectar”, diz. Ele lembra que, muitas vezes, o tema do HIV/aids surge apenas durante datas comemorativas, como o Dia Mundial da Aids, na Parada do Orgulho LGBTQIA+, ou no carnaval. “Mas não podemos frisar só esses meses, e precisamos passar pra população que as pessoas que hoje vivem com HIV conseguem ter uma vida normal”, defende.

Por isso, Ricardo decidiu tomar ação e abordar o tema também no seu local de trabalho. Ele atua na área de Recursos Humanos, e sempre que possível leva palestras, conversas e materiais sobre o HIV para os funcionários. Ele acredita que esse tipo de atitude é importante tanto para que as pessoas tenham a preocupação de realizar a sua testagem quanto para que saibam mais sobre o tema para quebrar estigmas. “Se todo mundo tiver informação, as pessoas não vão julgar uma pessoa que vive com HIV”, explica.

Foto mostra uma roda de jovens conversando. Eles estão sentados em cadeiras em círculo. Todos usam máscara.
UNICEF/BRZ/César Tadeu

Durante o encontro nacional Se Liga Jovem+, Ricardo se reuniu jovens que participam do Viva Melhor Sabendo Jovem e de outras iniciativas de resposta ao HIV/aids em sete capitais, para discutir e formular planos de ação, além de trocar experiências. O evento foi realizado alguns dias antes do Dia Mundial da Aids, 1º de dezembro. “Eu estou aqui para lutar pelo objetivo de ter mais conhecimento, demonstrar que precisamos ter ajuda um do outro, e mostrar que precisamos passar isso para as pessoas”, disse o jovem.

Durante os dois dias de evento, Ricardo pôde apresentar as ações que tem tomado em São Paulo para informar e acolher jovens vivendo com HIV, como as parcerias estratégicas que tem estabelecido para divulgação de materiais sobre prevenção pelas redes sociais, além de poder conhecer iniciativas de outros estados para levar como inspiração.

Agora, depois de tantos anos lutando pela causa e feliz com as conquistas, Ricardo aproveita para deixar um recado para cada adolescente ou jovem vivendo com HIV: “É motivador e importante saber que a pessoa está bem e aceitou sua situação. Nada na vida acontece por acaso, tudo tem um porquê, e não é um diagnóstico que vai te parar!”, completa, e cita uma frase que sempre o inspira: “As grandes lutas são dadas a grandes soldados”.